Carlos Newton
É claro que não ia dar certo essa imitação da defesa de Lula da Silva, que se baseia exclusivamente na suposição de que o petista seria um “perseguido político”, tipo Nelson Mandela, Mahatma Ghandi ou Jawaharlal Nehru. Se não funcionou com Lula, que ainda é um líder político de renome mundial e recorreu até às Nações Unidas, seria óbvio que essa estratégia não iria ter êxito em relação a Flávio Bolsonaro, um mero deputado estadual sem a menor expressão, que somente se projeta na política pelo uso do sobrenome.
Essa versão de “perseguido político” para atingir Bolsonaro pai surgiu timidamente, quando o ex-assessor Fabricio Queiroz se recusou a depor. Falava-se no assunto, mas nenhuma autoridade tinha coragem de defender essa patética tese em público.
DISSE MOURÃO – O deputado Flávio Bolsonaro fazia insinuações a respeito, mas sem abrir o verbo. Até que no sábado, véspera de assumir a Presidência da República na viagem de Bolsonaro a Davos, o vice Mourão deu entrevista a Vinicius Sassine, de O Globo, e criticou abertamente a Procuradoria de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
“São várias pessoas investigadas nessa operação, na Furna da Onça. As quantias que estavam ligadas ao Flávio eram as menores. As maiores, se não me engano, eram ligadas a um deputado do Partido dos Trabalhadores. E ninguém está falando nisso. Eu acho que está havendo algum sensacionalismo e direcionamento nesse troço. Por causa do sobrenome. Não pela imprensa, que revela o que chega às mãos dela. O Ministério Público tem de ter mais foco nessa investigação” – afirmou Mourão.
JÁ SE SABIA – Quando o vice-presidente deu essa lamentável declaração, já era sabido que Flávio Bolsonaro não estava sendo perseguido pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Outros 26 deputados estaduais e seus assessores, citados no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras ( Coaf ), também eram alvo de investigações na área cível.
E mais grave: sabia-se também que, enquanto Flávio Bolsonaro se recusava a prestar depoimento, quatro dos principais acusados já tinham procurado o Ministério Público para dar explicações – os deputados André Ceciliano (PT), Luiz Paulo (PSDB), Paulo Ramos (PDT) e Tio Carlos (SD).
O desconhecimento demonstrado por Mourão exibe o amadorismo da Comunicação Social do Planalto, que não consegue sequer fazer um “clipping” (resumo das notícias”) para orientar os governantes. Se houvesse um “clipping”, o vice não ofenderia o Ministério Público.
MP REAGE – O procurador-geral Eduardo Gussem reagiu prontamente às acusações de Mourão. Reuniu a imprensa e mostrou que o MP está investigando 27 deputados e quase 80 assessores, não existe “perseguição política” a Flávio Bolsonaro nem a Fabricio Queiroz. Portanto, o vice Mourão perdeu uma boa oportunidade de ficar calado.
Gussem apresentou provas estarrecedoras, mostrando que a Assembleia do Rio se transformou numa verdadeira usina de corrupção e enriquecimento ilícito. E ressaltou que o MP não persegue ninguém, apenas cumpre sua obrigação.
Não sei se foi mera coincidência, mas o fato é que Bolsonaro vai se operar segunda-feira, dia 28, ficará no mínimo dez dias em recuperação, mas não vai passar a faixa ao vice Mourão, conforme era esperado.
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P.S. 1 – A versão de que Bolsonaro vai seguir “despachando” normalmente” dentro do Albert Einstein, em São Paulo, é mentirosa. Nenhum governante pode fazê-lo, porque isso obrigaria os ministros a viajarem de Brasília e tumultuaria a rotina do hospital. O mais interessante, intrigante e inquietante é a falta de motivo. O Planalto não apresentou a razão dessa esquisitice.
P.S. 1 – A versão de que Bolsonaro vai seguir “despachando” normalmente” dentro do Albert Einstein, em São Paulo, é mentirosa. Nenhum governante pode fazê-lo, porque isso obrigaria os ministros a viajarem de Brasília e tumultuaria a rotina do hospital. O mais interessante, intrigante e inquietante é a falta de motivo. O Planalto não apresentou a razão dessa esquisitice.
P.S. 2 – Como não há motivo, surgem as especulações: 1) Bolsonaro não acha Mourão competente? 2) O presidente teme que o vice crie algum problema? 3) Ou tem medo de que ele goste da experiência?
P.S. 3 – O certo é que, como dizia o Barão de Itararé, há algo no ar e não são os aviões de carreira rumo a Davos. (C.N)