Publicado em 27 de outubro de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Mais uma vez impõe-se o princípio de que não basta ver o fato, mas é preciso também ver no fato os seus reflexos e abrangência que o mesmo contém. É o caso, por exemplo, da lei do salário mínimo. O reajuste do piso nacional não atinge o governo federal porque é pouco significativo o número de servidores públicos que recebem o salário mínimo. Além do salário mínimo, refere-se assim aos empregados de empresas particulares.
Mas um aspecto vinculado à lei do salário mínimo é de grande importância e também de grande reflexo no arremate da campanha eleitoral. É que, pela legislação em vigor, o reajuste aplicado ao salário mínimo estende-se aos 32 milhões de aposentados e pensionistas do INSS que recebem de um a cinco pisos salariais. Ou seja, até o teto de R$ 6 mil por mês.
COM BASE NA INFLAÇÃO – Uma coisa leva a outra. Se o estudo do Ministério da Economia viesse a ser adotado e aprovado pelo governo Bolsonaro, esses 32 milhões de segurados seriam atingidos frontalmente. Ao longo dos últimos anos, o automatismo foi aplicado com base na inflação registrada pelo IBGE. Se viesse a ser interrompida a sequência, o reajuste seria muito menor, pois o ministro Paulo Guedes não iria propor, é claro, o mesmo reajuste que está previsto na lei em vigor.
A modificação, portanto, só seria para baixo e não para cima, sobretudo porque para cima bastaria o governo propor uma nova vinculação salarial. Na reportagem da Folha de S.Paulo publicada na edição de ontem, de autoria de Douglas Gavras, o ministro Paulo Guedes, numa reunião virtual com cooperativas, culpou petistas infiltrados em seu Ministério pelo vazamento do plano a respeito do salário mínimo. Logo, confirmou a existência do plano e procurou desfocar a questão, acentuando que se trata de estudo antigo que não teve a sua aprovação.
ERRO POLÍTICO E ELEITORAL – Guedes, depois do tremendo erro político e eleitoral, tenta evitar o reflexo de seu erro político na campanha de Jair Bolsonaro pela reeleição. Acrescentou que o Ministério da Economia reúne 160 mil servidores e entre esses existem pessoas ligadas ao PT de Lula da Silva.
Mas o ministro esqueceu que os 160 mil funcionários não têm acesso igual a estudos que se encontram na pasta. Portanto, o número não convence ninguém quanto à diluição de um sistema natural de segurança de informações. Paulo Guedes disse que “toda Arca de Noé tem um pica-pau tentando furar o chão para afundar o barco”. Omitiu dizer que a sabotagem a quem ele atribuiu o vazamento teve um conteúdo concreto e não, portanto, a uma tentativa de prejudicar o governo nas urnas sem um conteúdo definido. Pelo contrário, no caso, o conteúdo foi bem definido.
INFLAÇÃO – Reportagem de Letícia Cardoso e Danielle Nogueira, O Globo desta quarta-feira, revela que o IBGE desta vez apontou uma previsão inflacionária de apenas 0,16% para o mês de outubro, e não deu sequência à série das deflações produzidas para os meses de agosto e setembro.
O IBGE calculou um avanço de 0,16% com base no aumento de combustíveis que se verificou nos postos e do aumento dos planos de saúde. Esqueceu os alimentos. Tatiana Nogueira, economista da XP, prevê que até o final deste mês, o índice inflacionário seja de 0,4%. Com base nos cálculos primários do IBGE, modestos, o resultado de outubro conclui que a taxa da inflação acumulada de outubro de 2021 a outubro de 2022 seja de apenas 6,85%.
Dessa forma, a permanecer tal índice, será esse o reajuste aplicado aos aposentados e pensionistas do INSS a partir de janeiro. Mas faltam os meses de novembro e dezembro. E, evidentemente, com o passar do capítulo das eleições, os índices inflacionários não devem apresentar a retração que o instituto registrou para a última etapa da campanha política. De qualquer forma, o recuo de Guedes significa que não haverá desvinculação entre o índice do IBGE e a correção anual a partir de janeiro dos vencimentos dos aposentados e dos pensionistas do INSS.
SUSANA NASPOLINI – Depois de uma luta intensa contra o câncer, a jornalista Susana Naspolini, das manhãs na TV Globo, morreu. Ela tornou-se uma personagem tão influente quanto querida pela população do Rio de Janeiro. Representou o interesse coletivo com sua atuação vibrante, agradável e também pela cobrança permanente que fazia das autoridades estaduais e municipais pela solução de problemas que se eternizariam não estivesse ela na tela da televisão.
Sua morte foi muito sentida e a reportagem sobre a sua importância e seu estilo, da mesma forma que ela, ficarão para sempre na memória e na consciência popular.
NOVAS OFENSAS – Na edição de ontem, matéria de José Marques, Folha de S. Paulo, destacou os novos ataques do ex-deputado Roberto Jefferson à ministra Cármen Lúcia. Incrível. Ele acusou também o ministro Alexandre de Moraes de ter formado uma milícia judicial.
Roberto Jefferson não só repetiu as palavras dirigidas à ministra Cármen Lúcia, como as ampliou. Não se pode atinar no fundo qual o propósito do ex-presidente do PTB. Mas também ninguém poderia conceber a hipótese dele desfechar cinquenta tiros contra policiais federais e lançar três granadas. A atuação da Polícia Federal, na verdade, evitou um desfecho que transformaria a repercussão do fato talvez no rumo político do país. No final das contas, trouxe prejuízos à candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição