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domingo, dezembro 29, 2024

Educar pelo porno-exemplo é a verdadeira pedagogia democrática

 

Educar pelo porno-exemplo é a verdadeira pedagogia democrática

A imagem apresenta um jovem indígena com pele azul e um cocar dourado, cercado por arame farpado. Ao fundo, há um padrão de linhas verdes e elementos como uma mão segurando uma caneta, um objeto em forma de lâmina com um crânio, e um engrenagem. A composição sugere temas de opressão e resistência.

Ilustração de Luciano Veronezi

Conrado Hübner Mendes
Folha

Chegou o gran finale magistrale! O JusPorn Awards nasceu da indecência e dela tira sobrevivência. Santos do pau oco nos encantam. Não há recato ético, estético ou higiênico. Moralistas, esteticistas e higienistas que se danem. Não agregam valor à sacanagem.

A juspornografia goza na perversão. O JusPorn Awards goza na chacota. Porque não há assunto que desmereça a galhofa. Porque o discreto charme da magistocracia continua a refinar nossos instintos morais e sensuais, a nos educar pelo porno-exemplo. Viva a pedagogia democrática!

PROMISCUIDADE – Já celebramos a farra das finanças e os festivais de arranjinhos nos buracos da vida privada. É na promiscuidade que se forja nossa parcialidade.

Hoje tratamos da capacidade magistocrática de se acovardar e perpetuar sofrimento de vulneráveis. Não é qualquer um que renuncia tão barato o dever de proteger direitos. A covardia é conquista de caráter. Nossos fazendeiros continuam a cobrar indenização pela abolição de 1889. E contrataram a magistocracia. A venalidade de baixo calão é virtude juspornográfica!

Nossos premiados não são só capazes de expropriar recurso público e lamber dinheiro privado, de namorar o poder corporativo e seviciar o conflito de interesses. O JusPorn premia também a meticulosa arte jurídica de estuprar direitos.

EMASCULAÇÃO – O ano teve epidemia de emasculação precoce. Juspornógrafo despreza a juíza que pede paridade de gênero no tribunal, a ministra que fala, a desembargadora que existe.

Vibramos com o ministro do STJ que impediu fala de ministra, com os juízes quase-desembargadores que resistem à promoção de desembargadoras demais. E nos juntamos ao desabafo do desembargador do TJ-PR: “A mulherada tá louca atrás de homem”.

Festejamos a Justiça Federal por absolver Samarco, Vale, VogBR e BHP Billiton, além de diretores e técnicos, pelo maior desastre ambiental da história do país. Por “ausência de provas suficientes” dos crimes de inundação, desabamento, lesão corporal ou qualquer crime ambiental. O JusPorn não aguenta as provas suficientes!

TIRO AO NEGRO – Nosso reconhecimento aos ministros do STM pela absolvição de oito militares que dispararam 257 tiros contra Evaldo Rosa e acertaram 82. Por acidente, o homem preto da cena morreu. O JusPorn sabe que a coragem militar está para a coragem; a inteligência militar está para a inteligência; e a honestidade militar está para a honestidade como a Justiça Militar está para a justiça.

O STF tem se dedicado a converter Justiça do Trabalho em Justiça facultativa. Modernos, concedem a liberdade da vida precária a motoqueiros empreendedores de si mesmos. Abaixo as proteções sociais!

Três ministros do STF reuniram-se com Bolsonaro nos dias em que se planejava um “coup”. Renato Terra os chamou de “new kids on the golpe”, mas o JusPorn prefere “ministros interlocutores do coup”.

ACULTURAÇÃO – O STF também impõe modernização a povos indígenas. Abriu mesa de negociação de direitos, uma “peace talk” entre a espada e o pescoço, técnica sado-colonialista que promove a liberdade de milicianos da cidade, do campo e da floresta. Tua terra, minhas regras!

Nenhuma nudez judicial será castigada. Toda desfaçatez magistocrática será louvada!

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PS: O JusPorn Committee agradece a Luciano Veronezi pela arte sem vergonha que coloriu esses três capítulos. Temos ilustrador do Roda Viva! (C.H.M.)


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