Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Passou o fim de semana e a pergunta não foi respondida: quem vazou o dossiê sobre os gastos do governo Fernando Henrique com cartões corporativos foi o secretário de Controle Interno da Casa Civil, mas quem mandou? Nessa estranha lógica que comanda a ilegalidade em todo o País, deve-se buscar para baixo e não para cima. Terá sido o contínuo que serve cafezinho no quarto andar do Palácio do Planalto? Algum motorista de alguma autoridade desconhecida?
Não temos poupado aqui, há tempos, o ex-ministro José Dirceu, por todas as lambanças que fez. Mas é piada centralizar o noticiário no fato de que José Aparecido Nunes Pires foi nomeado para a função pelo ex-chefe da Casa Civil. Há quantos anos ele deixou o cargo? Quem foi responsável pela manutenção do indigitado funcionário? A quem ele respondia, em especial quando se decidiu organizar o tal banco de dados a respeito dos gastos do governo anterior?
Não duraram 24 horas o estado de euforia que cercou o depoimento de Dilma Rousseff no Senado. De novo, ela volta ao olho do furacão, porque se determinou ou se concordou com o vazamento, o fato só não será pior do que se não soubesse de nada. Ignorar o que se passa à sua volta é prerrogativa do chefe maior, e, se ela segue seu exemplo, pior para todos.
A gente fica pensando se tivéssemos mesmo oposição no País, onde estariam hoje as instituições? Certamente em frangalhos, caso encontrássemos Carlos Lacerda ou, mesmo, o PT dos velhos tempos, empenhados em elucidar a mais nova trapalhada dos tempos modernos.
Sustentável para quem?
Um dia depois do lançamento pelo presidente Lula do programa Amazônia Sustentável, simples reunião dos planos há décadas lá executados, prepara-se o senador Pedro Simon para fulminar as ilusões governamentais. Sustentável para quem, a Amazônia? Só se for para os estrangeiros, porque eles continuam adquirindo imensas glebas na floresta. E autorizados por lei sancionada pelo presidente Lula, no início de seu primeiro governo.
Qualquer gringo pode candidatar-se à posse de até 90 mil hectares amazônicos por 40 anos, renováveis por mais 40, lá se tornando verdadeiros reizinhos, podendo explorar madeira, ou seja, queimar a região, além de poderem prospectar e retirar do subsolo o que bem entenderem, sem falar na manipulação medicinal da flora para patentear suas riquezas além de nossas fronteiras.
Além disso, para obter empréstimos em bancos estatais, oferecerão como garantia as terras arrendadas até a terceira geração. O grave, dirá Pedro Simon num contundente discurso programado para amanhã, é que tudo acontece sob a égide do governo Lula, com o aval dos companheiros.
São todas governamentais
Para confirmar a farsa da existência das ONGs que se dizem não governamentais, mas mamam nas tetas do governo, eclodiu a crise envolvendo o deputado Paulo Pereira da Silva, do PDT. A pergunta que não quer calar é sobre a reação de Leonel Brizola se estivesse entre nós. Porque a lambança promovida pelas ONGs fajutas, em muito maior número do que as sérias, transformaram-se num meio de vida para os parasitas agarrados ao poder.
E olhem que o número de ONGs conduzidas pelo PDT é infinitamente inferior ao daquelas funcionando sob os auspícios do PT. Tem gente ganhando dinheiro aos montes, o que faz parte do sistema capitalista, mas dinheiro do governo, o que caracteriza corrupção da grossa, em especial quando se trata de entidades-fantasma, que nem serviços prestam à população.
Fôssemos um país sério e o Congresso já teria votado lei determinando que nenhuma ONG, direta ou indiretamente, poderia receber recursos do poder público, mesmo através de entidades financeiras ou empresariais dirigidas pelo governo. Nem Banco do Brasil, nem Petrobras, nem Caixa Econômica e, muito menos, nem o BNDES. Constituem-se empresas não governamentais, que vão buscar doações na iniciativa privada.
O problema é que em maioria as ONGs têm sido fundadas e são geridas por companheiros e penduricalhos, estes encontrados em todos os partidos da base de apoio oficial. Trata-se de expediente mais simples do que sair atrás de nomeações para o serviço público, feitas aos montes, porém mais complicadas. As ONGs sequer estão obrigadas a prestar contas do dinheiro que recebem do governo. Negócio melhor que o dos cartões corporativos.
Reorganização
Em linguagem militar existe uma situação denominada "parada para reajustamento de dispositivo". Ela acontece quando a tropa acaba de avançar e conquistar terreno adversário, em meio à natural confusão da conquista. Mas também ocorre no sentido oposto, ou seja, depois de um recuo ou de uma retirada tática necessária. É preciso reorganizar os pelotões, companhias e batalhões dispersos para que se contem as baixas e se tenha a relação do material bélico perdido ou aproveitável.
Assim estão as oposições, postas a correr depois do recente depoimento de Dilma Rousseff no Senado. Mesmo atirando, depois de conhecido o autor do vazamento do dossiê, não há como negar que os oposicionistas estão perdendo a batalha. Assim, necessitam de tempo para se recompor. Está sendo organizado um conciliábulo, de preferência secreto, com a participação dos principais líderes do PSDB, DEM e legendas menores, sem esquecer os dissidentes do PMDB. Torna-se necessário rever planos e revisar táticas, para manter viva a estratégia capaz de conduzir as oposições à vitória em 2010. Fora daí, será preferível a rendição, para poupar vidas.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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