Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

quarta-feira, maio 24, 2006

Um por todos e todos por um

Por: O Norte

O ritual é sempre o mesmo. Basta surgir alguma denúncia na imprensa contra um senador que lá vai ele até à tribuna se defender. Durante a defesa, não falta solidariedade dos colegas, que, na maioria das vezes, mesmo sem saber se são verdadeiras ou não as acusações, não poupam elogios à figura do senador colocado na defensiva. As denúncias são logo tachadas de absurdas e descabidas e, em geral, são arquivadas sem serem investigadas.
Na última terça-feira (16), o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) foi à tribuna se explicar contra a acusação de fazer parte da quadrilha de comprava ambulâncias em licitações fraudadas. O esquema foi descoberto pela Polícia Federal na Operação Sanguessuga. Em depoimento à polícia, a ex-assessora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, que foi presa na Operação, acusou Suassuna de apresentar emendas para compra de ambulâncias superfaturadas. Na operação, dois assessores do senador foram presos.
Suassuna, que integra a base governista, falou por mais de uma hora da tribuna do plenário, admitindo que apresentou emendas para ambulâncias, mas negando qualquer irregularidade. Foi interrompido por nada mais nada menos que 14 senadores, de diversos partidos. A cada intervenção, sua figura era elogiada por palavras que o definiam como "um líder", "um homem transparente", "honrado" e outros adjetivos semelhantes, ao mesmo tempo em que tachavam a acusação de "absurda" e "descabida". Detalhe fundamental: quase não se discutiu o mérito da denúncia ou a necessidade de apurá-la.
V.Excelência é o máximo!
"Primeiramente, quero prestar a V. Exª toda a minha solidariedade. V. Exª sabe do compromisso que temos com a verdade e tem participado desse esforço no Congresso. V. Exª, durante anos, tem colaborado no sentido de melhorar os procedimentos do orçamento, de dar mais transparência, de fiscalizar melhor. Infelizmente, vivemos um momento de denuncismo desvairado. Tudo é denúncia!", disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR).
O senador José Jorge (PFL-PE), um dos principais nomes da bancada de oposição no Senado, também interveio em favor do colega governista: "Meu caro senador Ney Suassuna, todos nós conhecemos o trabalho de líder que V. Exª realiza aqui. Na realidade, os políticos de uma maneira geral são sempre acusados e, muitas vezes, sem direito de defesa, isto é, antes de ter o direito de se defender, as acusações já estão na rua, e a pessoa julgada e condenada. Tenho certeza de que vai poder esclarecer todos esses fatos e continuar o seu trabalho de líder do maior partido da Casa".
Ao final do discurso, o presidente do Conselho de Ética do Senado, João Alberto Souza (PMDB-MA), que por acaso presidia a sessão no plenário, tranqüilizou Suassuna de uma vez por todas. "V. Exª foi ovacionado por quase todos os partidos presentes na Casa: PSDB, PFL, PMDB... V. Exª fez um pronunciamento de mais de uma hora, muito convincente. Em vez anterior, V. Exª. teve uma demanda com o Conselho de Ética desta Casa, do qual sou Presidente, e por não se encontrar nenhuma prova, foi encaminhada ao arquivo. A imprensa não deu nenhuma nota a esse respeito. Vejo que V. Exª novamente é brindado com uma denúncia vazia", concluiu João Alberto

