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segunda-feira, dezembro 30, 2024

É possível sentir um ambiente natalino mortiço no morro do Vidigal


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No Vidigal, este ano não fizeram a iluminação de Natal

Janio de Freitas
Poder360

Um sinal enigmático. Forte, por certo. Sem precedente, sem indício preliminar. Esse Natal encerrou a quarta década em que vi formar-se e crescer com o tempo um cenário luminoso, sobre o fundo escurecido da noite. Pontos luminosos, delicados, de muitas cores, uns estáticos, outros em piscar sem fim, ainda outros em vai e vem de corridas loucas.

Um jardim de luzes dado às noites de nossa classe média pelos vizinhos, nem tão perto nem distantes, moradores da desigualdade social.

Em quatro décadas, as poucas casinhas deixaram de ser o Tambá, nome legado pelos indígenas que aí catavam esse marisco miúdo, e se tornaram a favela do Vidigal. Construções projetadas pelo talento de Sérgio Bernardes (1919-2002) ficaram só nas primeiras, adotadas como moradias de Gal Costa, Lima Duarte, Sérgio Ricardo, muitos notórios.

A via principal ganhou o nome de av. Presidente João Goulart, a terra sumiu, as novas casas se erguem sobre as precedentes. Ainda envolta em mata, é a Comunidade do Vidigal, receptiva e festiva, “point” noturno da moçada de Ipanema e do anexo Leblon.

Menos de 10 pontos de luz comemorativa coloriram dezembro na parte mais decorativa do Vidigal nos anos anteriores. Mesmo na noite de Natal, só a iluminação utilitária invadiu a noite. Não parece que tenha sido frustração de intenções e providências por força de contingências. Não há explicação, ao menos por ora.

Más condutas coletivas assim numerosas não nascem do vazio. Têm causa, em geral, com presença de emoções fortes. Está claro que o Vidigal tem condições inegáveis de representatividade, quase síntese, da maior parte da realidade social. Sua conduta col

etiva poderia valer, por si só, como um sinalizador amplo. Também por aí afora, no entanto, o Natal teria se alterado. Foi possível sentir, em pessoa e pelas vias jornalísticas, o ambiente natalino mortiço, a ausência coloquial dos temas correlatos, preteridos pela quantidade de fatos agitadores.

No mínimo, o Natal ofuscado terá sublinhado o cansaço que a população aparenta. Com alheamento sempre maior e em maior âmbito, nem as mudanças que atacam o seu bolso recebem um pouco de interesse. Mesmo a fúria evangelho-bolsonarista arrefece.

Coincidência ou não, completa-se uma década de fins/começos de anos emocionalmente desgastantes e de expectativas nebulosas. Em 2015, por inaceitação da vitória reeleitoral de Dilma Rousseff, inicia-se a conturbação que perdura ainda, sem ano de interrupção e sem alívio. São 10 anos de tensão nacional durante os 12 meses e de inquietação ao chegar do ano seguinte. Não há povo nem país que passe incólume por 10 anos assim. Sinais de um país em estado alterado não faltam. E talvez seja por aí a mensagem natalina mais original.


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