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Michelle e Eduardo Bolsonaro na véspera da posse de Donald Trump25 de janeiro de 2025 | 15:42Direita se reorganiza com Trump, e Washington vira palco de disputa política do Brasil
A posse de Donald Trump nos últimos dias como presidente dos Estados Unidos levou a um encontro de nomes da direita mundial no país, que passará a ser usado ainda mais por bolsonaristas na disputa política do Brasil.
A volta de Trump ao poder é vista como um fortalecimento da direita radical no mundo e uma oportunidade de reorganização do campo. Ainda que isso não signifique vitórias práticas, como a reversão da inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), a chegada do republicano à Casa Branca serve, na opinião de parlamentares, para ecoar a narrativa conservadora e pressionar o Brasil.
A direita tem ocupado espaços que no passado eram mais explorados no Brasil por políticos à esquerda, como comissões de direitos humanos do Congresso americano e da OEA (Organização dos Estados Americanos). Alguns deputados brasileiros defendem que a esquerda também volte a atuar junto a parlamentares americanos e a outros órgãos para não deixar a narrativa dos adversários ganhar corpo sozinha.
Na última semana, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro frequentaram alguns eventos que marcam o retorno de Trump à Casa Branca. Uma caravana de congressistas bolsonaristas também esteve nos Estados Unidos.
Eduardo mal voltou ao Brasil e já tem nova previsão de viagem aos EUA, para um evento do Cpac (Conferência de Ação Político Conservadora), em Washington, em fevereiro.
Ele também pretende abrir um escritório internacional do PL em Miami ou então fechar parcerias com americanos para ter um local fixo de despacho nos EUA.
Eduardo participou de eventos durante a semana com nomes do alto escalão do Partido Republicano e outros nomes da direita, como o presidente da Argentina, Javier Milei, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, Sebastian Abascal, líder do partido populista de direita da Espanha Vox.
O filho de Bolsonaro conversou com aliados de Trump a respeito da situação do pai. A tese entre líderes da direita é que o ex-presidente e aliados sofrem perseguição. O ex-mandatário foi convidado para ir à posse de Trump, mas não teve o passaporte liberado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Bolsonaro foi indiciado em três inquéritos: sobre um esquema de fraude no seu cartão de vacina, em outro sob a acusação de ter tentado vender no exterior joias recebidas de presente e ainda por supostamente ter participado de uma trama para impedir a posse de Lula (PT).
À Folha Eduardo aponta que a maioria republicana na Câmara e no Senado são ativos para tentar aprovar projetos de interesse do Brasil e ecoar a narrativa. “A gente estava com uma abertura muito boa na Câmara dos Deputados, que era de maioria republicana. Agora a gente também tem o Senado e tem a administração Trump”, disse.
“Eu pretendo retornar para continuar algumas tratativas. Alguns pontos [importantes para a agenda bolsonarista] devem caminhar naturalmente. Um deles seria o caso do Filipe Martins, porque é um caso ali de segurança nacional.”
Martins ficou preso por seis meses por determinação de Moraes no ano passado. O ministro citou que o ex-assessor de Bolsonaro teria viajado aos EUA no fim de 2022 com o ex-presidente. Martins, porém, nega que tenha viajado.
O nome de Martins, porém, teve a entrada no país registrada pelo serviço de imigração americano. Eduardo já disse considerar que houve fraude no caso e espera consiga esclarecer os registros.
Aliados de Bolsonaro acreditam que Trump poderia tomar uma medida drástica, como cassar o visto americano de Moraes, ou mesmo agir de alguma forma para facilitar a reversão da inelegibilidade do ex-presidente. Ambas as medidas, porém, são custosas e difíceis de serem concretizadas.
Trump disse após a posse que o “Brasil precisa mais dos EUA” do que o contrário. Suspender o visto de um ministro da Suprema Corte, no entanto, geraria um desgaste diplomático entendido como desnecessário por analistas.
Além disso, o presidente dos EUA também não tem meios para interferir nas investigações que o ex-presidente enfrenta na Justiça brasileira. Ele pode, avaliam bolsonaristas, pressionar com ameaças de tarifas e sanções ao Brasil, mas, para políticos brasileiros, isso não seria suficiente para alterar o rumo da ação.
“Os Estados Unidos, certamente, se seguir adiante as promessas de campanha do Trump de combate à censura e de fortalecimento da democracia, que nada mais é do que o retorno à tradição dos Estados Unidos de exportar a democracia e liberdade para o mundo inteiro, isso já nos beneficia”, avalia Eduardo.
Ele aposta na troca do embaixador dos EUA no Brasil para fortalecer o grupo. Eduardo também diz que usará ainda mais o espaço da OEA, onde parlamentares têm reclamado das penas aplicadas aos acusados pela invasão e ataque às sedes dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
“Se a OEA realmente não atentar para essas causas de direitos humanos, essas violações que estão ocorrendo no Brasil, ele é capaz de sair da OEA, tal qual também saiu da OMS [Organização Mundial da Saúde]”, diz.
No final do ano passado, deputados brasileiros de esquerda estiveram em Washington para agendas em órgãos internacionais e com parlamentares e defenderam um reforço na articulação nos EUA.
“Depois que a direita descobriu os caminhos para se fazer ouvir aqui, eles estão explorando, então, mais importante do que nunca a esquerda se fazer presente. Os democratas, os progressistas, devemos, eu diria, intensificar os contatos”, avalia o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).
“Eles que são, digamos, antiglobalistas, como eles se definem, então eles começam agora a se organizar como uma internacional de extrema direita, buscam seus pares no mundo inteiro”, avalia.
Julia Chaib/FolhapressPoliticaLivre