CRONOLOGIA DA MÁFIA DOS SANGUESSUGAS

Por: Correio Braziliense

Depois de dois anos de investigação, pelo menos 46 pessoas são presas em Brasília e seis estados, durante a Operação Sanguessuga, da Polícia Federal. Elas são acusadas de fraudar licitações em municípios para a compra de ambulâncias e UTIs móveis. Entre os detidos estão os ex-deputados Bispo Rodrigues
(PL-RJ) e Ronivon Santiago (PP-AC), assessores do líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), e de oito deputados federais. Também integram a lista empresários e funcionários dos ministérios da Saúde e do Desenvolvimento. A quadrilha teria movimentado R$ 110 milhões entre 2001 e 2005.
Sexta-feira, 6
O Congresso Nacional decide investigar os parlamentares suspeitos de participar da máfia dos sanguessugas. Pelo menos 64 deputados e o senador Ney Suassuna (PMDB-PB), de acordo com lista repassada pela Justiça Federal às presidências das duas casas legislativas, estariam envolvidos no esquema de corrupção. Conversa telefônica grampeada por agentes federais revelou que integrantes da quadrilha tramavam a morte de repórter do Correio Braziliense.
Domingo, 7
Os presos acusados de pertencer à máfia dos sanguessugas são transferidos para Cuiabá, onde permanecerão presos à disposição da Justiça Federal no Mato Grosso. Entre eles está o ex-deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ). O Correio revela que Maria da Penha Lino foi indicada para o Ministério da Saúde pelo deputado José Divino (PRB-RJ), listados entre os parlamentares suspeitos de fazer parte do esquema. Penha era peça-chave nas fraudes da máfia dos sanguessugas. O advogado dela procura a PF, sinalizando contar o que sabe em troca do benefício da delação premiada.
Segunda-feira, 8
A quadrilha não pára de crescer. Em depoimento de seis horas à PF, Maria da Penha Lino, ex-assessora do Ministério da Saúe, afirmou que um terço da Câmara - cerca de 170 deputados - participaria do esquema de fraudes ao Orçamento. De memória, ela pôs no papel o nome do líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), e de 80 deputados federais. Ela contou que, em retribuição, esses parlamentares recebiam propina. O dinheiro chegava à Câmara escondido em malas, bolsos de paletó, meias e até cuecas de funcionários da Planam, principal empresa do esquema de corrupção.
Terça-feira, 9
Os presidentes do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), e da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SDP), decidiram criar uma comissão formada por três senadores e três deputados para propor alterações na tramitação do Orçamento da União, com base em proposta do deputado Ricardo Barros (PP-PR) apresentada em 200.
Quarta-feira, 10
A Câmara decidiu que, de imediato, investigará somente 16 dos acusados de fraudar emendas para ajudar a quadrilha a vender ambulâncias a preços superfaturados. Os deputados Fernando Gabeira (PV-RJ) e Raul Jungmann (PPS-PE) defenderam a abertura de CPI para investigar o caso.
Quinta-feira, 11
Começou sem força a tentativa de se criar uma CPI para investigar o desvio de recursos para compra de ambulâncias. Apenas 25 deputados assinam o pedido. Já a maioria deles prefere disparar a artilharia contra a Polícia Federal e o Ministério Público. Eles querem que o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), faça uma reclamação formal contra a divulgação de nomes de parlamentares. Em Cuiabá, a PF coloca frente a frente o ex-deputado Bispo Rodrigues e o empresário Ricardo Waldmann Brasil, dono da empresa de fachada Suprema-Rio Comércio de Equipamentos de Segurança e Representações, usada nas licitações irregulares com que os sanguessugas fraudavam o Orçamento da União.
Sexta-feira, 12
O ex-gerente do restaurante Northon Grill Marcelo Antônio de França entrega à Polícia Federal os nomes de pelo menos cinco parlamentares que freqüentemente se reuniriam em Brasília com os empresários Darci e Luiz Antônio Vedoin, donos da Planam e acusados de chefiar a máfia dos sanguessugas. Entre eles estariam o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) e o ex-deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ), que renunciou ao mandato por envolvimento no escândalo do mensalão. Os encontros, segundo Marcelo, ocorriam no restaurante localizado no Hotel Meliá.
Sábado, 13
O Correio revela que o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) indicava o irmão Marcos Balbino Capixaba e seu principal assessor, Celso Augusto Mariano, como procuradores formais das empresas Planam e Santa Maria, empresas fornecedoras das ambulâncias. O documento dava poderes aos dois nas concorrências das prefeituras.
Domingo, 14
Perícia da Polícia Federal em documentos contábeis da Planam indica pagamento de R$ 73 mil a parlamentares. De acordo com documentos sigilosos da PF, pelo menos três deputados constam na lista da empresa: João Mendes de Jesus (PSB-RJ), Elaine Costa (PTB-RJ) e João Magalhães (PMDB-MG).
Terça-feira, 16
Polícia Federal investiga possível braço da máfia dos sanguessugas na área de inclusão digital do Ministério da Ciência e Tecnologia em projetos custeados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A instituição criou uma auditoria interna para investigar o caso.
Quarta-feira, 17
Comissão de sindicância da Câmara dos Deputados começa a apurar a participação de parlamentares na quadrilha das ambulâncias. Ministério Público também vai investigar prefeitos suspeitos de fraude.
Quinta-feira, 18
Em depoimento a deputados da comissão de sindicância, Maria da Penha Lino afirma que a Planam contactou 283 parlamentares.

