Fábio Fabrini
O inquérito da Polícia Federal referente à Operação Avalanche, que prendeu ontem 17 pessoas em Minas e São Paulo, mostra que Marcos Valério passou, no intervalo de alguns anos, de operador do maior esquema de corrupção já denunciado no governo Lula a gerente de distribuição de propina a policiais federais. De acordo com as investigações da PF, o publicitário e seu sócio Rogério Tolentino são citados, em conversas telefônicas do advogado Ildeu da Cunha Pereira, como os coordenadores de uma operação para encobrir fraudes da Cervejaria Petrópolis. A idéia era, por meio do pagamento de suborno, encomendar um inquérito contra fiscais da Secretaria da Fazenda de São Paulo.
Com ajuda de sua sócia, Eloá Leonor da Cunha Velloso, o advogado seria o elo de Valério com os policiais aposentados Paulo Endo e Daniel Ruiz Balde. A eles, caberia a tarefa de cooptar os delegados Antônio Vieira da Silva Hadano e Sílvio de Oliveira Salazar, lotados na Delegacia de Santos (SP), para que abrissem, com base em informações forjadas, investigação contra os fiscais Antônio Carlos de Moura Campos e Eduardo Fridman. A dupla aplicou multa milionária à Praiamar Indústria, Comércio e Distribuição Ltda., de propriedade da cervejaria Petrópolis. Valério era conselheiro da empresa.
A estratégia era também desmoralizá-los na imprensa, com a publicação dos dados, para desqualificar o trabalho dos profissionais e, possivelmente, anular a autuação. Uma revista semanal e jornais de Santos chegaram noticiar parte das informações.
PROPINA O inquérito aponta que os delegados e os federais chegaram a receber dinheiro pelo esquema. A quantia foi depositada na conta de um terceiro e, em seguida, rateada. Uma segunda parte da propina, no valor de R$ 1 milhão, foi apreendida com Ildeu antes de embarcar para Itanhaém (SP), onde seria feito o pagamento.
Na manhã de ontem, os policiais fizeram buscas nos escritórios de Tolentino, na Rua Sergipe, e Ildeu da Cunha, na Rua Cláudio Manoel, saindo com farta documentação. Ambos funcionam na região da Savassi, área nobre da capital mineira. O advogado do primeiro, Paulo Sérgio Abreu e Silva, esteve com ele e Valério até as 14h na Superintendência de Polícia Federal em Minas. "Ambos estão tranqüilos e dizem não saber qual é a sua ligação com o caso", afirmou, acrescentando que só na segunda-feira partirá para São Paulo e tomará conhecimento das acusações.
Ele diz que não vale a pena pedir relaxamento de prisão ou habeas corpus do cliente, pois a duração da prisão temporária, de 5 dias, é curta e os trâmites jurídicos para a liberação podem demorar mais. Tolentino é sócio antigo dos negócios de Valério. Durante o escândalo do mensalão, os dois foram apontados com responsáveis por empréstimos com o objetivo de financiar caixa 2 de campanhas petistas.
Apenas numa desses negócios, a comissão parlamentar de inquérito (CPI) dos Correios identificou a triangulação de R$ 35 milhões, dos quais R$ 10 milhões foram repassados, a título de empréstimo, ao escritório de Tolentino. O advogado e Valério foram os avalistas do dinheiro, que teria sido entregue ao PT.
Na ação penal movida pela Procuradoria-Geral da República contra os envolvidos no Mensalão, Tolentino responde por lavagem de dinheiro, corrupção ativa e formação de quadrilha. Valério está implicado nos três crimes, além de peculato e evasão de divisas. O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, informou que não tinha conhecimento das razões da prisão, já que tramitou em São Paulo. Ontem mesmo, ele embarcou para a capital paulista.
Fonte: Estado de Minas
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