Arnaldo Bragança, Petrópolis
“Quero agradecer a aula sobre o dólar. Tenho 29 anos, formado em Direito, e no segundo ano de Economia. Imprimi o que você escreveu, mostrei aos professores, não sabiam de nada. Tenho uma grande curiosidade: o Plano Marshall tem a ver com essa questão do dólar? E por que o nome? Muito obrigado”.
Comentário de Helio Fernandes
Antes de mais nada, meus parabéns. Formado em Direito, se formando em Economia, não pare por aí. Sem o dólar moeda de troca universal criado em 1944, não haveria de jeito algum o Plano Marshall, logo em 1946. E sem este, quase toda a Europa Ocidental seria sovietizada.
Praticamente destruídos, os países não teriam recursos para a reconstrução nem para começar o desenvolvimento. Os americanos não agiam por generosidade ou impulso, mas plano e idéia, geniais.
Em 1946, pela Revista O Cruzeiro, fiz minha primeira viagem à Europa. Não havia nada em pé, a guerra praticamente terminara. Me concentrei na Alemanha e Inglaterra. Cidades totalmente destruídas. Colônia, na Alemanha, a Prefeitura, funcionando num galpão, com três maquetes. A cidade antes, agora, e a do futuro.
(Coventry sem nada em pé, também reconstruída. Anos depois em novas viagens, tudo completamente reconstruído).
O primeiro cheque veio dos EUA em março de 1946. (A guerra acabou em 8 de maio de 1945). Era de 13 BILHÕES de dólares, festival completo. Foram divididos e depois suplementados. O efeito político, social e administrativo, sensacional. O custo para os EUA, ZERO, era só imprimir e enviar.
A União Soviética iniciava a derrocada, completada pela formidável corrida armamentista dos americanos, que os soviéticos não conseguiam acompanhar. Estes ainda conseguiram construir os submarinos nucleares, Mas à medida que o tempo passava, iam ficando para trás.
Os americanos, de dentro da União Soviética, tiveram a ajuda de Gorbachov e de Yeltsin. Se não fossem esses dois, teria havido na certa a guerra EUA-União Soviética, que se transformou na custosa e famosa Guerra Fria, inacreditável.
O general Marshall foi o senhor da guerra. Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, comandou tudo. A Europa, desesperada, bradava pela “Segunda Frente”. Organizada por Marshall. Indicou para chefiá-la, seu chefe de gabinete, Eisenhower. Não quis ser presidente em 1952, indicou o mesmo Eisenhower.
(Quem queria ser e não conseguiu, foi o “Imperador” McArthur. Mas isso já é outra história).
* * *
PS – A propósito da sucessão de Truman. Vice, assumiu com a morte de Roosevelt. (Um estadista substituído por um medíocre total). Eleito em 1948, queria a reeleição em 1952, o máximo permitido. Tinha ciúme de McArthur e a quase certeza de que teria que enfrentá-lo. Só o chamava de “Imperador”.
PS2 – No final de 1950, chamou o general que administrava o Japão. Foi, Truman era o presidente. Desceu em Nova Iorque, teve recepção extraordinária, igual a de Lindbergh, quando voltou, depois de ter atravessado o Atlântico naquele “aviãozinho” em 1927.
PS3 – McArthur viajou para Washington no “Trem dos Congressistas”, foi direto à Casa Branca. Levado ao “Salão Oval”, Truman falou: “General, pode sentar”. E aquele homem altíssimo, personalidade impressionante, respondeu: “Fico em pé mesmo, o que vou dizer é rapidíssimo. Quem vai derrotá-lo, presidente, não sou eu, é o general Eisenhower”.
Acenou com a mão, deu boa tarde seco e ríspido, foi embora. Pouco mais de 1 ano depois, 1952, Eisenhower era eleito. Ficou 8 anos, até 1960. Não ficou mais, a Constituição não permitia.
Helio Fernandes /Tribuna da Imprensa
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