Publicado em 13 de outubro de 2022 por Tribuna da Internet
Roberto Nascimento
Misturar religião com política nunca deu certo em nenhum país do mundo. Mas o Brasil resolveu correr o risco de entrar numa guerra santa, que significaria um absurdo retrocesso civilizatório. O brasileiro sempre foi cordial e ecumênico, e aqui os ateus convivem em paz e harmonia com fieis de todas as crenças – católicos, protestantes, espíritas, israelitas, umbandistas, muçulmanos, budistas, agnósticos etc.
É isso que se espera de um Estado que tenta ser laico e vem caminhando nessa direção. Não podemos perder essa característica altamente civilizada, pois a cidadania brasileira, forjada pela miscigenação de raças e nacionalidades, é exemplo para o resto do mundo.
RETROCESSO – Nestas eleições, a mistura entre religião e política vem acompanhada pelo propósito de tomar de assalto o Poder Judiciário, conforme o presidente Jair Bolsonaro expôs em entrevista à Veja. E reparem a cronologia dos fatos. Após a declaração presidencial, o vice-presidente Hamilton Mourão, já na condição de senador eleito, pronunciou-se favorável à proposta de aumentar o número de ministros, como ocorreu no início do golpe de 1964, e ainda criticou o ativismo judicial.
Em seguida, o deputado federal Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, entrevistado no Estúdio I, também apoiou o predomínio do Executivo no Supremo , inconformado com os inquéritos contra ele que tramitam na Corte Constitucional.
E agora, na terça-feira, foi a vez do senador Carlos Portinho (PSD-RJ), suplente que assumiu com a morte do senador Arolde de Oliveira. Também no Estúdio I, na qualidade de líder do governo, Portinho defendeu o aumento do número de ministros e o fim das decisões monocráticas. Aproveitou o embalo e pediu maior empenho do Senado para decidir impeachments de ministros do STF.
MUITA APREENSÃO – Em consequência desses ataques bolsonaristas, criou–se o receio de transformarem o Brasil numa república bolivariana, no que tange ao controle do Poder Judiciário.
Precisou o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira (PP-AL), vir a público declarar que o assunto de aumento do número de ministros do STF não está na pauta. Também o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), rechaçou de pronto a ideia, com argumento de que a iniciativa acarretaria um aumento brutal de despesas, em uma economia decadente e que não suporta mais tantos cambalachos para o povo pagar a conta.
Por fim, esse sonho de Bolsonaro é de difícil execução, porque necessita do apoio de três quintos dos congressistas. E antes disso ele precisa ganhar a eleição, é claro, e não está nada fácil.