Pedro do Coutto
O presidente Vladimir Putin, sentindo o peso da realidade e o fato da humanidade repudiar a invasão da Ucrânia, fechou a cortina de ferro contra a imprensa e as liberdades individuais, ameaçando com prisão os que violarem a antiga regra stalinista e também os que se manifestarem publicamente no país, como vem acontecendo em grande número de cidades, contra o conflito em que Moscou incendeia a Ucrânia.
O episódio marca a volta da antiga cortina de ferro do pós-guerra a partir de maio de 1945, quando o poder absoluto estava nas mãos de Stalin. Foi Winston Churchill que classificou como cortina de ferro o sufocamento da liberdade dos países então transformados em satélites de Moscou, do Leste europeu.
CENSURA – Além disso, revela a reportagem de O Globo, procedente de Moscou, Putin transformou praticamente num crime quem chamar de guerra o que está acontecendo no teatro das operações onde a Ucrânia é sufocada, mas o presidente Zelenski resiste heroicamente. Não sei porque, inclusive, poucos comentaristas internacionais ironizam a posição heróica do presidente ucraniano e tentam, absurdamente, minimizar o ataque russo à usina nuclear de Zaporizhzhia.
Os ataques causaram um incêndio em um prédio bastante próximo da usina. Se um incêndio já é uma calamidade em qualquer prédio do mundo, mais ainda ele se torna na proximidade de uma usina atômica. Putin fecha o cerco contra a imprensa e as liberdades públicas exatamente porque são manifestações de liberdade e que, portanto, não aceitam a ditadura do Kremlin. Ao mesmo tempo, o episódio funciona para mostrar ao mundo o desastre russo na Europa, colocando em risco a população mundial.
Putin está causando um pesadelo universal e sua sede de poder, agora ficou mais que claro, não tem limites. Os armamentos enviados pela Alemanha para Zelenski estão já na fronteira entre a Polônia e a Ucrânia. O desfecho militar, a meu ver, está cada vez mais próximo.
ISOLAMENTO – Diante dos acontecimentos da censura total da imprensa e do retorno frio e violento da cortina de ferro, a opinião pública mundial espera poder influir com as armas da liberdade contra a opressão, contra a tirania, contra o assassinato e contra a destruição. São fatores do comportamento alucinado de Vladimir Putin que isola a Rússia no mundo, e que tenta explodir também a consciência humana.
Nesta altura dos acontecimentos, nem a China mantém o amplo apoio manifestado na véspera aos ataques a Kiev. Espanta, portanto, que no Brasil tenha alguém capaz de escolher a neutralidade diante de acontecimentos inspirados no nazismo de Hitler. Basta comparar as imagens de hoje com os filmes da Segunda Guerra de ontem que se encontram à disposição de todos na Netflix.
PORTO SEGURO – O Ministério da Economia – reportagem de Manuel Ventura, O Globo de ontem – divulgou matéria na noite de sexta-feira, contando declarações do ministro Paulo Guedes nas quais sustenta que apesar da invasão da Ucrânia pela Rússia e seus reflexos, o Brasil “é um porto seguro para os investidores”.
Para mim, a declaração causou surpresa, não apenas por se tratar de Paulo Guedes, mas sobretudo porque ele próprio preferiu aplicar seus recursos financeiros no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. Paulo Guedes, assim, escapa da incidência de impostos brasileiros e encontrou o mesmo porto seguro no exterior.
PIB – Na edição deste sábado, Carolina Nalin e João Sorima Neto, O Globo, numa excelente matéria de página inteira, analisam o resultado do Produto Interno Bruto brasileiro que, segundo o Ministério da Economia, cresceu 4,6% em 2021, compensando a queda de 3,9% registrada em 2020. A economia assim ficou 0,6% acima, assinala a matéria, do último trimestre de 2019.
Esta informação, sob o meu ângulo de análise, dá margem à uma controvérsia; se o crescimento de 4,6%, como diz a matéria, está sobre a comparação com o último trimestre de 2020, ou se a comparação como está no título da reportagem abrange os quatro trimestres de 2020.
Uma coisa é o percentual comparado entre o último trimestre de 2021 com o período outubro, novembro e dezembro de 2020. Outra coisa, é claro, é o confronto entre os resultados globais de 2021 e de 2020.