Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

terça-feira, março 08, 2022

Cinco pontos importantes para acompanhar melhor a guerra que apenas começou




De guerra nuclear a petróleo a 185 dólares, as ameaças reais ou projetadas vão ficando cada vez mais pesadas e o mundo um lugar mais perigoso. 

Por Vilma Gryzinski

Vladimir Putin está deixando de ser um ator racional? Diante da enormidade da invasão da Ucrânia, a pergunta se torna inevitável.

A resposta continua a ser não. Mas ao queimar todas as pontes com o mundo ocidental, Putin colocou o planeta numa espécie de realidade aumentada, ao mesmo tempo em que empurra seu antagonista, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, também para posições mais desesperadas.

Alguns fatos e projeções sobre a guerra, hoje no décimo segundo dia:

1- Quem estava pensando em guerra nuclear há apenas dez dias, fora os apocalípticos de praxe?

Agora, não é difícil encontrar cidadãos comuns, principalmente na Europa, cogitando de uma Terceira Guerra Mundial – que será “nuclear a destrutiva”, nas palavras brutais de Sergei Lavrov, o outrora admirado chanceler russo convocado para o mais sujo de todos os papéis, o de chantagear o mundo.

O próprio Putin está empurrando o nível das ameaças para um nível quase insuportável.

Obviamente, faz parte da tática propagandística para levar a opinião pública de países ocidentais, tão maciçamente chocada pela invasão russa, a reconsiderar suas posições e pensar se vale a pena correr o risco de uma guerra de extermínio mútuo em escala planetária por causa de um país como a Ucrânia.

Existe até a especulação de que o bombardeio da usina nuclear de Zaporizhzhia, que provocou um incêndio numa área não crítica, fez parte desse grande plano de intimidação.

Qual o risco real de que a dinâmica de uma guerra localizada extrapole para a hecatombe? Paul Ingram, pesquisador do assustadoramente chamado Centro de Estudos de Riscos Existenciais, de Cambridge, disse ao Telegraph que existe uma chance em 80 de um conflito nuclear. Mas acrescentou: “Temos que desempoeirar alguns planos do passado”.

Os planos são os do auge da Guerra Fria, quando Estados Unidos e países aliados tinham preparados grandes esquemas de contingência para garantir, em condições de infraestrutura devastada, a sobrevivência das populações que escapassem de bombardeios atômicos e da chuva radiativa.

Os filmes-catástrofe sobre o tema colocaram no vocabulário expressões como “inverno nuclear”, o fenômeno mencionado por Ingram como o problema fundamental num mundo pós-hecatombe, onde a luz solar seria bloqueada durante alguns anos por gigantescas nuvens de fumaça e fuligem, impedindo o cultivo da maioria dos alimentos. Batatas e algas seriam algumas das alternativas.

Infundir esse tipo de terror é exatamente o que Putin e seus asseclas querem.

Embora hoje existam muito menos artefatos nucleares, com cargas menos potentes, do que nos anos oitenta, o terror está entranhado na psique humana e é fácil acioná-lo.

2- Vamos continuar a assistir de braços cruzados um país inocente ser destruído bem diante de nossos olhos?

A verdade é que sim, pelo motivo mencionado acima. Para tirar qualquer dúvida, Putin aproveitou um encontro com elegantes comissárias de bordo da Aeroflot – a empresa estatal que simplesmente cancelou todos os voos por causa das sanções internacionais – e fez novas ameaças diante dos apelos de Zelensky para que seja declarado o bloqueio do espaço aéreo da Ucrânia.

“Qualquer movimento nessa direção será considerado participação num conflito armado”, ameaçou (presencialmente, ou numa montagem, como corre pelas redes). As consequências para a Europa e para o mundo seriam “colossais e catastróficas”.

Nesse ponto, está certo: “fechar o céu”, como pede Zelensky, implica, para começar, em destruir as defesas antiaéreas do adversário. Ou seja, americanos e aliados atacariam posições russas, um ato de guerra.

3- Por que Zelensky insiste em pedir o bloqueio do espaço aéreo, sabendo que isso equivaleria a uma declaração de guerra dos países ocidentais contra a Rússia?

