BRASÍLIA - O cartão corporativo do governo federal também foi usado em compras na famosa Feira do Paraguai, em Brasília, conhecido centro de produtos contrabandeados. Os valores das compras são pequenos, mas o desvio de finalidade no uso do cartão fica evidente nos depoimentos de feirantes e nas loja visitadas ontem à tarde. O registro das compras na feira - onde nem tudo é contrabandeado ou falsificado - está no Portal da Transparência, em nome de auxiliares do Palácio do Planalto.
Um dos gastos registrados com fatura foi feito no estabelecimento de propriedade de um comerciante de origem chinesa. Na loja, com nome fantasia "Século XXI", só um produto está à venda: óculos de marcas de grife falsificados.
Em dezembro de 2006, segundo o Portal Transparência, a funcionária do Planalto Ariene M. V. Menezes fez uma compra na "Século XXI", com cartão corporativo, no valor de R$ 40. O box, similar às lojas dos "promocenters" de São Paulo, pertence a Zhang Hong Lang.
No registro da Receita aparece o nome de Zheng Chunliang. "A rotatividade é muito grande. Às vezes, um compra e depois vende para outro", confirmaram três funcionários da feira do Paraguai. Ainda em nome de Ariene foram registradas outras compras em boxes do paraíso da pirataria na capital federal.
No dia 7 de maio do ano passado, ela gastou, com cartão corporativo, R$ 140 na loja de Marcelo Ferreira de Souza, a Point Canetas. No local são comercializadas canetas e materiais de papelaria. Outra compra foi feita no mesmo estabelecimento no dia 19 de abril de 2007. Desta vez, o valor foi menor: R$ 70.
Outro feirante contou, sob condição de não ter o nome revelado, que é comum funcionários comprarem com cartão corporativo aparelhos eletrônicos para os filhos, como MP3 e MP4. "Mas diziam que, como estavam usando cartão corporativo, a nota não podia sair com a discriminação desses produtos", disse a proprietária de uma das lojas da feira.
"Eles simplesmente pediam para que constasse material de consumo na nota". Além do registro de compras em lojas da feira de importados, outro funcionário palaciano, Haroisio Oliveira, fez compras, ainda segundo o Portal da Transparência, em loja especializada em produtos médicos (como cadeiras de rodas e balanças para banheiro) e ortopédicos.
No dia 16 de fevereiro do ano passado, Oliveira gastou R$ 540, pagos com cartão corporativo, na Tiradentes Médico Hospital, localizada na Asa Sul. Um dia antes, na mesma loja, já havia consumido R$ 399,75 em compras. O funcionário também fez compras em outra loja de artigos médicos em 2006. No dia 9 de agosto daquele ano, Oliveira desembolsou R$ 396 na Hospitália, também na Asa Sul. O estabelecimento voltou a ser freqüentado por ele em fevereiro passado. Dessa vez, o gasto foi de apenas R$ 41,80.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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