Publicado em 11 de outubro de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Numa entrevista divulgada no final da tarde de domingo pelo Youtube, o presidente Jair Bolsonaro afirmou – reportagem de João Gabriel, Renato Machado e Paula Soprana, Folha de S. Paulo de ontem – que somente após a eleição decidirá sobre o tema relativo à composição do Supremo Tribunal Federal. Mas acentuou que a sua decisão final dependerá da temperatura na Corte, deixando no ar, assim, uma ameaça e uma proposta surpreendente e inadequada.
Ele cogita indicar mais cinco ministros para a Corte objetivando assegurar maioria, uma vez que espera somar os votos com os dos ministros Nunes Marques e André Mendonça. “Vou indicar mais representantes simpáticos à gente.
DUAS VAGAS – Além disso, haverá mais duas vagas no ano que vem, uma vez que Rosa Weber e Ricardo Lewandowski completarão 75 anos de idade”, afirmou. “Talvez, eu descarte essa sugestão. Se não for possível vou conversar com o Senado e com a Câmara sobre a tramitação de uma proposta nesse sentido”, acrescentou.
O sentido a que ele se referiu trata-se de um projeto de emenda constitucional mudando a estrutura do STF e – acrescentou diretamente – que “assim você pulveriza o poder deles (ministros). Eles passam a ter menos poder e é lógico que não irão querer isso”, disse.
Como se constata, trata-se de uma ameaça direta à Corte e uma proposta de acordo simultâneas que causam perplexidade e até estarrecimento pela singularidade e por trazer consigo uma proposta de acordo político: se o Supremo agir de acordo com o que ele deseja, não propõe as alterações. Caso contrário, deixou no ar, irá em frente.
VOTOS PERDIDOS – Não se sabe na verdade quantos votos ele perdeu com essa ameaça e essa promessa de acordo condicional. Mas o essencial na questão é que ele deseja ampliar a sua constelação de poder, expressão usada pelo ministro Santiago Dantas.
Santiago Dantas, aliás, um jurista de grande capacidade intelectual e clareza, definia que os governos no mundo que apresentam instabilidades, como foi o caso do governo João Goulart, do qual foi ministro do Exterior, enfrentam constelações de interesses tão fortes quanto o próprio Estado. E acrescentou: “Nenhuma posição política é legítima se aquele que a ocupa não pode dizer o seu próprio nome”.
RENDA DO TRABALHO – Excelente reportagem de Cássia Almeida e Roberta de Souza, O Globo de ontem, revela com base em dados da Pnad e do IBGE que 18% da população brasileira (38 milhões de pessoas) vivem em unidades residenciais cujas famílias não têm emprego, nem ao menos informal.
A matéria é muito importante e deve ser objeto da campanha presidencial na etapa que se aproxima das urnas do dia 30. Esse problema implica na Previdência Social e no direito de aposentadoria, que não existe nesse caso, inclusive porque não há contribuição nem de empregadores e nem de empregados.