Pedro do Coutto
O título traduz a minha opinião sobre os acontecimentos das últimas 24 horas que marcam o acirramento das tensões internacionais, a começar pelo apoio da Alemanha a Zelenski , enviando para Kiev armamentos ao mesmo tempo em que destina um crédito de €100 bilhões. Uma soma realmente colossal.
Ao mesmo tempo, o presidente Joe Biden afirmou ao povo americano, numa entrevista na noite de segunda-feira, que não deve temer ameaças nucleares. A frase tem um significado concreto. Traduz-se com a informação de que os Estados Unidos possuem, lembrou Biden, um arsenal atômico tão amplo quanto o de Moscou.
PRESENÇA MILITAR – A iniciativa alemã é bastante efusiva no apoio à Ucrânia e representa, a meu ver, que o próximo passo, caso não cesse a destruição provocada pela Rússia, é a presença militar direta do governo de Berlim, a partir da fronteira com a Polônia, para rechaçar as forças impulsionadas por Vladimir Putin.
As negociações por um cessar-fogo imediato que se realizaram ontem na fronteira com a Bielorússia não tiveram o efeito esperado. Reportagem de Filipe Marine, O Globo, focaliza nitidamente o assunto e a permanência do impasse pelas exigências de Putin, desta vez inclusive estendendo-as ao presidente da França, Emmanuel Macron.
A luta assim prossegue sem trégua e na manhã de ontem a GloboNews e a TV Globo exibiram as imagens do comboio russo que se estende por 60 quilômetros, formado por tanques e caminhões rumo à fronteira norte da Ucrânia, região da capital Kiev.
AUMENTO DE SAQUES – A economia russa, como focalizou Miriam Leitão em artigo no O Globo de ontem, está desabando, inclusive porque, lembra ela, 70% da economia russa é operada à base de moedas estrangeiras como o dólar e o euro. Os saques nos bancos russos por clientes se alastram, com filas enormes nas principais cidades do país.
A crise econômica espalha-se assim para o mundo dos negócios do qual os russos participam. E a derrubada do rublo focalizada por Vítor da Costa, O Globo de ontem, faz com que empresas estrangeiras, como é o caso da Shell, deixem o país. O Banco Central russo dobrou a taxa de juros e a Bolsa de Valores não funcionou. A interrupção dos negócios afeta também o pagamento de comissões que são tão eternas quanto os diamantes.
Quem se dispuser a apontar contradições pelo ângulo moral e ideológico no campo político, seja nacional ou internacional, vai ter que escrever uma enciclopédia tal o volume de fatos que surpreendem a população a cada momento. Agora mesmo, reportagem de Rafael Balago, Folha de S. Paulo, destaca a posição do embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Costa Filho, condenando a invasão russa na Ucrânia.
POSIÇÃO DIFERENTE – No mesmo dia, o presidente Jair Bolsonaro, em vídeo gravado nas redes sociais, e reproduzido pela TV Globo e pela GloboNews, assumia posição diferente, inclusive negando o massacre que está acontecendo nas estradas e nas ruas da Ucrânia. Um verdadeiro absurdo.
A minha impressão é de que o presidente Jair Bolsonaro está se opondo mais ao governo Joe Biden do que condenando a violação dos direitos e a morte de vidas humanas já na escala de uma centena de milhares. A Rússia intensificou os ataques e a opinião pública mundial intensificou a condenação massiva a tais violências, e diz respeito às leis internacionais, principalmente à própria consciência humana.
RESISTÊNCIA – Para o analista Gideon Rachman, o plano inicial da invasão de derrubada do governo de Kiev do presidente Putin está desabando, sobretudo por não ter contado com a capacidade heróica de resistência que o governo de Kiev demonstra possuir com a população disposta a combater até a morte, como é o caso do presidente Zelenski.
As sanções do Ocidente aprofundam-se, mas de qualquer forma, no meu ponto de vista, elas não vão excluir a ação militar da Alemanha e possivelmente da Polônia. Mas a disposição alemã (um aspecto esquecido pelos analistas), revela-se extremamente forte, como os fatos confirmam.