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quinta-feira, janeiro 14, 2010

A estaca da barraca

Dora Kramer


O presidente Luiz Inácio da Silva aproveitou ato administrativo do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida para dar um aviso geral aos navegantes, em seu discurso de estreia no ano eleitoral: não será mais o “Lulinha paz e amor” porque não é candidato.

Depois de confessar que a face amena de 2002 foi uma construção feita ao molde da necessidade da eleição, Lula não informou quem exatamente será durante a campanha de 2010, embora tenha dado uma pista ao informar que está preparado “como capoeirista” para enfrentar os adversários.

Por esse critério, depreende-se que vá sobrar pernada.

Mas mais que isso não se entende a respeito do que fala o presidente. Alude a um cenário de guerra de extermínio quando diz que identifica sinais de que a oposição não terá “discursos programáticos” e que, portanto, distribuirá “chutes do peito para cima”.

Em quem, nele ou na candidata Dilma Rousseff ? Lula parece esperar que seja o alvo, mas até pelo receio de fazer um enfrentamento pesado com presidente popular como ele não parece ser essa a intenção dos oponentes.

Avançando para além dos “sinais” de agressão presumida, Lula diz estar “convicto do que vai acontecer neste país no processo eleitoral”.

A curiosidade sobre o que “vai acontecer neste país” é aguçada pelo acréscimo que faz o presidente à sua previsão. Segundo ele, haja o que houver nada vai fazer com que perca “um milímetro” do seu bom senso e “desvie o país do caminho em que estamos hoje”.

Estaria o presidente se referindo ao caminho democrático? Nesse caso, suas garantias soam como temeridade, pois admitem como raciocínio hipotético a possibilidade de que algo justifique o “desvio” que, apenas por obra de seu “bom senso”, será evitado.

“Vocês estão vendo”, continuou ele para a plateia, “mais ou menos o perfil do discurso que vai ocorrer, o tipo de agressão, o tipo de insinuação.”

Como o presidente joga com a ambiguidade, não fala sobre o que sustenta suas convicções, não diz quais são elas nem explicita quais os sinais de preparativos para “chutes no peito”, é de se supor que fale das críticas que são feitas a ele, ao seu governo, à candidata oficial, ao PT, a condutas e a procedimentos erráticos como a edição de um decreto que é um verdadeiro monumento em matéria de abertura de frentes de conflitos.

Por seu discurso inaugural de 2010, o presidente Lula pretende criminalizar o contraditório.

Além de preventivamente transferir ao oponente a responsabilidade da iniciativa que ele mesmo tomou ao vislumbrar sinais de agressão no horizonte e, no lugar de rechaçar a violência, avisar que o “Lulinha paz e amor” era só um figurino passageiro que deu frutos e se acabou.

Olho no lance

Em meados do ano passado, logo que se começou a falar no nome do presidente da Câmara, Michel Temer, para vice de Dilma Rousseff, a cúpula do PMDB dizia que só havia uma possibilidade de se alterar a escolha: se o PSDB fosse de Serra/Aécio e o governo precisasse de Hélio Costa para marcar a presença de Minas Gerais na chapa.

Agora os peemedebistas mais ligados ao Planalto começam a considerar aquela solução, mesmo Hélio Costa sendo o líder nas pesquisas para governador.

Certamente não é porque o PMDB esteja interessado em deixar o espaço aberto para quem venha ser o candidato do PT de Minas.

Mas talvez seja porque identificam chance de Aécio Neves vir a formar dupla com José Serra deixando a vaga ao Senado para o atual ministro das Comunicações tentar a renovação de seu mandato que é exercido pelo suplente Wellington Salgado.

Donos do jogo

Os deputados responsáveis pela montagem das investigações de faz de conta na Câmara Distrital de Brasília, para impedir o julgamento dos pedidos de impeachment contra o governador José Roberto Arruda e evitar a punição dos parlamentares envolvidos, não são ovelhas desgarradas.

Pertencem a partidos: DEM, PSDB, PPS, para citar as legendas de oposição que no Congresso reclamam que são impedidas pela maioria governista de cumprir seu papel de fiscalização.

Considerando que pela lei, reforçada na interpretação recente do Supremo Tribunal Federal, os partidos são os donos dos mandatos, cabe a eles a responsabilidade sobre os atos dos deputados a eles filiados.

Mas nenhuma das direções dos três partidos deu nem foi cobrada a dar palavra a respeito do que pensam da armação ou sobre como – e se – pretendem orientar os respectivos representantes a atuar fora da pauta da farsa.

Missão cumprida

Síntese da solidariedade, Zilda Arns morreu como viveu, trabalhando ao lado de quem precisa. Uma artimanha trágica, mas significativa, do destino.

Fonte: Gazeta do Povo

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