SÃO PAULO - Grampos federais que pegaram o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, intrigam os investigadores que participam da Operação Santa Tereza, uma missão conjunta da Polícia Federal com a Procuradoria da República que apura suposto esquema de fraudes com recursos desviados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
São ligações telefônicas, que a PF interceptou com autorização judicial, nas quais o parlamentar fala com o coronel da Polícia Militar Wilson de Barros Consani Júnior. Suposto operador do esquema e importante personagem nos bastidores do PDT e da Força Sindical, Consani é homem de confiança e araponga de Paulinho.
"Um serviço"
As escutas mostram que, nos telefonemas, eles conversam sobre um certo "serviço" do qual Paulinho teria se arrependido, mas não chegam a comentar detalhes do assunto, nem a natureza do tal trabalho. A PF interrogou o coronel no dia 24 de abril, data em que ele foi capturado.
Ao ser indagado sobre o "serviço" para o deputado, Consani se esquivou e disse apenas que não se lembrava de que haviam falado. Paulinho caiu no grampo muitas vezes porque fez contato ou foi chamado pelo telefone por alguns acusados da Santa Tereza, entre eles o coronel. As conversas foram gravadas pelos federais no auge da operação, entre os meses de março e abril.
No começo, o alvo do grampo era exclusivamente o coronel Consani. Paulinho não estava sob monitoramento, porque a PF não tem competência legal para investigar parlamentares, exceto se receber uma ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Os passos do coronel foram seguidos durante quase cinco meses. Ele foi preso no dia em que a Operação Santa Tereza foi às ruas, mas já está em liberdade.
O Ministério Público Federal o acusa formalmente, perante a Justiça, por formação de quadrilha e participação na trama que desviava recursos do BNDES. A PF sugeriu e a Procuradoria da República requereu à Justiça a quebra do sigilo bancário do militar e da mulher dele. A PF avalia que são fortes os laços entre Consani e Paulinho.
Em relatório da investigação, a PF sustenta que Consani "atualmente trabalha como assessor do deputado Paulo Pereira da Silva e também para a casa noturna WE, da qual recebe pagamentos mensais". Ao coronel coube a missão de bisbilhotar a vida de um desafeto de Paulinho no partido.
No dia 8 de fevereiro, às 11h46, o grampo flagrou o coronel conversando com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Eleno José Bezerra, sobre um oponente de Paulinho. "Paulinho me pediu para fazer esse levantamento, pois estava preocupado com a imagem negativa do partido num ano eleitoral", disse o coronel.
O grampo pegou uma conversa dos dois às 23h53 da noite de 23 de março. O deputado perguntou ao coronel se ele se lembrava "daquela conversa que nós tivemos no escritório". Na PF, Consani disse que a reunião havia ocorrido em um escritório em Pinheiros e nele "trataram de assunto de que deveria estar havendo alguma coisa contra a pessoa de Paulo Pereira da Silva".
Segundo o coronel, "essa coisa não seria a operação policial, mas alguma espécie de perseguição política". Consani disse que Paulinho "estava com medo, pois sua filha afirmava que estava sendo seguida e os seguranças do partido tinham visto movimentação estranha em volta da sede do partido". Paulinho nega categoricamente participação nas fraudes com recursos do BNDES.
O deputado repudia suspeitas da PF de que teria sido beneficiário da partilha. Seu advogado, o criminalista Antonio Rosella, considera "um absurdo,uma loucura" as insinuações que pesam sobre seu cliente. O coronel Consani não atendeu a ligações da reportagem.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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