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quinta-feira, outubro 06, 2022

Tebet e Ciro com Lula, governadores com Bolsonaro: apoios podem definir eleição?




Por Rafael Barifouse, em São Paulo

Os últimos dias foram marcados por intensas movimentações de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) para costurar os acordos com novos aliados na disputa pela Presidência.

A senadora Simone Tebet (MDB) anunciou na quarta-feira (5/10) apoio a Lula, que também terá ao seu lado Ciro Gomes e seu partido, o PDT. Os dois foram respectivamente o terceiro e quarto colocados no primeiro turno e receberam juntos 8,5 milhões de votos.

Bolsonaro conseguiu o apoio dos governadores de Minas Gerais e São Paulo, os dois maiores colégios eleitorais do país, além de outros nomes importantes da política nacional.

A diferença entre Lula e Bolsonaro ficou em 6 milhões de votos no primeiro turno. O petista recebeu 48,43% dos votos válidos, e Bolsonaro, 43,20%. Para ganhar, eles precisam de 50% mais um.

A disputa foi mais apertada do que indicavam as pesquisas, o que torna os apoios fechados agora especialmente importantes e bem-vindos, mas isso não deve ser o fiel da balança para a vitória de Lula ou de Bolsonaro, dizem cientistas políticos ouvidos pela BBC News Brasil.

Quem apoiou Lula e Bolsonaro?

Lula conseguiu o apoio do PDT. O diretório nacional do partido tomou a decisão por unanimidade.

O seu candidato à Presidência, Ciro Gomes, que teve 3,04% dos votos, falou que vai seguir o seu partido. Mas ele se mostrou bastante contrariado e não citou Lula ao anunciar o apoio.

"É a última saída. Lamento que a democracia brasileira tenha afunilado a tal ponto que reste para o brasileiro duas opções, a meu ver, insatisfatórias", disse.

"Ao contrário da campanha violenta da qual fui vítima, nunca me ausentei ou me ausentarei da luta pelo Brasil. Sempre me posicionei e me posicionarei na defesa do país contra projetos de poder que levaram o país a essa situação grave e ameaçadora."

A senadora Simone Tebet (MDB) confirmou a sinalização que já havia dado após o primeiro turno quando disse que "já tinha lado" e declarou apoio a Lula.

"Apesar das críticas que fiz, depositarei nele o meu voto. Seu compromisso é com a democracia e a Constituição, o que desconheço no atual presidente. Não anularei meu voto, não votarei em branco, não cabe omissão", afirmou Tebet.

Seu partido optou pela neutralidade. "Por ampla maioria, o MDB decidiu dar liberdade para que cada um se manifeste conforme sua consciência", declarou a legenda em um comunicado.

O governador Helder Barbalho (MDB), reeleito no Pará no primeiro turno com 70,41% dos votos, disse que está com Lula. Barbalho, que já tinha o PT em sua coligação no Estado, onde Lula ganhou com 52,22% enquanto Bolsonaro teve 40,27%.

Outro governador do MDB, Ibaneis Rocha (DF), reafirmou seu apoio a Bolsonaro. O governador reeleito do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), fez o mesmo. Tanto no Estado quanto no Distrito Federal, Bolsonaro ganhou de Lula.

Da federação tripartidária que tinha Tebet como candidata, o Cidadania disse que apoia Lula. Já o PSDB ficou neutro e liberou seus diretórios para apoiar quem acharem melhor.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, fundador do PSDB, já havia sinalizado apoio a Lula no primeiro turno, mas desta vez foi mais enfático, mencionando o nome do candidato petista. "Neste segundo turno voto por uma história de luta pela democracia e inclusão social. Voto em Luiz Inácio Lula da Silva", disse o tucano.

Outros líderes históricos do PSDB, como o senador Tasso Jereissati (CE), Aloysio Nunes e José Anibal, também apoiaram o petista. Eles também criticaram o "apoio incondicional" a Bolsonaro declarado pelo governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB).

'O governador reeleito de Minas, Romeu Zema (Novo) anunciou apoio a Bolsonaro'

Garcia foi adversário de Fernando Haddad (PT) na eleição e ficou em terceiro, atrás do petista e de Tarcísio de Freitas (Republicanos), o candidato apoiado pelo presidente.

São Paulo é o maior colégio eleitoral do país, e Bolsonaro ganhou ali de Lula por 47,71% a 40,89%. O presidente também já tem um apoio importante no terceiro maior colégio, o Rio de Janeiro.

