Dora Kramer
Quando José Serra deixou o Ministério do Planejamento, em 1996, para concorrer à prefeitura de São Paulo e perdeu a eleição sem conseguir chegar ao segundo turno, que acabou disputado por Celso Pitta e Luiza Erundina, todas as previsões eram de que não teria mais cacife para ser candidato majoritário.
Depois disso, ganhou uma eleição de prefeito, uma de governador e desde então vem mantendo a dianteira nas pesquisas de intenção de votos para presidente em 2010.
Heloísa Helena teve um desempenho aquém do imaginado na eleição presidencial de 2006 – 6,85% dos votos –, ficou três anos longe da vitrine do Senado e, até desistir da candidatura presidencial em 2010, ainda aparecia nas pesquisas na casa dos dois dígitos, com índices entre 11% e 15%.
Ciro Gomes concorreu a presidente em 2002, terminou a eleição em quarto lugar (11,97% dos votos) depois de ter vislumbrado a possibilidade de vitória e em seguida se tornado vítima do próprio temperamento. Passou a maior parte do governo Luiz Inácio da Silva relativamente longe do noticiário, primeiro como ministro e depois como deputado e, quando entrou nas pesquisas para 2010, chegou a ameaçar o segundo lugar da ministra Dilma Rousseff, com índices variando entre 14% e 25%, dependendo do cenário.
Geraldo Alckmin subiu ao pódio do segundo turno com Lula em 2006, conseguiu a façanha de sair da etapa final menor do que entrou – eleitoral e politicamente falando –, foi eliminado ainda no primeiro turno da eleição para prefeito em 2008 e hoje lidera com folga (50%) as pesquisas para governador de São Paulo.
O senador Aloizio Mercadante nos dois últimos anos enfrentou dissabores como a abstenção da votação do processo por quebra de decoro contra o então presidente do Senado, Renan Calheiros, e mais recentemente o episódio da revogada renúncia “irrevogável” à liderança do PT por causa do mesmo tipo de problemas, desta vez envolvendo o senador José Sarney.
Mercadante aparece em primeiro lugar na pesquisa Datafolha para o Senado em São Paulo.
O exemplo de Lula é um clássico. Perdeu três eleições presidenciais, sendo duas no primeiro turno, e ganhou outras duas, sendo uma na adversa condição da companhia de escândalos ocorridos no primeiro mandato e no decorrer (dossiê dos aloprados) da campanha propriamente dita.
Quando se preparava para disputar sua quarta eleição presidencial, de 2002, Lula enfrentava o descrédito de muitos correligionários e o menosprezo dos adversários, certos de que estaria mais uma vez fadado ao fracasso.
Em comum entre esses casos há o acúmulo do capital eleitoral conquistado em disputas passadas, mostrando como o peso da presença de um político em eleições é importante para a construção do patamar a partir do qual projetará os desempenhos futuros. Pelos dados, os fracassos contam menos que a trajetória de presença na cabeça do eleitor.
Isso, pelo menos, na largada.
Um derrotado de ontem pode ser o recompensado de amanhã. Mas, para o estreante, é tudo mais difícil. Sofre a desvantagem da dúvida e da hesitação naturais em relação ao desconhecido.
Pode residir aí uma explicação para a ainda pífia performance da senadora Marina Silva (faz o maior sucesso até no exterior, é figura respeitadíssima, mas disputou só uma eleição e pelo Acre) nas pesquisas se comparada ao impacto provocado pelo anúncio de sua saída do PT e filiação ao PV para se candidatar à Presidência.
Provavelmente justifica-se por aí a vagarosa caminhada da ministra Dilma Rousseff que, segundo prognósticos feitos por especialistas, por aliados e adversários políticos, chegaria ao fim do ano com 30% nas pesquisas. Está com 23%. Se vai ou não deslanchar, só o começo do jogo de verdade dirá. Assim como vai dizer se a vantagem de José Serra é só produto da memória ou se é de fato fruto da vontade do eleitor.
Posto mesmo está que na política a persistência pode ser mais vantajosa que a invenção de personagens.
E demonstrada também fica a importância de os partidos interessados em pilotar a nave do poder, e não fazer parte dela sempre como passageiros, disputarem eleições.
Presidenciais ou estaduais. O PMDB, por exemplo, já desistiu de um projeto nacional, mas não abriu mão de concorrer aos governos dos estados porque só com isso pode levar adiante sua política de fortalecimento regional e representação forte no Congresso.
Sem candidatos majoritários, some. Não comanda máquinas estaduais nem elege parlamentares federais.
É o ponto da discórdia entre PT e PMDB. Em 2010 ambos querem o mesmo. Ocupando um só espaço em aliança de palanque único nos estados, um dos dois fracassa em seu intento. Por isso o PMDB briga com o PT, o PT resiste ao PMDB e ficam loucos para brincar separados.
Desigual
A ministra Dilma o presidente desautoriza, mas Serra e Aécio Lula chama de craques. Não é justo.