Carlos Chagas
A esperteza, quando é demais, come o esperto, costuma-se falar em Minas. Pois o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff estão em vias de ser deglutidos por conta da ânsia de inaugurarem obras que não são obras. Tome-se, esta semana, a ida deles a mais um trecho da Norte-Sul. Quantas vezes já inauguraram seus trilhos e dormentes, não raro em trajetos de poucos quilômetros? Do jeito que vai a implantação da ferrovia, até que chegue a Brasília, pelo menos três novos presidentes da República deverão comparecer duas vezes por ano ao interior do Tocantins e de Goiás para iludir os ingênuos. Mais tempo levará para que a estrada faça jus ao nome, de interligar o Norte ao Sul do país.
Não é possível que a opinião pública deixe de registrar a armação, agora que nos encontramos em plena campanha eleitoral. Tome-se a propaganda antecipada do PAC II, que vem por aí enquanto o PAC I não realizou nem a metade do anunciado.
Com todo o respeito, o presidente e a candidata andam brincando com coisa séria. Inauguram até canteiros de obra, boas intenções e projetos que não saem das pranchetas. Tornam-se objeto da má-fé das empreiteiras e da vaidade de prefeitos e governadores. Talvez imaginem vir daí a imensa popularidade do governo, mas estarão enganados. A identificação da sociedade com o Lula tem outras raízes, a começar pelas iniciativas no campo social, difíceis de ser inauguradas com bandas de música e palanques, mas efetivas.
Em defesa do morcego
No Senado, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes deu um exemplo que seria cômico se não fosse trágico. Disse que em Rondônia existe ao menos uma jazida de calcáreo, matéria essencial para a produção de fertilizantes. Pois bem, a jazida está fechada por ação do Ibama, obrigando os agricultores locais a importar calcáreo da Bolívia, a preços multiplicados.
Por quê? Porque numa das grutas antes exploradas descobriu-se uma espécie de morcego que vem sendo obrigada a buscar outro local para reproduzir-se. O barulho das escavadeiras faz os sobrinhos do Batman perderem a tesão…
Acordo assinado, só em junho
A gangorra do PMDB não para de subir e descer. Michel Temer voltou a tornar-se otimista diante da hipótese de vir a ser escolhido companheiro de chapa de Dilma Rousseff. Semana passada o parlamentar paulista andou em depressão, certo de que o presidente Lula conseguiria afastá-lo, tendo em vista a pesquisa eleitoral do Ibope, levando a candidata a encostar em José Serra. O raciocínio no palácio do Planalto era de que, continuando os percentuais a crescer, Dilma não precisaria fazer concessões a nenhum aliado, podendo selecionar quem quisesse para seu vice.
Pois os ventos mudaram quando alguém lembrou que a verdadeira força do PMDB não está nos minguados votos capazes de ser trazidos por Temer. Está no tempo de televisão de que o partido dispõe no horário de propaganda gratuita no rádio e na televisão. Sem o acordo formal e assinado em torno de seu presidente, nada feito. Serra teria quase o dobro de aparições nas telinhas e microfones…
Indecisões
Pelo menos duas decisões o governo Lula vem empurrando com a barriga, podendo encerrar seu mandato sem adotá-las: a compra dos aviões de caça para a Força Aérea e a licença para que os bingos voltem a funcionar.
No primeiro caso, chega a ser ridículo verificar que para comprar 36 caças a administração federal hesite tanto, quando se sabe que apenas um, dos mais de vinte porta-aviões dos Estados Unidos, carrega 180 de última geração.
Com relação aos bingos, unem-se governo e igreja católica para supor a presença do capeta nas salas desse jogo inocente e tão profilático para a cabeça das velhinhas desocupadas.
Bem que o presidente poderia decidir, fazendo a alegria das forças armadas e das nossas avós…
Fonte: Tribuna da Imprensa