O governador Cláudio Castro, que é do seu partido (PL) e foi reeleito no primeiro turno com 58,67% dos votos, reforçou que está com Bolsonaro. O presidente venceu no Rio no primeiro turno com 51,09% contra 40,68% de Lula.

O ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), eleito senador pelo Paraná com 1,9 milhão de votos, também declarou apoio ao presidente.

Moro foi ministro da Justiça e Segurança Pública e saiu do governo acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal. O presidente nega.

Bolsonaro disse agora que as desavenças entre os dois estão "superadas". "O passado é o passado, não temos contas a ajustar", afirmou o presidente para jornalistas.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), reeleito no primeiro turno com 56,2% dos votos, foi um dos primeiros a declarar que está com Bolsonaro.

Minas é um Estado-chave para a eleição presidencial, porque é o segundo maior colégio eleitoral. Nenhum presidente eleito desde a redemocratização venceu sem ganhar em Minas.

Neste primeiro turno, a votação ali espelhou quase exatamente o resultado nacional.

O Partido Social Cristão, comandado pelo Pastor Everaldo, anunciou seu apoio formal ao presidente.

"Bolsonaro é o candidato que defende as bandeiras conservadoras do PSC: defesa da família e da vida desde a concepção, da segurança, das mulheres e da liberdade econômica", disse.

Apoio dá voto?

'Ciro Gomes (PDT) deu apoio resignado a Lula (PT)'

É um começo melhor para o presidente, avalia o cientista político Cláudio Couto. "Acho que Bolsonaro sai um pouco na frente porque conseguiu apoios mais significativos", diz o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Isso é relevante porque pode influenciar a percepção do eleitorado sobre as candidaturas. "O mais importante é essa percepção do conjunto de apoios. O eleitor vai ver quem está conseguindo atrair mais, e isso conta", afirma o cientista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências.

Mas os analistas avaliam que os apoios anunciados até agora não devem trazer os votos que Bolsonaro precisa para virar o jogo, porque muitos dos eleitores dos seus "novos aliados" provavelmente já votaram nele no primeiro turno.

"Tem um valor mais simbólico do que prático. Além disso, Rodrigo Garcia, por exemplo, se tivesse uma grande capacidade de influência não teria ficado em terceiro lugar", diz Cortez.

O apoio de Zema tem mais peso, avalia Couto. "Mas não são nomes que inflamam paixões, não estamos diante de lideranças carismáticas", afirma.

"O Zema é um gestor bem avaliado, e isso ajudou ele a se reeleger facilmente, então, é claro que é bom ter o apoio, porque pode deixar os eleitores que votaram em Lula mais pensativos, mas não acredito que vai virar tudo de cabeça para baixo."

'Sergio Moro, eleito senador, apoiou Bolsonaro'

A cientista política Maria do Socorro Sousa Braga ressalta que "Minas é quase um Brasil" e isso limita quantos votos Bolsonaro pode conquistar no Estado.

"Claro que vai conseguir um pouco, mas é um colégio eleitoral imenso, e as regiões do Norte de Minas votam em Lula, ele venceu muito forte ali."

Do lado de Lula, o apoio resignado de Ciro também não ajuda muito, diz Couto.

"Porque não é o Carlos Lupi (presidente do PDT) que vai conseguir trazer votos para Lula. Pode ajudar um pouco se houver articulações das lideranças locais, mas o eleitorado não tem uma identificação com o partido."

O apoio de Tebet, se confirmado, também não deve ser suficiente para garantir a vitória petista, segundo Braga.

"Entre os novatos, a Tebet é quem sai com maior capital político, mas ainda não tem capacidade de fazer uma grande transferência, leva tempo para um político conquistar isso, ainda mais entre campos antagônicos como ela e o PT."

Mas a cientista política avalia que isso pode ter um efeito dentro de um partido bastante dividido como o MDB e fazer a legenda pender para o lado de Lula.

"O partido já tem vários segmentos que apoiam Lula, e isso deve se ampliar com o apoio da Tebet", diz Braga. O MDB é o partido que está à frente do maior número de prefeituras no país.

Os analistas dizem que, tanto de um lado quanto do outro, as transferências de votos não são automáticas e que vai depender muito mais das campanhas conseguirem mudar a percepção sobre os candidatos para conseguir os votos que faltam para vencer.

Bolsonaro vai precisar reduzir a sua rejeição, e Lula tem que desfazer as desconfianças sobre como ele deve governar nas áreas econômica e de costumes.

Mas, em uma eleição disputada, os votos conquistados com as novas alianças podem ter um impacto maior do que antes. "É o pouco que pode significar muito", diz Couto.

BBC Brasil

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