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domingo, maio 11, 2008

O Senado tem um Maguila

Augusto Nunes
Ninguém cai como Maguila, começa a crônica do ótimo David Coimbra publicada em meados dos anos 90 pelo jornal Zero Hora. Perfeito. O sergipano Adilson Rodrigues, nosso bom e bravo Maguila, fez bonito num punhado de lutas, infiltrou-se no ranking dos 10 melhores pesos pesados, andou até flertando com o cinturão de campeão do mundo. Ainda que chegasse lá, não seria lembrado pelos nocautes que impôs, mas pelas quedas que sofreu.
Todas magníficas, nenhuma igualou a perfeição do desabamento que encerrou o combate contra Evander Holyfield. Quando o soco do grandalhão americano explodiu no queixo frágil, Maguila foi arrancado da superfície e flutuou por dois segundos a 15 centímetros de altitude. Então, o corpanzil de caminhoneiro começou a tombar de costas até a colisão estrondosa contra a lona.
"Madeira!", gritaria um lenhador canadense incorporado à imensa platéia de telespectadores se a medonha agitação do tronco não desmentisse a imobilidade da copa. De olhos fechados, Maguila materializou a imagem de Nelson Rodrigues: espanava a lona com arrancos de cachorro atropelado. Incomparável.
Na quarta-feira, tantos anos depois da aposentadoria do grande nocauteado, descobriu-se que o senador José Agripino Maia, do DEM do Rio Grande do Norte, tem tudo para transformar-se no Maguila da política brasileira. Talento não lhe falta, mostrou Agripino no confronto com a ministra Dilma Rousseff. E só treinar com afinco.
Como Maguila em seu começo, Agripino é impulsivo e perigosamente autoconfiante. Como Maguila em seu crepúsculo, sabe cair espetacularmente mesmo diante de adversários pouco musculosos. O começo do depoimento atestou que Dilma não é nenhum Holyfield. Agripino caiu por ter sido atingido na testa pelo golpe baixo que planejara para forçar a oponente a pendurar-se nas cordas.
Dilma estava claramente aflita até a espantosa entrada em cena do adversário. Agripino leu em voz alta o que dizia um recorte de jornal: a ministra contou numa entrevista que tinha mentido bastante nos tempos de presa política. Quase 30 anos depois dos interrogatórios, Agripino censurou-a por não ter confessado tudo. E quis saber se corria o risco de ouvir inverdades.
Ao confundir um depoimento rotineiro nas democracias com inquisições nos infernos da ditadura militar, ao confundir os senadores oposicionistas do começo do milênio com os torturadores dos anos de chumbo, Agripino expôs-se ao contragolpe que liquidou o combate no primeiro assalto.
Nas nove horas seguintes, à vontade diante de oponentes aturdidos, Dilma mentiu à vontade. Dispensada de golpear adversários – todos estavam no solo ao lado do potiguar sem cabeça – sobrou-lhe tempo para agredir o idioma e, sobretudo, a verdade. "Foi vazado informações", escorregou. "Todos os gastos com transporte foi objeto de análise", reincidiu minutos depois. Ninguém socorreu a gramática.
E ninguém tentaria socorrer os fatos, torturados todo o tempo por Dilma. Sem apartes, distribuiu verbas imaginárias, descreveu a vida agitada em canteiros de obras mortos no berço, percorreu estradas que só existem no mapa de Dilma. Ali se vê um Brasil que só ela e Lula conhecem. Nenhum senador chiou. Todos só pensavam no que fizera o Maguila potiguar.
Foi só uma questão de preço
Paulo Pereira da Silva sobrevive na placa pendurada na porta do gabinete ocupado no Congresso pelo deputado federal do PDT paulista. Nos domínios da Força Sindical, que fundou e governa, e na sede do diretório regional do partido, que preside, existe o Paulinho da Força. Ou simplesmente Paulinho: se alguém quiser localizá-lo, basta mencionar o diminutivo que abre o nome de guerra. Os serviçais, os correligionários e os companheiros saberão quem é.
Durante a operação montada para desbaratar a quadrilha especializada em tungar o BNDES, investigadores da Polícia Federal grampearam conversas entre integrantes do bando e gente ligada à Força Sindical. Meia dúzia de menções revelaram que havia um Paulinho no meio do pântano. Só poderia ser ele, deduziram os sherloques. E o suspeito resolveu ressuscitar a identificação oficial.
"Existem muitos Paulinhos", lembrou Paulo Pereira da Silva. Que outro poderia ser beneficiário da propina de R$ 325 mil negociada por um assessor do Paulinho da Força? Para um presidente da Força, desdenhou, essa bolada é troco. Na remota hipótese de estar falando a verdade, fica evidente que não foi por princípios éticos que Paulinho se negou a pecar. Foi só uma questão de preço.
O remorso custa caro
Fiel à principal promessa da campanha vitoriosa, o presidente paraguaio Fernando Lugo comunicou ao Brasil que o Tratado de Itaipu tem de ser revisto. É compreensível que o vizinho pobre queira mais dinheiro. Surpreendente é o imediato endosso do Brasil a todas as exigências em espanhol.
Acusado de ter tungado o Acre da Bolívia, o Itamaraty entregou a Petrobras a Evo Morales. Agora, trata o Paraguai como quem pede desculpas por ter vencido a guerra. A política do remorso pode acabar estimulando Portugal a pedir a colônia de volta.
O mandante é quem manda na mata
No meio do verão, o Brasil ficou sabendo que o recrudescimento da ofensiva do exército da soja havia destruído, em três meses, um bom pedaço do que resta da Floresta Amazônica em Mato Grosso. A área desmatada estava protegida por lei. Houvera, portanto, um crime. Depois de alguns negaceios, o presidente Lula rendeu-se à evidência. Mas aquele que nada sabe e nada vê é duro na queda. "É preciso saber se existem culpados", alertou. A ressalva informava que talvez não existissem. Foi assim que nasceu em Brasília, para espanto de juristas de todo o planeta, o crime sem autoria. Lula nunca estudou. Mas é muito criativo.
Em fevereiro de 2005, a missionária americana Dorothy Stang foi executada num grotão do Pará pelo pistoleiro a serviço do fazendeiro Vitalmiro Moura, o Bida. Apoiar reivindicações que aborrecem os donos da terra, naquelas imensidões sem lei, é pecado sem perdão. Bida resolveu que Dorothy deveria morrer. Contratou para o serviço um pistoleiro que tinha fama de eficiente. Merecida.
O assassino foi condenado a 29 anos de cadeia e está preso. Bida foi absolvido na terça-feira. Assim nasceu em Belém, fruto do acasalamento de um juiz inepto e um bando de jurados poltrões, assassinato por encomenda sem mandante.
Fonte: JB Online

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