Bolsonaro diz que em 1964 nenhum presidente foi derrubado...
Por Guilherme Mazui e Paloma Rodrigues
Em discurso no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro defendeu os presidentes da ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985. Bolsonaro não fez menção à censura, às torturas e às mortes cometidas pelo regime. Também defendeu o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por participar de atos antidemocráticos e ataques às instituições.
Bolsonaro falou durante evento de despedida de ministros que vão deixar o governo para disputar as eleições em outubro. E começou o discurso lembrando que nesta quinta é aniversário do golpe militar de 1964.
NÃO HOUVE GOLPE? – Bolsonaro, ao contrário do que registra a história, afirmou que não houve golpe. “Hoje, 31 de março. O que aconteceu em 31? Nada. A história não registra nenhum presidente da República tendo perdido o seu mandato nesse dia. Por que então a mentira? A quem ela se presta?”, começou o presidente.
Depois, omitindo a violência do regime, a perseguição a opositores e a cassação de direitos individuais, disse que, na época, todos tinham direito de ir e vir.
Nesse momento, ele se dirigiu ao deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), que estava na primeira fila da plateia, ao lado de ministros, havia se recusado a usar tornozeleira, mas acabou recuando.
DIREITO DE IR E VIR – “Todos aqui tinham direito, deputado Daniel Silveira, de ir e vir, de sair do Brasil, de trabalhar, de constituir família, de estudar, como muitos aqui estudaram naquela época”, continuou Bolsonaro.
“Quem esteve no governo naquela época fez a sua parte. O que seria do Brasil sem obras do governo militar? Não seria nada, seríamos uma republiqueta”, completou.
Bolsonaro então aproveitou o discurso para voltar a fazer ataques a ministros do STF. Nos últimos anos, o presidente protagonizou momentos de severa crise institucional com o Judiciário ao subir o tom em declarações sobre os ministros.
TRÊS PODERES – Sem citar nomes, afirmou que há “poucos inimigos” no Brasil e que eles habitam a “região dos Três Poderes” – a praça em Brasília que fica entre o Palácio do Planalto, Congresso e STF.
“Temos inimigos, sim. São poucos inimigos de todos nós aqui no Brasil, poucos, e habitam essa região dos três poderes. Esses poucos podem muito, mas não podem tudo”, declarou. Nesse ponto, Bolsonaro se exaltou e mandou aqueles que não tenham “ideias” para o país calarem a boca e vestirem a toga “sem encher o saco”.
“Nós aqui temos tudo para sermos uma grande nação, para sermos exemplo para o mundo. O que que falta? Que alguns poucos não nos atrapalhem. Se não tem ideias, cale a boca! Bota a tua toga e fica aí sem encher o saco dos outros! Como atrapalham o Brasil!”, atacou Bolsonaro.
INQUÉRITO EM ABERTO – Bolsonaro não citou o nome da ministra Rosa Weber, mas criticou a decisão da magistrada que negou o arquivamento do inquérito que investiga se o presidente cometeu crime de prevaricação no caso da negociação da vacina Covaxin.
“Agora, esses dias, a Polícia Federal diz que não tenho nada a ver e nem a Saúde com uma vacina que não foi comprada, que não foi gasto um real, mas uma ministra [disse] : ‘Não, eu não vou arquivar. Isso é passível de detenção do presidente’. O que essas pessoas querem? O que que têm na cabeça? No que essas pessoas ajudam o Brasil?”, disse Bolsonaro.
Bolsonaro lamentou a ausência na cerimônia do pastor Milton Ribeiro, demitido nesta semana do Ministério da Educação. Segundo o presidente, Milton deixou o governo mas pode voltar. ‘Não está aqui infelizmente o nosso ministro Milton, que nos deixou temporariamente”, declarou.
MINISTROS DE SAÍDA – Os ministros que saíram do governo para disputar as eleições são: Braga Netto (Defesa): cotado para ser vice de Bolsonaro; Tarcísio Freitas (Infraestrutura): governo de São Paulo; João Roma (Cidadania): governo da Bahia; Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos): Senado ou à Câmara; Marcos Pontes (Ciência e Tecnolgia): deputado federal por São Paulo; e Onyx Lorenzoni (Trabalho): governo do Rio Grande do Sul.
E mais: Flávia Arruda (Secretaria de Governo): Senado no Distrito Federal; Tereza Cristina (Agricultura): Senado no Mato Grosso do Sul; Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional): ao Senado no Rio Grande do Norte; e Gilson Machado (Turismo): Senado em Pernambuco.
Nota do blog Tribuna da Internet – Bolsonaro parece que não regula bem. Dizer que não houve golpe em 1964 e nenhum presidente foi deposto é uma afronta ao bom senso e à História Republicana. Houve golpe, prisões, torturas, banimentos e assassinatos com requintes de crueldade. Os governos militares foram administrativamente bem, não há dúvida, mas não se pode esconder o golpe político-militar e as atrocidades. (C.N.)
G1 / Tribuna da Internet