BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu criar uma espécie de conselho permanente do PMDB para consultas políticas regulares entre o Planalto e a cúpula partidária e para tentar, apesar das desavenças provocadas com a disputa pelas prefeituras, segurar os peemedebistas na base aliada. Depois do que aconteceu em São Paulo e do que está acontecendo em Salvador, Lula tem medo que o PMDB fuja por completo da base nas eleições municipais de outubro e, por ser uma legenda de poderes regionais, não dê mais “cola político-eleitoral” nem para os governos estaduais nem para a sucessão presidencial de 2010.
A primeira reunião informal do conselho do PMDB foi realizada na manhã de anteontem, no Planalto, em um encontro extra-agenda oficial. Estavam lá, além do presidente, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que desembarcara em Brasília de madrugada, depois de uma viagem a Quito (Equador); o deputado Michel Temer (SP), presidente do PMDB; o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN); e o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira. Ficou acertado que o conselho peemedebista vai ser integrado por Temer, Jobim, Alves e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (BA).
Na reunião de anteontem, apesar de dizer o tempo todo que vai trabalhar por um candidato único da base aliada à sua sucessão, Lula sentiu, diante da sinceridade dos interlocutores peemedebistas, que essa tarefa política tem contornos de missão impossível. Em resposta às idéias gerais para alinhavar, desde já, um futuro político comum entre PMDB e PT, o presidente só ouviu más notícias, que podem ser resumidas em pelo menos três constatações.
Lula disse que era preciso pensar em um projeto nacional para incluir o PMDB e ouviu que isso é uma tarefa difícil de se concretizar porque o partido exige outro tipo de abordagem. O que os peemedebistas querem saber é o que o poder regional do PMDB ganha com a articulação política nacional. O presidente foi aconselhado a esquecer a idéia de que os poderes regionais do PMDB se submeteriam aos interesses de uma candidatura nacional.
Parceiro - Ele também ouviu que o PT é um mau parceiro em matéria de alianças. Enquanto o PMDB apóia candidatos petistas em pelo menos oito capitais (Belém, Curitiba, Fortaleza, Maceió, Natal, Teresina, Vitória e Porto Velho), o PT, só com muito esforço, aceitou apoiar a candidatura de Iris Rezende (PMDB) na disputa à prefeitura de Goiânia. A decisão petista a favor de Iris saiu por diferença de um voto numa convenção em que o placar final foi 116 a 115.
Os peemedebistas ainda lembraram a Lula o que está acontecendo em Salvador, cidade na qual o PT não apóia o candidato do PMDB e lançou quatro pré-candidatos próprios. Na opinião dos líderes do PMDB, o partido não pode, agora, fechar acordos para 2010, ainda que o presidente Lula se diga avalista dos acertos. O PMDB acredita que o PT pós-Lula guarda semelhança com a história do MDB depois da redemocratização, quando a frente partidária anti-regime militar se transformou em uma confederação de feudos regionais que nunca ganhou a presidência da República em eleições diretas, mas é campeã nas eleições municipais, amealhando o maior número de prefeituras e vereadores Brasil afora.
Segundo resumiu à reportagem uma das lideranças do PMDB que estiveram com o presidente, Lula e o “lulismo” são maiores do que o PT e o petismo, por isso a máquina partidária petista quer se consolidar nas eleições municipais por saber que esse seria o antídoto contra a eventual perda do poder federal.
Lula ficou preocupado com a desenvoltura com que o DEM, em São Paulo, abordou o ex-governador Orestes Quércia, que domina o PMDB regional, e o transformou em aliado preferencial do candidato à reeleição Gilberto Kassab. E mais incomodado ficou com as declarações posteriores de Quércia, dizendo que “o país precisa mudar o governo do PT” e que hoje “só existe a alternativa (José) Serra para derrotar o governo Lula”. (AE)
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PSB leva impasse com o PT ao Senado Federal
BRASÍLIA - O impasse para a formação de alianças entre aliados nas eleições municipais deste ano já começa a repercutir no Congresso. Faltando quase um ano para a troca de comando da Câmara e do Senado, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já sinalizam com um racha na base governista. Além das constantes divergências entre PMDB e PT na partilha dos cargos federais, o líder do PSB, senador Renato Casagrande (ES), decidiu que se lançará candidato à sucessão do atual presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN). Com isso, o PSB abre uma dissidência entre os governistas, já que o PT trabalha pela candidatura do senador Tião Viana (PT-AC).
