Francisco Leali
Estadão
A semana que começou com o burburinho da posse de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos vai chegando ao fim com indicações de que os laços diplomáticos com o Brasil caminham para minguar. O distanciamento entre os dois países começou a ser esboçado ainda na campanha, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apostou em Kamala Harris e proferiu palavras desabonadoras ao candidato do partido Republicano.
Lula já foi o presidente que Barack Obama chamou de “o cara”. Também desfrutou da simpatia do republicano George Bush. A relação que o brasileiro conseguiu manter com dois presidentes de partidos norte-americanos diferentes ficou, no entanto, para a história. Os ventos que hoje rondam Washington são bem outros e o petista já deve ter notado.
PASSAR A LIMPO – Trump assumiu com sanha de passar a limpo os quatro anos que perdeu ao ser derrotado por Biden na eleição pós-pandemia. A gestão do presidente dos EUA tende a por Lula no fim da fila de suas prioridades.
A equação que se desenha para a relação entre os dois países pode ser um espelhamento do que ocorreu nos anos Jair Bolsonaro quando Biden estava no cargo.
Para o Planalto não havia salamaleques, acesso direto e fácil, nem boa vontade na gestão do democrata. Foi justamente no governo Biden que os EUA despacharam para o Brasil uma série de autoridades civis e militares para mandar recados claros de que o resultado das urnas em 2022 deveria ser respeitado por aqui.
NO FREEZER – Agora, será a vez de Lula experimentar da mesma diplomacia de geladeira dispensada a Bolsonaro. Pelo andar da carruagem, não se deve esperar da relação de Trump com Lula ligações telefônicas, rapapés ou troca de mesuras comuns no mundo diplomático.
Os dois podem até se esbarrar em setembro na Assembleia Geral da ONU, quando, por praxe, o presidente brasileiro faz o discurso inaugural e o dos EUA fala logo em seguida. Mas até o momento não há nada que permita conceber fidalguia entre os dois chefes de Estado.
As relações comerciais podem até se manter no mesmo ritmo. Mas as pretensões brasileiras de protagonismo na diplomacia internacional perdem um canal de diálogo com Trump. Nos próximos dois anos, a julgar pelo que um e outro já declararam, as portas da Casa Branca devem ficar fechadas para o governo Lula.