O Bondoso senador

Por: Luiz Leitão ( O Rio Branco)

No novíssimo e inesperado escândalo nomeado operação Sanguessuga, desencadeada pela Polícia Federal, se sobressai a figura de um senador da República, Ney Suassuna (PMBD-PB), o mesmo que há meses ofendeu o povo português, numa estúpida declaração no congresso, que repercutiu lá fora, saindo nos jornais lusitanos e indignando a todos. Não me recordo dos termos, mas aconteceu.
Ney revela-se um raríssimo benfeitor ao declarar que doou, no mandato anterior, 82 ambulâncias do próprio bolso, o que daria, pelo preço médio de cada ambulância que foi informado pela Operação Sanguessuga, cerca de 80 mil, algo como R$ 6.560.000,00.
Revela-se o senador um homem desprendido, autêntico filantropo, e mais, extremamente rico. Certamente, sua excelência terá declarado tais donativos à Receita Federal.
Quanto a uma CPI das Sanguessugas, o governo é contra por certos motivos que não sabemos, mas desconfiamos, e a sociedade talvez seja contra por conta do pífio resultados das CPIs que precederam esta. Depois, como investigar congressistas se nada menos que 283 deles estão na lista - o que não significa que todos estejam de fato envolvidos -, mais da metade dos 513 deputados, além de um senador.
O esquema de corrupção é imenso, com cerca de 25 empresas, muitas de fachada, envolvidas, sendo que um só fornecedor vendeu centenas de ambulâncias à família Vedoin, que comandava o esquema com a cobertura de deputados e assessores parlamentares, estes encarregados de aliciar novas prefeituras.
Veja o leitor se concorda comigo: um CPI será mera peça eleitoreira, com seus integrantes ganhando propaganda eleitoral televisiva gratuita, como aconteceu com as passadas. Além disso, todos que vão depor o fazem cobertos por habeas corpus, não contribuindo em nada com o esclarecimento dos fatos. Não fossem esse salvo-condutos do Supremo Tribunal Federal, que, aliás, agraciou também o réu João Arcanjo, o comendador, acusado do assassínio do jornalista Domingos Sávio Brandão, da Folha do Estado (MT).
Sendo assim, se só o pessoal do andar de baixo é punido, mais vale fazer as investigações por meio das polícias Federal e Civil e do Ministério Público, pois se gasta menos, vai-se direto ao assunto e no meio das apurações sempre sai uma ou outra revelação que pode vir a implicar a "deputança". Aí, remete-se as informações ao Supremo, em forma de denúncia do MP, e o tribunal que julgue como manda a lei, e não a política.
Cabe lembrar que prefeitos não têm foro privilegiado no Supremo. Como há pelo menos 70 deles envolvidos, há muito leite que tirar desta pedra. Não é possível que um inquérito bem conduzido, quem sabe até com o emprego da delação premiada, não seja um atalho para se chegar aos responsáveis maiores por esta bandalheira. Além do quê, mais barato que uma estrondosa CPI.
As investigações podem envolver vários órgãos, que, trabalhando em sintonia, haverão, sim, de produzir resultados substanciosos. Começando pela Receita Federal, que poderá verificar se o senador Suassuna tinha condições financeiras para doar 82 ambulâncias e se informou o fato em sua declaração de rendimentos. Depois, há o COAF - Conselho de Controle de Atividades Financeiras (será que ele investiga senadores?) e, como disse antes, as polícias e os ministérios públicos federal e estaduais. Não é pouca coisa, há fartos meios de se chegar à verdade, mesmo com o Supremo remando contra.
Então, pra quê CPI?

