Thomas Traumann
O Globo
Em uma campanha na qual não há fundo no poço da troca de acusações, a principal novidade da nova pesquisa Ipec/TV Globo está na oscilação das rejeições. Em uma semana, a quantidade dos entrevistados que dizem não votar no presidente Jair Bolsonaro variou de 50% para 48%, enquanto a do ex-presidente Lula da Silva foi de 40% para 42%. São oscilações dentro da margem de erro, mas sugerem que Bolsonaro pode estar ganhando a guerra suja.
Os números gerais da pesquisa estão alinhados com os do dia 5, no primeiro levantamento depois da eleição. Lula lidera com os mesmos 51% contra 42% de Bolsonaro, que oscilou um ponto para baixo. É a maior distância entre os dois candidatos nas pesquisas divulgadas sobre o segundo turno.
MUITA BAIXARIA – Na TV, a campanha de Bolsonaro já chamou Lula de “ladrão”, falseou dados para afirmar que ele segue processado pelo escândalo da Lava-Jato e especulou que numa vitória do PT ex-ministros condenados por corrupção teriam lugar no governo.
A campanha de Lula reciclou um antiga entrevista de Bolsonaro no qual ele admitia que poderia ter participado de um ritual de canibalismo. Nas redes sociais, o nível é ainda bem mais baixo, incluindo acusações mútuas de satanismo.
No ringue da lama, o Ipec mostra que Bolsonaro pode estar levando vantagem. Em uma semana, a aprovação do governo subiu de 35% para 38% e do próprio presidente subiu de 40% para 43%.
MUDAR DE VOTO – O espaço para grandes alterações, no entanto, é curto. Apenas 6% dos entrevistados do Ipec admitem mudar seu voto, dois pontos percentuais a menos que no levantamento da semana passada. Entre os eleitores de Lula, 7% admitem mudar de voto. Entre os de Bolsonaro, 5%.
Para uma eleição que será decidida em menos de três semanas esses números mostram que as alternativas de Bolsonaro para virar o jogo são ralas e a mais provável será investir ainda mais na propaganda negativa contra Lula.
Os ataques de Bolsonaro podem até não convencer um novo eleitor, mas ao transformar a eleição num vale-tudo ela iguala os dois candidatos em suas rejeições e tornar o resultado mais imprevisível. Essa tática será visível no primeiro debate dos dois candidatos na TV, no domingo que vem.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Uma boa análise da pesquisa Ipec, para quem ainda acredita nisso, é claro. Mas é inaceitável que um cientista político da Fundação Getúlio Vargas desconheça que Lula continua sendo processado pela Lava Jato, pois apenas as condenações foram anuladas. Realmente, isso demonstra que se trata de um observador com pouca capacidade de observação. (C.N.)