George Brito A TARDE
Manhã de terça feira, dia 7 de julho, sala 504 do Centro Médico Salvador. No local funciona um consultório psiquiátrico e os pacientes são os rodoviários que trabalham no sistema de transporte coletivo de Salvador. A sala de espera está lotada. Os pacientes são motoristas e cobradores que apresentam algum tipo de transtorno mental. Alguns dos que estão ali sentados à espera de atendimento são avaliados como incapazes de dirigir mas estão diariamente sentados de frente para o volante de um coletivo. “Atendo vários rodoviários esquizofrênicos que são liberados pelo INSS (Instituto Nacional de Segurança Social)”, denuncia a psiquiatra Luciana Saldanha, que atende à categoria.A médica atende rodoviários desde em 2002 e o número de motoristas e cobradores com transtornos mentais vem aumentando. Hoje ela recebe pelo menos 20 pacientes às terças e, desde 2005, divide o trabalho com a psiquiatra Roberta Moraes, que atua em outro consultório. Preocupadas com o quadro agravante, elas estão catalogando os casos em um banco de dados e farão um estudo. Os dados já disponíveis assustam, embora sejam referentes a 2005, quando as duas psiquiatras apresentaram em congresso nacional resultados de uma pesquisa sobre o perfil de cobradores e motoristas de Salvador. Só naquele ano, foram diagnosticados 22 casos de esquizofrenia e transtornos delirantes. O número, referente a 12 meses, é quase o mesmo do total de benefícios auxílio-doença por transtorno mental concedidos pelo INSS em um período de cinco anos e meio. Ao todo, foram 23 benefícios. “Mesmo com remédios, o esquizofrênico pode apresentar sintomas. Ele pode descompensar”, afirmou Roberta Moraes, alertando sobre o risco de um motorista passível de alucinações dirigir um ônibus com até 70 pessoas, quando respeitada a lotação máxima. O transtorno mental é o terceiro mal que atinge a categoria e que gera auxílio-doença. As duas primeiras são doenças da coluna (111) e hipertensão (36). Elas representam 19,4% de um total de 872 benefícios concedidos em Salvador, em um universo de mais de mil patologias.O número relativo a transtornos mentais é considerado baixo pelas psiquiatras. “É um problema que a gente tem com o INSS. A gente indica a necessidade de afastamento e os peritos dizem que os rodoviários estão aptos”, afirma Roberta Moraes. Um obstáculo, aponta a médica, é que a instituição não conta com psiquiatras. “O esquizofrênico não reconhece que é doente. Então ele vai chegar lá e dizer que não tem nada”, afirmou. Segundo a chefe do setor de Perícia Médica do INSS em Salvador, Tânia Martins, não se pode relacionar doença com incapacidade de trabalho. “O perito atesta o grau de limitação para a atividade dada pela doença. Problemas mentais podem ser leves, moderados ou graves. O trabalhador pode ter um transtorno, está sob controle e trabalhar normalmente”, afirmou a médica.
A superintendência Regional do Trabalho e Emprego afirmou não ter autoridade para questionar a legitimidade de laudos do INSS. Segundo o chefe de fiscalização, erros em laudos devem ser revistos pela mesma instituição ou pela Justiça. Por nota, Weldo Matos informou não haver registros de denúncias referentes a problemas mentais decorrentes do trabalho.
Fonte: A Tarde
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