Comunicado do PCC prega voto no PT contra o PSDB

Por: Folha

Em ofício sigiloso, a Polícia Federal repassou ao governo de São Paulo uma mensagem que o PCC fez circular pelos presídios paulistas dias antes de deflagrar a onda de ataques que subverteu a ordem em São Paulo entre os dias 12 e 19 de maio. O texto, mantido sob sigilo, concitava os presos a promover levantes nas cadeias e continha uma inusitada mensagem política.
Recolhido pelo setor de inteligência da Polícia Federal, o texto do PCC é manuscrito. Ocupa meia folha de papel ofício. Leva o nome de “salva”, como os integrantes da facção criminosa se referem às ordens expedidas pelo comando. Desaconselha o voto no PSDB. E recomenda explicitamente o voto no PT. O documento foi repassado ao governo paulista por ordem do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), que também tomou conhecimento do seu teor.

Nem o governo federal nem a administração de São Paulo deram importância à parte política do manuscrito. Num esforço para evitar a politização da crise, ativeram-se aos trechos que fazem referência às rebeliões nos presídios. Os levantes, conforme previsto no “documento” do PCC, sublevaram mais de oito dezenas de presídios paulistas.

Pelos cálculos da PF, o manuscrito do PCC foi redigido dias antes de o governo de São Paulo transferir para o presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau os principais líderes da facção. Entre eles Marcos Willians Herba Camacho, apontado pela política como líder do PCC e autor da ordem que resultou nas rebeliões dos cárceres e na onda de ataques às forças de segurança do Estado.

Informado acerca do conteúdo do manuscrito do PCC, Lula tampouco atribuiu importância ao seu conteúdo político. Desde o início da crise, o presidente vem se manifestando, em reuniões fechadas e em manifestações públicas, contra a exploração política da crise. Discurso semelhante vem sendo adotado pelo ministro Thomaz Bastos.

Já na primeira hora, o governo petista procurou traduzir o discurso em gestos concretos. Antes mesmo de conversar com Lula, que se encontrava em Viena no instante em que começaram as rebeliões e a onda de ataques, o ministro da Justiça discou para o governador de São Paulo, Cláudio Lembo. Ofereceu-lhe ajuda.

Ao chegar ao Brasil, no dia seguinte ao início da crise, o sábado 13, Lula aprovou a iniciativa de seu ministro ao ser informado dela pelo telefone. Na segunda 16, em reunião no Planalto, o presidente pediu a Thomaz Bastos que voasse para São Paulo. Em reunião com Lembo, o ministro reforçou a disposição do governo federal de colaborar. O governador recusou o emprego de unidades da Força Nacional de Segurança e de tropas do Exército. Mas aceitou de bom grado a colaboração da área de inteligência da Polícia Federal.
Escrito por Josias de Souza às 02h01

Nesta terra, tudo pode acontecer

Por: Carlos Chagas (Tribuna da Imprensa)