Embora Casagrande não admita, sua decisão jé é um reflexo da dificuldade que o PSB enfrenta com o PT para fechar a aliança em torno da candidatura de Márcio Lacerda (PSB) à prefeitura de Belo Horizonte. O PT nacional vetou a participação dos petistas mineiros na coligação de Lacerda, caso o PSDB do governador Aécio Neves faça parte dela.
“Como o candidato será de um partido da base governista, vou lançar a minha candidatura à presidência do Senado. O Tião Viana é um bom nome, já que agrega. Mas quero colocar o meu nome para reflexão dos partidos que integram o Senado”, avisou Casagrande. Surpreendidos com a decisão de Casagrande, articuladores políticos do governo viram neste gesto uma resposta clara do PSB ao comportamento do PT nestas eleições, inclusive em Belo Horizonte. Em outras cidades, como em Manaus e Salvador, o PT também resiste em apoiar nomes do PSB. (AG)
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Tucanos defendem desistência de Alckmin
SÃO PAULO - A pressão para convencer o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) a desistir de sair candidato à prefeitura de São Paulo cresceu entre a ala tucana que apóia a aliança Serra-Kassab. O secretário municipal de Esportes, Walter Feldman, disse ontem que o grupo está colhendo assinaturas em defesa da manutenção da aliança DEM-PSDB para as eleições de 2008. Pelo abaixo-assinado, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), sairia candidato a prefeito em 2008, e Alckmin disputaria o governo de São Paulo em 2010.
Feldman disse que Alckmin é o único que pode reunificar o PSDB-SP “com a sua desistência”. “Existe uma divisão real (no PSDB), pois são duas posições absolutamente antagônicas. E nós achamos que o único que pode unificar integralmente o partido é o Alckmin, com a sua desistência (à candidatura pela prefeitura de São Paulo)”, disse Feldman na abertura da contagem regressiva para os Jogos Olímpicos de Pequim, na Liberdade, região central de São Paulo.
Segundo Feldman, a insistência de Alckmin em se lançar candidato às eleições municipais estaria causando uma situação “constrangedora” para o governador José Serra (PSDB). “É uma posição difícil, é evidente que ele (Serra) ficará ao lado do candidato do seu partido. Por outro lado, o (Gilberto) Kassab é seu companheiro de chapa. Essa contradição, de ter dois pré-candidatos, coloca o Serra em uma posição constrangedora”, disse Feldman, que reiterou a intenção do PSDB de lançar Serra como candidato à Presidência em 2010.
De acordo com o secretário de Esportes, a intenção da sua ala no partido é convencer Alckmin a ser candidato ao governo do estado em 2010. “Estamos trabalhando para que esta reunião (de segunda-feira, que vai oficializar Alckmin) seja o mais pacífica possível. Mas que fique muito claro que o partido tem duas posições que só poderão ser resolvidas se o Alckmin não desistir, pelo voto”, afirmou.
Feldman afirmou ainda que o lançamento de duas pré-candidaturas coloca os tucanos que trabalham na administração municipal numa situação “surreal”. “Se os dois saírem candidatos, não poderemos fazer campanha nem para um nem para outro”.
Assinaturas - Os diretórios do PSDB nos bairros de Cidade Tiradentes e José Bonifácio (zona leste de São Paulo) coletaram assinaturas ontem, durante as comemorações do 1º de Maio em Ermelino Matarazzo (zona leste), em defesa da reeleição do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM-SP). O vice-presidente do diretório do partido em José Bonifácio, Dilmário Viana, disse que o PSDB “tem de ouvir a base eleitoral” e que o apoio à candidatura de Kassab “vem da militância” do partido.
“Ninguém está contra o Geraldo, estamos a favor dele. Ele é o nome mais forte para 2010. Esse é um movimento pró-Geraldo para governador do estado”, disse Viana. Na lista que estava circulando na festa, havia a defesa da candidatura de Kassab para prefeito, de Alckmin para governador, e de Serra para presidente. No caso desses dois últimos, o apoio se daria nas eleições de 2010. Com isso, os tucanos-kassabistas tentam convencer Alckmin a desistir da candidatura própria. Viana disse que a expectativa é de que outros diretórios do partido na capital paulista apresentem as assinaturas coletadas em favor da candidatura de Kassab na segunda-feira – data em que Alckmin pretende oficializar sua pré-candidatura. (Folhapress).
Fonte: Correio da Bahia