MATHEUS MAGENTA
da Agência Folha, em Salvador
Uma investigação da força-tarefa do Ministério Público da Bahia apontou a participação de policiais militares no assassinato de 14 pessoas e no desaparecimento de outras três em Vitória da Conquista (505 km de Salvador), no sul do Estado.
Os crimes ocorreram entre os dias 29 de janeiro e 2 de fevereiro deste ano, mas só agora os promotores apontaram indícios de relação entre eles. As mortes, segundo o procurador-geral de Justiça da Bahia, Lidivaldo Britto, foram uma retaliação ao assassinato do PM Marcelo da Silva, 32.
"Não há como negar que foi uma operação policial. Eles usaram carros da corporação para sequestrar e matar aquelas pessoas", afirmou Britto, que lidera a força-tarefa formada por sete promotores.
O principal suspeito da morte do policial é um jovem de 17 anos, apontado pela polícia como integrante de uma facção criminosa que vende drogas na região. Apreendido e encaminhado para a Case (Comunidade de Atendimento Socioeducativo), ele nega o crime.
Segundo Britto, a maioria das vítimas (com idades entre 15 e 44 anos) tem passagem pela polícia e é suspeita de integrar a facção. Há exceções, como a cunhada do suspeito do homicídio, desaparecida desde o início deste mês. Ela não tem ficha criminal na polícia.
Os promotores apontam a participação dos policiais nos crimes com base em depoimento de testemunhas, que já identificaram três agentes.
Como ainda não foram reunidas provas materiais, a investigação da força-tarefa só será concluída após a análise de exames periciais (como o de balística) e a exumação dos corpos de algumas vítimas.
As polícias Civil e Militar também abriram duas investigações paralelas sobre os crimes. Segundo o coronel Hélio Gondim, do setor de comunicação da PM baiana, "a sindicância ainda está em andamento, por isso não é prudente dar informações sobre o caso".
Outro lado
Ele não quis comentar as declarações do procurador-geral de Justiça, mas afirmou que "quem errar, que responda por isso, seja policial ou não".
Nos últimos dois anos, o número de processos disciplinares instaurados na Corregedoria da PM cresceu 57%, de 410 para 644. Para Gondim, o aumento é explicado "pelo fortalecimento do acesso democrático da sociedade aos mecanismos de controle da polícia, como corregedoria e ouvidoria".