BRASÍLIA - Em Recife, na Boa Viagem, um tubarão quase matou um jovem que se banhava do lado de cá da arrebentação das ondas, contrariando a história de que tubarões não atacam junto da praia. Em Caruaru, um terremoto de invulgar intensidade deixou todo mundo apavorado, menos pelo balanço das paredes, mais pelo barulho que veio das profundezas. Pelo sim, pelo não, a cidade está programando a maior festa de São João de todos os tempos.
A gente se pergunta o que está acontecendo, já que outros inusitados se sucedem. Chove no Agreste, faz seca na Zona da Mata. Na Assembléia Legislativa, a lista de presença mostra a totalidade dos deputados. Em Recife, no fim de semana, a polícia não registrou nada grave.
Verificam-se em Pernambuco ocorrências jamais vistas e a explicação só pode ser uma: os inusitados devem-se à escolha de José Jorge para candidato a vice-presidente na chapa de Geraldo Alckmin. O senador imagina repetir a performance de seu colega Marco Maciel, duas vezes vice de Fernando Henrique.
Como a eleição de Alckmin e José Jorge parece coisa mais estranha do que tubarões na arrebentação, terremotos, deputados trabalhando, paz nas ruas e outros fenômenos, quem sabe Pernambuco reserve nova surpresa para o País? Afinal, como dizia mestre Gilberto Freire, pernambucano até a raiz dos cabelos, em sua terra tudo pode acontecer, até o Carnaval cair na Sexta-Feira da Paixão...
Pombo-correio
Se o Supremo Tribunal Federal não tiver decidido em sentido contrário, Delúbio Soares deporá na CPI dos Bingos. Sua convocação deve-se às recentes declarações atribuídas ao banqueiro Daniel Dantas, de que o ex-tesoureiro do PT tentou achacá-lo, exigindo milhões para suas empresas não enfrentarem problemas com o governo. É claro que Delúbio vai negar, mas se quisesse cooperar poderia contar em detalhes pelo menos a história dos quatro milhões que o ex-deputado Roberto Jefferson, ex-presidente do PTB, confessou ter recebido do esquema de corrupção armado à sombra do Palácio do Planalto.
Esses quatro milhões vieram da agência de um banco controlado por Daniel Dantas, em São Paulo. O portador pegou o dinheiro em espécie e o acomodou em duas malas. Cauteloso, porém, contratou dois táxis para levá-lo ao aeroporto, onde embarcaria para Brasília. No primeiro, colocou as duas malas, no banco de trás. No segundo, instalou-se, determinando ao motorista que não perdesse o outro de vista.
Seguiria atrás. Caso algo desse errado, ou seja, se a polícia parasse o primeiro táxi, ele mandaria o segundo dobrar à direita e sumiria, perdendo o dinheiro mas salvando a pele. Nada aconteceu e o pombo-correio voou até a capital federal, entregando a encomenda a Roberto Jefferson, que poderá dar o nome do banco e do portador, se também for convocado a depor.
Encontro com o ministro
Está confirmado o encontro havido entre o polêmico Daniel Dantas e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na semana passada. Foi na residência do senador Heráclito Fortes, do PFL do Piauí, aqui em Brasília. O banqueiro jurou ao ministro não ter dado qualquer declaração à revista "Veja", muito menos fornecido a lista de supostos integrantes e ex-integrantes do governo com depósitos bancários no exterior, inclusive o presidente Lula.
A divulgação da lista caiu no vazio, pelo absurdo e sua evidente falsificação, com sobrenomes errados e quantias sem fundamentação. Nem as oposições embarcaram na denúncia, restando à Polícia Federal e ao Congresso abrir investigações a respeito de quem realmente transmitiu ao semanário a falsa relação. Não se trata de quebrar os artigos constitucionais relativos à liberdade de imprensa e ao sigilo das fontes, mas de apurar esse abuso do direito de informar. Ninguém melhor do que o ministro Márcio Thomaz Bastos para liderar a apuração.

