Encerrado o período momesco tratemos sobre os carnavais brasileiros e suas peculiaridades. Falo do carnaval do frevo pernambucano, do frevo baiano introduzido da década de 70 do século passado e agora Axé, antecedido pelo deboche de Luís caldas e do carnaval das marcinhas cariocas.
Até a década de 70 o carnaval realçado pela imprensa era o dos bailes nos clubes sociais, mantendo-se, em paralelo, sem concorrência entre si, os blocos de ruas. Estes, durante o dia, e os bailes a noite.
Até 70 preponderava como ritmos predominantes o frevo pernambucano e as marcinhas cariocas. O primeiro do “vassourinha” e o segundo do “mamãe eu quero..., e por ai afora. Foi nessa época que o trio elétrico da fubica de Dodô e Osmar foi convertida em trio modernizado e com maior potencia de som e Caetano Veloso e Moraes Moreira deram início ao frevo baiano que fortaleceu o trio elétrico que mandou em Salvador até o surgimento do Axé.
Em Salvador o destaque eram os bailes do baiano de Tênis, da Associação Atlética, do Clube Português, da Casa D’ Itália, Fantoches e outros mais. Durante o dia o carnaval começava no sábado com as Muquiranas e os blocos sem trio, como os Internacionais, Coruja, Barão, do jacu (sem cordão de isolamento), Filhos de Ghandi, Apaches do Tororó, além das escolas de samba a imitar o carnaval carioca. Os bailes e as escolas de samba sucumbiram com o fortalecimento do trio Elétrico e a industrialização do evento.
O carnaval carioca sempre teve seu forte nos desfiles das escolas de samba com torcida idêntica ao futebol, nos blocos de ruas e nos famosos bailes retratados nas revistas com toda suntuosidade. Quando Leonel Brizola, por sugestão de Darcy Ribeiro, construiu o sambódromo, inicialmente satirizado pela TV Globo nos programas humorísticos, o carnaval deu uma guinada com uma mercantilização dos desfiles das escolas de samba difundida com toda força pela TV Globo que até hoje detém os direitos de transmissão. Sob o novo processo desapareceu, o glamour dos bailes, e o carnaval de rua ficou as escondidas, exceto com citações passageiras sobre a Banda de Ipanema e o bloco Bola Pretas. O carnaval de Rua do Rio de Janeiro, somente no carnaval findo, é que foi resgatado e mereceu destaque na imprensa, não com a intensidade da divulgação dos carnavais de Salvador e Recife.
Confesso que não sei dar informações precisas sobre o carnaval de Recife, salvo sobre o ritmo alucinante do seu frevo e da abertura para a participação ativa da população sem limitações, como Salvador, na fase inicial dos trios elétricos que eram poucos e desvinculados a blocos e destinados a todos (lembro de alguns como o as saborosa, da Pitu e mais uns cinco ou seis). Caetano Veloso é que tinha razão quando disse que não vai atrás do Trio Elétrico quem já morreu. (Hoje a realidade é outra, e não vai atrás do trio elétrico que não tem dinheiro para pagar os custos com a aquisição do abadá).
Uma coisa é certa. No entorno do carnaval de qualquer lugar há um processo de mercantilização onde os interesses financeiros se sobrepõem a preservação dos valores. Assisti na TV Bandeira que no marco ou ponto zero de Recife passaram, sambistas e representantes de outros ritmos, cessando o bairrismo pernambucano pelo frevo. Não sei como estão se sentindo os puristas do ritmo. Em Salvador com o processo de fortalecimento dos trios o carnaval passou a ser aberto a todos os ritmos, sem traumas e sem medo da concorrência, lá se exibindo sambistas, roqueiros e forrozeiros, pecando o carnaval de Salvador pelo caráter elitista dado as ruas. Os espaços para o pipoca ficou cada vez menor e os blocos independentes são limitados.
A indústria do entretenimento do carnaval passou a ser o grande negócio e gira milhões de reais para os seus promotores e quem se aproveita dele, para a rede hoteleira, o comércio informal e catadores de latas e quem mantém seus negócios voltados para o carnaval.
Como eu sou de Jeremoabo e tenho residência fixa em Paulo Afonso, não posso esquecer de ambos. Jeremoabo, meu triste Jeremoabo, abandonado e entregue a sorte, renunciou ao carnaval há muito tempo. Lá já não tem pão e se retirou o circo. Até o início de minha adolescência preponderavam blocos de rua, desfile de caretas e pessoas travestidas, muito talco e o primeiro trio elétrico da região de iniciativa de Manoel de Chico Capitão. Era uma festa só. Botou o trio elétrico na rua só não ia quem já morreu. Acontece que em Jeremoabo o carnaval também morreu.
Carnaval em Paulo Afonso? Quando me estabeleci em Paulo Afonso não havia carnaval de rua e o forte eram os bailes no CPA e no COPA. Os dias reservados ao carnaval eram como um domingo, sem qualquer movimento, silencio quebrado pela passagem de um ou outro bloco, As Boas, Caveira e não lembro de outros porque meus carnavais aqui eram raros. Em certo carnaval, Figueiredo que era Prefeito nomeado colocou um trio pequeno que saiu sem ninguém atrás.
Se o carnaval aqui era quase inexistente com a COPA Vela ele acabou de existir, sendo mantido por alguns blocos.
É preciso entender que é preciso participar e deve isso ser oportunizado a todos. Entendo que o carnaval fora de época, a Copa Vela, realizada no mês de setembro, não deveria sepultar o carnaval. Mesmo sem carnaval organizado pelo Poder Público Municipal, no sábado, antes de ir para Aracajú, notei muita gente de fora. Não há que se alegar que não há como concorrer com o carnaval de Salvador ou Recife, isso é balela. Estes são carnavais de alto custo e alto risco de insegurança. Dada uma canja, o carnaval atrairá residentes da região e de outras cidades e movimentará os negócios no Município gerando emprego e renda.
Quando Zé Ivaldo foi candidato a Prefeito entre nós, na campanha, foi trazido o trio elétrico Pau de Arara, de São Bento do Una, ao que me parece, e depois dele começou o processo de baianização do carnaval de Paulo Afonso com a exibição de trios no carnaval. Foi bom enquanto durou.
A praça é do povo e se a praça é do povo é nas ruas que o povo deve brincar. Repensar nos antigos bailes de carnaval é procurar ressuscitar defunto e quem operou milagres foi Cristo não mais entre nós de corpo presente.
Mesmo não sendo folião, destinemos a praça ao povo.
Paulo Afonso, 20 de fevereiro de 2010.
Fernando Montalvão.