Carlos Chagas
Acontece com todo mundo. Quando o presidente Ernesto Geisel fechou o Congresso e baixou o pacote de abril de 1977, o senador Petrônio Portella, artífice da abertura política então arcabuzada pela truculência militar, declarou ser aquele o dia mais triste de sua vida.
O mesmo havia sido dito por Tancredo Neves, então ministro da Justiça, quando do suicídio do presidente Getúlio Vargas, em agosto de 1954.
Exemplos iguais encontramos ao longo de nossa história política, assim como na existência de todo ser humano.
O novo autor do “dia mais triste da minha vida” é o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, quando embarcava de volta ao Brasil, depois da fracassada Conferência Mundial do Aquecimento Global, em Copenhague. Convenhamos, o comentário feito por quem o fez beira as raias do histriônico. Queria o quê? Que os países ricos abrissem mão de seus privilégios e inaugurassem nova etapa na História da Humanidade? Como, se nem convencer a chefe da delegação brasileira ele conseguiu, durante os trabalhos?
Dia triste deve ter vivido também a ministra Dilma Rousseff, quando se opôs à sugestão da ex-ministra Marina Silva, de o Brasil disponibilizar um bilhão de dólares para ajudar os países pobres a combater a emissão de gás carbônico. Referiu-se às “cosquinhas” que a quantia nem faria. Vinte quatro horas depois o presidente Lula desmentia sua candidata e era aplaudido de pé pelo plenário da conferência, ao anunciar que nós iríamos contribuir com recursos. Antes, a chefe da Casa Civil já havia sido criticada por afirmar que o meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável…
Sucedem-se os dias tristes, porque ainda no fim de semana o instituto de pesquisas Vox Populi divulgou que Dilma continua com 18% das preferências eleitorais, frente a 39% de José Serra. Apesar de o governador paulista haver tido sua tristeza quando da abrupta renúncia de Aécio Neves às pretensões presidenciais.
Desses episódios emerge para a maioria dos personagens a evidência de que dias tristes continuarão se sucedendo, restando a todos, por enquanto, não classifica-los superlativamente. Outros mais virão…
Sem saída
A revelação do mais recente depoimento do quadrilheiro Durval Barbosa deixa o governador José Roberto Arruda em situação ainda pior. Ao Ministério Público o aprendiz de cinegrafista denunciou que Arruda exigiu três milhões de reais das empresas de informática prestadoras de serviço ao governo do Distrito Federal. Imagine-se as empresas contratadas para a prestação de outros serviços, como transportes coletivos, saneamento, construção civil, saúde, educação e quantos mais?
O país está de férias, ou, pelo menos, o país oficial, mas quem sabe Papai Noel traga de presente a iniciativa de algum promotor público, juiz ou tribunal, acabando com as festas do governador?
Trabalhando em silêncio
Depois de lançado pré-candidato do PMDB a presidente da República, com o apoio de quinze diretórios estaduais do partido, o governador Roberto Requião ganhou mais um. Acaba de receber a adesão dos peemedebistas de Goiás, com o prefeito de Goiânia, Íris Resende, à frente. E com dupla singularidade capaz de fazer muita gente pensar: também batizada como Íris, mas Araújo, a ex-mulher do prefeito, atual presidente nacional do PMDB, assinou o documento em favor da candidatura própria.
Começa a elevar a temperatura no maior partido nacional a exigência do presidente Lula de receber uma lista com três possíveis candidatos à vice-presidência na chapa encabeçada por Dilma Rousseff . A indicação parecia acertada em torno do presidente da Câmara, Michel Temer, mas, pelo jeito, ele não agrada nem o Lula nem sua candidata.
A horta do Ciro
A mais recente pesquisa eleitoral, da Vox Populi, prenuncia que também vai chover na horta de Ciro Gomes. Ele está empatado com Dilma Rousseff nos percentuais de preferência, mas muito melhor colocado nos índices de rejeição. Seu partido, o PSB, prepara intensa campanha para o começo do ano, quando o ex-governador e ex-ministro começará a aumentar o diapasão de suas críticas ao governo Lula. Com isso, afastará por completo a hipótese de candidatar-se a governador de São Paulo, com o apoio do PT. Os companheiros tendem a fixar-se em Antônio Palocci para o palácio dos Bandeirantes.
Fonte: Tribuna da Imprensa