Advogados de Marcola caem em contradição

Por: Tribuna da Imprensa

BRASÍLIA - Apontados como cúmplices do Primeiro Comando da Capital (PCC), os advogados Maria Cristina de Souza Rachado e Sérgio Weslei da Cunha caíram em contradição ontem durante depoimentos tensos na CPI do Tráfico de Armas, na Câmara dos Deputados.
Os dois são acusados de comprar de um técnico de som a serviço da Câmara uma gravação da sessão sigilosa em que a CPI ouviu os delegados Godofredo Bitencourt Filho e Ruy Ferraz. Poucas horas depois o líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, teria sabido de uma transferência e precipitado a onda de violência que assustou o Estado de São Paulo.
A primeira a falar foi Maria Cristina, que negou ter comprado e repassado a gravação, contrariando declarações do técnico de som Arthur Vinícius Pilastre Silva, que confessou ter vendido aos advogados por R$ 200 um CD com a íntegra da sessão secreta. Logo na chegada à CPI, a advogada levou um tombo na sala de reunião e depois permaneceu sentada em uma bancada usada por deputados até ser chamada para depor.
Durante o depoimento, Maria Cristina chorou, passou mal, mas não sensibilizou os deputados da comissão. Para integrantes da CPI, a advogada mentiu várias vezes.
Indiciados
Os dois advogados são considerados indiciados pela CPI, portanto, o falso testemunho no depoimento não pôde ser considerado motivo para declarar a prisão dos dois. Um pedido de prisão preventiva da dupla foi encaminhado à Justiça Federal em Brasília na segunda-feira passada. Os dois estão sendo investigados pelo Departamento de Polícia Legislativa (Depol) por corrupção ativa e, além disso, são acusados pela CPI por formação de quadrilha.
"É um depoimento cheio de mentiras que será desconstruído", afirmou o relator da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Ele enumerou cinco pontos em que a advogada mentiu na comissão. "Em primeiro lugar, ela não conseguiu explicar o que estava fazendo em Brasília", disse Pimenta.
A advogada afirmou que foi à reunião da comissão do dia 10 porque pensou que seu cliente Marcola fosse depor na comissão. Mesmo depois de saber que não havia sido marcado o depoimento dele, ela permaneceu na Casa, porque, segundo ela, não tinha o que fazer.
Pimenta ressalta também que não havia motivos para que Maria Cristina buscasse a cópia do depoimento da sessão reservada, já que ela não é advogada de Leandro Lima de Carvalho, preso acusado de ligações com o PCC, que depôs no mesmo dia na CPI em sessão reservada. "Ela nega que tenha adquirido e ficado com o CD (cópia da gravação), mas Arthur e os funcionários da loja em que foram feitas as cópias dizem o contrário", continuou Pimenta.
Além disso, o relator afirma que a advogada mentiu ao se referir a troca de e-mail entre ela e Arthur. No depoimento, disse que sua secretária, de nome Sheila, respondeu à mensagem enviada pelo ex-funcionário, mas o relator mostrou cópia da mensagem assinada por "Cris".
Pimenta mostrou ainda imagens colhidas pelo sistema de TV interno da Câmara para contestar parte do depoimento da advogada na qual ela relata como se deu o encontro com o advogado Sérgio e o ex-funcionário Arthur, antes de seguirem para o shopping onde foram feitas as cópias em CD.
A CPI exibiu em um telão imagens do sistema interno da Câmara que registraram a movimentação dos dois na Casa e fotos do sistema do shopping mostrando os três nos corredores e na porta da loja onde foram feitas as cópias, segundo Arthur Silva.
O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) apontou outra contradição de advogada. Ela afirmou que não freqüentava presídios porque não tinha tempo. O deputado levou dados com registro do número da OAB da advogada em dez entradas em penitenciárias.
No depoimento, a advogada chorou. "Não sou pombo-correio. Eu sou uma advogada", disse Maria Cristina. "Não é justo vocês chamarem uma pessoa que não conhecem de pilantra, sem provar", disse, chorando. A advogada negou que tenha ouvido a gravação.
Nega
Assim como a advogada, Sérgio Cunha também negou fazer parte de facção criminosa. Ele disse que pensou que a cópia entregue pelo funcionário fosse autorizada pela comissão, mesmo sabendo que a sessão era reservada. Cunha, advogado de Leandro Carvalho, argumentou que tinha direito de saber o que foi falado na reunião. "Eu tinha direito. Eu solicitei na secretaria e subentendi que tinha sido autorizado, porque o próprio técnico foi fazer a cópia comigo", afirmou Cunha.
Os dois advogados acusaram Arthur Silva de mentir. Maria Cristina disse que sua carreira profissional está sendo "jogada na lama por um funcionário (Artur Vinicius) que mente". "Ele não é todo esse santinho que ele está querendo pintar", afirmou Cunha.
O advogado disse que não mentiu na entrevista que deu em São Paulo na qual afirmou que tinha seguido da Câmara direto ao aeroporto, sem passar no shopping, onde as câmeras de vídeo registraram sua presença. "Eu omiti na primeira vez. Na hora não era conveniente falar", disse Cunha. "Foi estratégia de marketing e de defesa", completou.

