por Fernando Duarte
Se a política brasileira seguisse um padrão moral dentro do esperado da sociedade, a possibilidade do presidente Jair Bolsonaro se filiar ao Progressistas causaria constrangimento ao diretório baiano da legenda. No entanto, o poderoso PP, que hoje comanda a República com mais força que Bolsonaro, não parece ver contradição em ter o símbolo-mor do antipetismo nos seus quadros ao mesmo tempo em que apoia o projeto de continuidade do PT no governo da Bahia. É suco de Brasil em modo sem amarras éticas, algo que, infelizmente, normalizamos.
O vice-governador João Leão e a trupe do entorno insistem na tese de que ele tentará ser governador em 2022. Acreditam tanto que todos falam nos bastidores sobre a indicação de um vice para a chapa de Jaques Wagner no próximo ano. Porém precisamos reconhecer que o gogó leonino é folclórico por essas bandas e ninguém se surpreende com o governismo desse grupo. Se tem poder, tem PP. Logo, esperar algo diferente disso é não enxergar a nossa realidade. Arvorado com a chance de Bolsonaro se filiar e demandar um palanque local, isso infla um pouco a garantia do tripé PT-PSD-PP. Todavia, dificilmente esse desenho de uma candidatura independente se confirmaria - por razões diversas, mas principalmente por obrigar o governismo dos progressistas ser colocado em risco.
Eu não consigo imaginar Bolsonaro candidato à presidência pelo PP, atacando o PT, enquanto aqui os dois partidos são unha e carne em uma chapa pelo governo. Entretanto, admito que é problema de falta de imaginação da minha parte. As alianças regionais serão mantidas, mesmo que no plano federal os diálogos sejam completamente antagônicos. Se é possível se manter como governo no plano federal e estadual, qual a razão para arriscar? E olha que no plano da capital baiana, o PP formalmente não integra a coalizão de apoio a Bruno Reis, mas mantém boas relações com a gestão.
É certo que estamos falando de hipóteses e conjecturas que podem não se confirmar até 2022. O PP com Arthur Lira e Ciro Nogueira assume a articulação política do Planalto e avaliza a continuidade de um governo fragilizado. A ida de Bolsonaro para a sigla é um caminho natural e pode dar a ele a infraestrutura para um campanha eleitoral mais próxima das padrões brasileiros - não o armengue de 2018, quando subterfúgios como uma rede paralela de comunicação foram decisivos para a construção da vitória do presidente. Afinal, o próprio Bolsonaro já disse que sempre foi do "centrão", então o discurso anti-stablishment foi abandonado de vez, ainda que existam crédulos a confiar na posição antissistema.
Quero ver o malabarismo do Bonitão e de seus companheiros para justificar esse cérbero que o Progressistas pode se tornar para a disputa de 2022, com cada cabeça destinada a servir a um mestre diferente. Para quem não é lá muito otimista, pode ser útil lembrar que esse ser mitológico é também uma espécie de porteiro do inferno. Pois no Brasil já é possível até sentir uma quenturinha batendo. Haja progressismo conservador por aqui...