Tânia MonteiroEstadão
Como parte de uma estratégia para combater a ação do que chama de “clero progressista”, o Palácio do Planalto recorrerá à relação diplomática com a Itália, que vive um bom momento desde o esforço do presidente Jair Bolsonaro para garantir a prisão de Cesare Battisti. A equipe de auxiliares de Bolsonaro tentará convencer o governo italiano a interceder junto à Santa Sé para evitar ataques diretos à política ambiental e social do governo brasileiro durante o Sínodo sobre Amazônia, que será promovido pelo papa Francisco, em Roma, em outubro.
O Estadão revelou ontem que o Planalto quer conter o que considera um avanço da Igreja Católica na liderança da oposição ao governo, como efeito da perda de protagonismo dos partidos de esquerda.
SOBERANIA – Em nota divulgada na noite deste domingo, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) confirmou que existe “preocupação funcional com alguns pontos da pauta” do evento e que parte dos temas “tratam de aspectos que afetam, de certa forma, a soberania nacional”.
Nos 23 dias do Sínodo, as discussões vão envolver temas como a situação dos povos indígenas e quilombolas e mudanças climáticas – consideradas “agendas de esquerda” pelo Planalto. O governo quer ter representantes nas reuniões preparatórias para o encontro em Roma.
A ação do Planalto terá várias frentes. Numa delas, o governo quer procurar os representantes da Itália e do Vaticano no Brasil – Antonio Bernardini e d. Giovanni D’Aniello, respectivamente – para pedir a ajuda deles na divulgação dos trabalhos brasileiros nas áreas social, de meio ambiente e de atuação indígena. Serviria como contraponto aos ataques que o governo está certo que sofrerá no Sínodo, por ver influência de partidos de esquerda nesses setores. Os embaixadores do Brasil na Itália e no Vaticano terão a missão de pressionar a cúpula da Igreja para minimizar os estragos que o evento possa trazer, dada a cobertura da mídia internacional.
SIMPÓSIO – Em outra ação diplomática, o Brasil decidiu realizar um simpósio próprio também em Roma e em setembro, um mês antes do evento organizado pelo Vaticano. Na pauta, vários painéis devem apresentar diferentes projetos desenvolvidos no País com intuito de mostrar à comunidade internacional a “preocupação e o cuidado do Brasil com a Amazônia”.
Também no Brasil, o governo quer fazer barulho e mostrar projetos sustentáveis. O primeiro evento já será nesta quarta-feira, na aldeia Bacaval, do povo Paresi – a 40 quilômetros de Campo Novo do Parecis, no norte de Mato Grosso. Ali, será realizado o 1.º Encontro do Grupo de Agricultores Indígenas, que tem por objetivo celebrar a Festa da Colheita.
O evento já estava marcado, mas o governo Bolsonaro quer aproveitar o encontro para enfatizar o projeto de agricultura sustentável tocado pelos índios naquela região. Trata-se do plantio de dois mil hectares de soja sob o regime de controle biológico de pragas, ou seja, sem pesticidas.
MADEIRA – A apresentação de projetos de extração legal de madeira, assim como o apelo às empresas estrangeiras para que só comprem material certificado, é uma outra ideia para divulgar trabalhos realizados no Brasil. Com isso, o governo espera abrir outra frente de contraponto ao que vê como tentativa de interferência externa na Amazônia e ataque a políticas governamentais.
Para o presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), d. Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho (RO), essa preocupação do governo é desnecessária. “O Sínodo não tem a intenção de dar norma para o governo, mas de encontrar caminhos que nos ajudem a viver a solidariedade e a fraternidade com as populações que vivem na Amazônia há milhares de anos”, disse d. Roque.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A estratégia do Planalto é de um amadorismo constrangedor. O Planalto está dando ao Sínodo uma importância que ele não teria, em condições normais de temperatura e pressão. Essa ideia de fazer um Seminário em Roma, antes do Sínodo, merece a Piada do Ano. Não importa os programas sociais a serem apresentados, no mês seguinte os bispos vão dizer que é tudo mentira, porque a Amazônia está abandonada. E isso é verdade. A culpa é dos governos anteriores, Bolsonaro e os militares vão apenas pagar o pato, como se dizia antigamente. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A estratégia do Planalto é de um amadorismo constrangedor. O Planalto está dando ao Sínodo uma importância que ele não teria, em condições normais de temperatura e pressão. Essa ideia de fazer um Seminário em Roma, antes do Sínodo, merece a Piada do Ano. Não importa os programas sociais a serem apresentados, no mês seguinte os bispos vão dizer que é tudo mentira, porque a Amazônia está abandonada. E isso é verdade. A culpa é dos governos anteriores, Bolsonaro e os militares vão apenas pagar o pato, como se dizia antigamente. (C.N.)