Carlos Newton
Com a terceira cirurgia de Bolsonaro e o envio do pacote anticorrupção e da proposta de reforma da Previdência, que já começam a tramitar na Câmara, realmente começou o primeiro governo militar democrático. E nunca se viu nada igual, porque nem mesmo nos 15 anos de Getúlio Vargas e nos 21 anos da ditadura militar de 1964 o ministério contou com tamanho número de oficiais generais. No primeiro escalão temos hoje 13 militares – presidente, vice, oito ministros e os três comandantes das Forças Armadas. Um capitão, dez generais do Exército, dois almirantes e um tenente-brigadeiro.
E há muitos outros oficiais superiores no segundo escalão, inclusive o porta-voz do governo também é general, e a praxe antigamente era nomear algum diplomata do Itamaraty.
DEMOCRACIA PLENA – Não há dúvida de que estamos em regime de democracia plena e os militares do primeiro escalão comportam-se rigorosamente no figurino republicano. Só há autoritarismo da parte do presidente, que ainda não se adaptou muito às práticas democráticas de governar para todos, dialogar com todos e respeitar a todos.
Bolsonaro realmente ainda não pegou esse jeito, mas está melhorando. Na campanha e na transição, comportou-se como um troglodita. Incentivado pelos filhos, anunciou a mudança da embaixada para Jerusalém, causando reação negativa no mundo árabe, e depois agravou o quadro, ao dizer que iria derrubar a Embaixada da Palestina, porque está se instalando próximo ao Palácio da Alvorada. No embalo, anunciou até uma base militar dos EUA em território brasileiro, vejam a que ponto chegamos.
O pior é que, entre os ministros civis, há algumas figuras sem a devida qualificação, que deveriam “voltar às origens”, como diz o próprio Bolsonaro. E isso vai acontecer logo, a começar pela próxima saída do ministro Marcelo Álvaro Antonio, que cultivou um laranjal no PSL de Minas.
SABER RECUAR – Mas nem tudo são problemas. Antes mesmo de assumir, Bolsonaro demonstrou uma tremenda qualidade – é um homem que sabe recuar, quando seus “consiglieri” lhe chamam atenção para o erro. Foi assim com as duas embaixadas e com a base americana, que já caíram no esquecimento.
Mas os três filhos não gostaram nada disso. Pensaram que poderiam agir como príncipes-regentes, em plena República, embora “isso non eczista”, como diria padre Quevedo. Até um “olheiro” foi colocado no Planalto – o primo Léo Índio, que nem chegou a ser nomeado, mas logo ganhou um crachá amarelo de livre-acesso ao palácio, igual aos filhos 01 (Flávio), 02 (Carlos) e 03 (Eduardo).
Mas agora a festa acabou. Flávio já estava afastado desde que se evidenciaram suas ligações perigosas com assessores e milicianos. Depois do affaire Bebianno, Carlos ganhou passagem de volta para Rio de Janeiro e se tornou carta fora do baralho. E o filho caçula Eduardo, que chegou a acompanhar o pai na viagem a Davos, também terá de se recolher a sua insignificância.
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P.S. 1 – O homem-forte do Planalto hoje é o general Augusto Heleno, que se tornou o principal “consigliere” presidencial. Uma espécie de general Golbery do Coutto e Silva em nova versão, mais acessível à imprensa e menos ardiloso.
P.S. 1 – O homem-forte do Planalto hoje é o general Augusto Heleno, que se tornou o principal “consigliere” presidencial. Uma espécie de general Golbery do Coutto e Silva em nova versão, mais acessível à imprensa e menos ardiloso.
P.S. 2 – Com essa mudança no mapa do poder, o governo não somente está de fato começando, como também pode até pegar embalo, se os militares conseguirem neutralizar Paulo Guedes, que sonha em entregar as chaves de Brasília para o pessoal de Wall Street. Aliás, se era para ter um banqueiro mandando na economia, teria sido melhor eleger logo o João Amoêdo, que foi vice-presidente do Unibanco. (C.N.)