Putin afirma que cortará o fornecimento de energia russa aos compradores estrangeiros que não pagarem na moeda local a partir desta sexta-feira. Europa rejeita mudança, e Alemanha acusa Moscou de "chantagem".
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, exigiu que compradores internacionais paguem pelo gás russo em rublos a partir desta sexta-feira (01/04) ou terão seus suprimentos cortados – uma postura que governos europeus rejeitam e que Berlim descreveu como "chantagem".
A exigência de Putin, sacramentada num decreto assinado nesta quinta-feira, deixa a Europa sob o risco de perder mais de um terço de seu fornecimento de gás. A Alemanha, mais dependente do gás russo, já ativou um plano de emergência que pode levar a maior economia da Europa a impor um racionamento em seu território.
As exportações energéticas são a arma mais poderosa de Putin enquanto ele tenta contornar as amplas sanções impostas pelo Ocidente contra empresas e bancos russos, bem como contra empresários e aliados do Kremlin, em resposta à invasão russa da Ucrânia.
Em pronunciamento na televisão nesta quinta-feira, o presidente da Rússia afirmou que os compradores de gás russo "devem abrir contas em rublos em bancos russos". "Será a partir dessas contas que os pagamentos serão feitos para as entregas de gás a partir de amanhã [1º de abril]", disse Putin.
"Se tais pagamentos não forem feitos, consideraremos inadimplência por parte dos compradores, com todas as consequências decorrentes. Ninguém nos vende nada de graça, e também não faremos caridade – ou seja, os contratos existentes serão interrompidos", acrescentou.
A decisão de Putin de exigir o pagamento em rublos acabou valorizando a moeda do país, que havia sofrido baixas históricas após a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro. Desde então, o rublo vem se recuperando.
Ocidente reage
Empresas e governos ocidentais rejeitaram qualquer alteração da moeda de pagamento nos contratos de compra de gás – a maioria dos compradores europeus usam o euro. Executivos afirmam que levaria meses ou mais para renegociar os termos dos contratos.
O pagamento em rublos também atenuaria o impacto das sanções ocidentais que restringem o acesso de Moscou às suas reservas cambiais.
Enquanto isso, países europeus correm contra o tempo para garantir alternativas de abastecimento – com poucas opções, já que o mercado global está saturado. Os Estados Unidos, por exemplo, já ofereceram mais de seu gás natural liquefeito, mas não o suficiente para substituir a oferta russa.
Em reação à postura de Moscou, o ministro da Economia alemão, Robert Habeck, afirmou que a Rússia não foi capaz de dividir a Europa e que os aliados ocidentais estão determinados a não serem "chantageados" pelo governo russo. Berlim declarou que, apesar das ameaças de Putin, continuará pagando pelas importações de energia russa em euros.
Já o ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, disse que França e Alemanha estão se preparando para um possível cenário de interrupção do fluxo de gás russo. Mas ele se recusou a comentar detalhes técnicos sobre as últimas exigências russas de pagamento em rublos.
A jogada de Putin
Putin justificou que essa mudança na moeda de pagamento fortaleceria a soberania da Rússia, dizendo que os países ocidentais estão usando o sistema financeiro como uma arma, e que por isso não faz sentido para a Rússia continuar comercializando em dólares e euros uma vez que os ativos nessas moedas estão congelados pelas sanções impostas contra Moscou.
"O que está acontecendo? O que já aconteceu? Temos fornecido nossos recursos aos consumidores europeus, neste caso o gás. Eles o recebem, nos pagam em euros, os quais eles mesmos congelam. Nesse sentido, temos toda a razão em acreditar que entregamos parte do gás fornecido à Europa praticamente de graça", afirmou o presidente russo. "Isso, é claro, não pode continuar."
Várias empresas europeias com contratos russos não fizeram comentários ou não responderam imediatamente a pedidos de contato da imprensa, enquanto o anúncio de Putin gerou ainda mais tensões no mercado.
Os preços de gás na Europa explodiram nos últimos meses em meio à crescente tensão com a Rússia, aumentando o risco de recessão. O aumento dos preços de energia inclusive já forçou empresas, como fabricantes de aço e produtos químicos, a reduzir sua produção.
Deutsche Welle