Publicado em 3 de março de 2022 por Tribuna da Internet
Marcelo Rocha
Folha
A Diretoria de Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da Polícia Federal passará por mudança mais uma vez e terá um novo delegado responsável, o quarto desde o início do governo de Jair Bolsonaro (PL). A Dicor é uma das áreas mais sensíveis da polícia. A ela está vinculada a equipe encarregada de tocar os inquéritos que miram políticos que estão no cargo, incluindo o presidente da República.
Não está definido ainda se haverá outras mudanças na composição desse grupo, chamado de Coordenação de Inquéritos nos Tribunais Superiores. Uma das investigações apura se Bolsonaro interferiu no comando da PF para proteger parentes e aliados, suspeita levantada pelo ex-ministro da Justiça e presidenciável Sergio Moro.
Essa é uma das mudanças já definidas pelo novo diretor-geral da Polícia Federal, Marcio Nunes. Outras diretorias também vão ser trocadas. O atual diretor é Luís Flávio Zampronha, que está no cargo desde abril do ano passado, quando Paulo Maiurino assumiu como diretor-geral.
MAIS MUDANÇAS – Um dos nomes avaliados para substituí-lo é o do delegado Caio Rodrigo Pellim, atualmente na Superintendência Regional do Ceará.
As diretorias de Inteligência, Técnico-Científica e Gestão e Pessoal também devem mudar. As trocas devem ser formalizadas nos próximos dias no Diário Oficial da União.
A PF convive com uma série de mudanças desde o início do governo Bolsonaro. Márcio Nunes é o quarto diretor-geral em menos de 40 meses.
Na área de corrupção, a polícia registrou uma queda brusca de prisões no âmbito de operações nos últimos meses. A Folha revelou que em 2021 foram registradas 164 prisões nessa área, uma redução de 60% em relação às 411 efetuadas ao longo de 2020. Os índices mostraram que as prisões vêm caindo desde o primeiro ano do governo Bolsonaro, mas despencaram na gestão de Maiurino.
FILOSOFANDO – Após sua exoneração, o ex-diretor-geral postou foto de uma paisagem em uma rede social e escreveu que “navegar é preciso”. Em outra publicação, reproduziu o filósofo romano Séneca: “As grandes injustiças só podem ser combatidas com três coisas: silêncio, paciência e tempo”.
Policiais avaliam que as trocas na cúpula impactam no trabalho não apenas pelas incertezas da política interna, mas também por mexer em níveis mais baixos da hierarquia da PF.
A área de combate à corrupção, segundo eles, é uma das que mais sofre reflexos da inconstância de comando. A queda no número de prisões, reduzidas no último ano ao nível mais baixo desde o governo do ex-presidente Michel Temer, corrobora a tese, dizem os policiais.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Bolsonaro manda substituir o diretor-geral da Polícia Federal. O substituto assume e manda trocar o delegado que está investigando Bolsonaro. Bem, se não for coincidência, só pode ser interferência, conforme Sérgio Moro denunciou, com base em afirmação do próprio Bolsonaro, feita na famosa reunião ministerial de 22 de abril de 2020. E ficamos combinados assim… (C.N.)