Carlos Chagas
Conflito, propriamente, não há. Mas é evidente o descompasso, capaz de confundir incautos, ingênuos e até malandros. Falamos das prévias eleitorais, duas delas divulgadas no fim de semana: a Datafolha e a Vox Populi.
Pela empresa paulista, José Serra dispõe de 37% das preferências e Dilma Rousseff, 23%. A conclusão da Folha de S. Paulo, expressa em manchete de primeira página, foi de que a candidata do PT encurtou a diferença. Resultado: euforia entre os companheiros.
Já a pesquisadora mineira mostrou que Serra tem 39% e Dilma, 18%, sem constar na consulta possíveis candidatos à vice-presidência. Com estes, aleatoriamente indicados, a diferença cresce: o governador paulista com 44% e a chefe da Casa Civil com 21%. Festa no ninho dos tucanos, mas confusão generalizada para quem tenta analisar os números com isenção.
Mas tem mais, para levar o eleitor à perplexidade e à desconfiança. Como quem não quer nada, os dois institutos de pesquisa indagaram em quem os consultados votariam espontaneamente, sem indicação dos candidatos. O Datafolha deu 20% para o presidente Lula e 8% tanto para José Serra quanto para Dilma Rousseff. O Vox Populi revelou 18% para o Lula, 11% para Serra e 7% para Dilma. Tendências inequívocas em favor da continuação do primeiro-companheiro no poder. Um perigo que muitos fingem não perceber, mas diante do qual os institutos se defendem.
Os exemplos da família
De início, o óbvio: merecem estar na cadeia o governador de Brasília, José Roberto Arruda, e toda a quadrilha de deputados distritais, secretários, assessores, empresários e, dizem, até integrantes do Poder Judiciário. Não terão sido os primeiros a enlamear a imagem da capital, mas a dimensão da roubalheira a que se lançaram não deixa dúvidas a respeito do mal praticado. Marcaram o Distrito Federal com o ferro em brasa da corrupção, tão utilizado na maioria ou até na totalidade dos outros estados.
Por certo parece insuficiente o argumento do mau exemplo, para explicar a lambança aqui promovida por esses abomináveis governantes. Mas bastará para afastar a frustração de uns tantos energúmeros hoje empenhados em extinguir a capital federal porque, apesar de tudo, aconteceu aqui o que já acontecia ao nosso redor.
Não será por conta da devastação promovida por Paulo Maluf, além de companheiros de Ribeirão Preto, Santo André e alhures, que se concluirá deva São Paulo ser banido da Federação. Muito menos deve-se alterar o mapa do Brasil porque antigos governadores de Minas, Alagoas, Pará e os demais estados foram flagrados com a mão nos dinheiros públicos.
Vale o mesmo para o empresariado nacional. Justificariam o fim do capitalismo as centenas de empresas empenhadas em corromper, distribuir propinas e reservar comissões para obter contratos de serviços públicos?
Trata-se de ignorância, má-fé e senilidade vincular a bandidagem agora descoberta em Brasília à sua criação e à sua existência. Sem esquecer que por ser a irmã mais nova, a capital federal seguiu os exemplos da família…
Leque aberto
Caso o PMDB persista na tendência de apoiar Dilma Rousseff, quem o partido indicará para companheiro de chapa da candidata? Michel Temer acaba de ser arcabuzado pelo presidente Lula com a tal lista tríplice que ele espera receber de seus dirigentes. Henrique Meirelles? Edison Lobão? Sérgio Cabral ou Nelson Jobim? Quem sabe Roberto Requião?
E o vice de José Serra, na hipótese de Aécio Neves continuar intransigente? Inventaram a senadora Katia Abreu, como falaram em Jarbas Vasconcelos, mas o vazio será grande, sem o governador de Minas.
Fonte: Tribuna da Imprensa