A triste realidade é que ele está ficando cada vez mais sem saída e os apelos vão ficando cada vez mais desesperados. O último foi nesses termos:

“Nós dizemos todos os dias: fechem o céu da Ucrânia. Fechem para todos os mísseis russos, para os aviões de combate russos, para todos os terroristas deles”.

“Se não fizerem isso, se pelo menos não nos derem aviões para que possamos nos proteger, só podemos chegar a uma conclusão: vocês querem nos ver sendo mortos lentamente”.

Provavelmente, o pedido de aviões de combate seja o objetivo final. Mesmo uma operação assim implicaria em alto risco. Os aviões teriam que ser transferidos da Polônia (ou tirados da Força Aérea polonesa, uma opção que o país, o que mais teme o expansionismo russo, já disse ser aceitável) e depois conduzidos por ucranianos.

A quantidade de coisas que podem dar errado numa operação desse tipo é fenomenal. Grandes quantidades de armamentos enviados por países europeus já estão atravessando a fronteira desse modo. Para evitar “erros de cálculo, incidentes e escalada”, o Pentágono abriu uma nova linha de comunicação entre o quartel-general das forças americanas na Europa e o Ministério da Defesa da Rússia.

4- O que vai acontecer com Zelensky?

O cerco de Kiev ainda está sendo armado, enquanto outras cidades ucranianas vão sendo tomadas, com a tática de bombardeios em massa, uma especialidade russa.

Não é impossível que o presidente, com sua aura heroica (um Tom Cruise quinze anos mais moço seria perfeito para interpretá-lo), acabe sendo convencido de que é mais importante vivo, comandando um governo no exílio provavelmente na Polônia), do que epicamente morto.

Segundo um jornal confiável como o Times de Londres, Zelensky já escapou de três planos para assassiná-lo. Um deles do Grupo Wagner, não uma instituição de terceirização de operações militares, como a dissolvida Blackwater de Eric Prince, mas uma obscura rede de mercenários interconectada com os serviços secretos russos.

Do ponto de vista da propaganda russa, seria mais conveniente prender Zelensky, submetendo-o a julgamento com todos os subterfúgios desse tipo de armação, com o objetivo de desmoralizá-lo?

A resposta pode levar algum tempo para ser dada.

No psicodrama real que se desenrola diante de nossos olhos, é possível que o cerco de Kiev, com suas consequências, ainda demore vários dias para começar para valer.

5- E o petróleo?

Depois da China e dos Estados Unidos, a Rússia é a mais produtora de energia e a maior exportadora de petróleo do mundo e qualquer coisa que a afete mexe violentamente nos preços.

Segundo a previsão mais pessimista, do JP Morgan, o petróleo pode chegar a 185 dólares no fim do ano se o abastecimento russo continuar a ter resistência no mercado. Países como a Suécia e a Finlândia, por exemplo, não estão comprando petróleo russo. Está ficando cada vez mais provável que os Estados Unidos façam o mesmo boicote inverso e deixem de comprar quatro milhões de barris por dia da Rússia, o que só aumentaria a pressão nos preços.

Outros prognósticos são menos extremos.

Mas o fator imprevisibilidade que Putin introduziu no mundo com a invasão da Ucrânia mexe com as previsões.

E se ele acionar o botão da autodestruição, como já demonstrou que pode fazer com uma guerra completamente desnecessária, que exclui a Rússia, por muitos anos, de todos os espaços do mundo civilizado?

Se os russos podem viver sem Iphones, Facebook, bolsas Louis Vuitton e roupas da Zara, a Europa não pode ficar sem o gás russo. Um país como a Alemanha depende da Rússia para 55% do seu abastecimento.

Pela lógica, seria autodestrutivo regular ou cortar o fornecimento de gás, pois isso também privaria a Rússia de uma fonte de ingressos importante – e que continua a a funcionar, não tendo sido afetada pelo corte do sistema Swift.

Mas dono da torneira está empurrando os limites da racionalidade

Revista Veja

Em destaque

TCE-BA concluiu julgamentos de 2.051 processos e cumpre 100% das metas de julgamentos fixadas para 2024

  Foto: Divulgação Durante 2024, o TCE-BA concluiu os julgamentos de 2.051 processos, com 78 sessões realizadas pelo plenário, 37 pela Prime...

Mais visitadas