"Eles não gostam de pobre", diz Lula

Por: Tribuna da Imprensa

AGUIARNÓPOLIS (TO) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um discurso duro contra os tucanos, seus antecessores no governo e rivais na eleição de outubro. Sem citar especificamente nenhum nome do PSDB, Lula disse que há no Brasil políticos que não gostam de pobres, fazem política no conforto do ar-condicionado e torcem para tudo dar errado para que então possam voltar ao poder.
O presidente esteve no Tocantins para visitar um trecho da ferrovia Norte-Sul entre as cidades de Araguaína e Aguiarnópolis. No pátio da ferrovia, Lula andou de trem num trecho curto e foi recebido por cerca de 1,5 mil pessoas. Entusiasmado, o presidente deixou de lado o discurso escrito e improvisou por cerca de meia hora.
"Neste País, tem um tipo de político que não gosta de pobre, tem um tipo de político que não respeita os trabalhadores, que acha que a gente dar dinheiro para a pessoa comprar arroz e feijão para comer é assistencialismo", disse Lula.
Ao assegurar ter percorrido 91 mil quilômetros pelo Brasil durante três anos, antes da eleição de 1994, o presidente afirmou que aprendeu a conhecer o Brasil e que seus adversários poderiam sair "andando pelo Brasil" para conhecer a real dimensão das necessidades do País. "Quem vive fazendo política só na capital ou na universidade, ou quem fica fazendo política só em Brasília, não tem dimensão do Brasil real que nós enfrentamos", disse o presidente. "É muito fácil fazer críticas sentado numa sala com ar-refrigerado, é muito fácil."
Ao se comparar mais uma vez ao presidente Juscelino Kubitschek, Lula afirmou que é mais atacado do que era o criador de Brasília. "Todas as ofensas que faziam a ele, fazem pior a mim", discursou. "Toda vez que eu fico aperreado lá dentro, eu fico pensando: deixa eu ir me encontrar com o povo porque o povo pensa outra coisa, o povo tem outra cabeça."
Durante todo o pronunciamento, o presidente tratou os adversários apenas por um genérico "eles", a quem acusou de apostarem no fracasso do País. "Tem um tipo de político no Brasil que, por mais experiência que eles tenham, por mais mandatos que tenham, por mais cargos que eles tenham exercido, estão sempre torcendo para que as coisas não dêem certo no Brasil, para ver se eles voltam", disse. "Vocês acompanham a política, vocês vêem televisão, vocês ouvem rádio, lêem jornal e vocês percebem claramente que há neste país um conjunto de pessoas que torce para o país não dar certo."
Lula lembrou a quitação das dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e disse ainda que só agora o Brasil tem auto-estima. "Este País hoje não é mais um paisinho onde o presidente da República tinha que mandar o seu ministro da Fazenda ao FMI pedir dinheiro emprestado para pagar as suas exportações. Agora, não precisa mais. Agora, nós não devemos mais ao FMI, não devemos mais ao Clube de Paris e não devemos mais a ninguém", afirmou. "Nós agora somos donos do nosso nariz. Nós agora dizemos e falamos o que queremos e fazemos aquilo que nós temos vontade."
Ao responder a uma pergunta de alguém da platéia sobre o atraso da construção de uma hidrelétrica na cidade de Estreito (TO), Lula cutucou mais uma vez a oposição: "Eu quero dizer para vocês: não tem nenhum brasileiro com mais vontade de que a gente possa construir as hidrelétricas que faltam do que eu, até porque eu não quero carregar nas minhas costas a marca do apagão que já carregaram antes de mim."
Festa com transporte e comida de graça
AGUIARNÓPOLIS (TO) - O período eleitoral ainda não começou, mas a cidade de Aguiarnópolis assistiu ontem o que pode ser chamado de um dos primeiros comícios da eleição nacional deste ano. A festa que recebeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve ônibus de graça para levar eleitores, distribuição de comida gratuita e até um discurso entusiasmado do senador José Sarney (PMDB-AP) declarando seu apoio incondicional ao presidente.
No palanque de Lula, o senador José Sarney fez as vezes de apresentador do virtual candidato. Em um discurso inflamado, o ex-presidente disse que tinha autoridade - por ser ex-presidente, mas também por tê-lo sempre apoiado - para afirmar que Lula é o presidente popular, do povo. "E ele terá sempre a minha solidariedade, sempre que necessitar", disse Sarney, em um apoio explícito a Lula no momento em que seu partido, o PMDB ainda briga para saber se terá candidato próprio ou se apóia Lula ou o tucano Geraldo Alckmin.
"É um dos mais populares presidentes da história do Brasil. É um homem que tem responsabilidade com suas bases populares e tem sido o grande presidente do povo", discursou Sarney. "Aí estão seus programas sociais, o Bolsa Família, a Farmácia Básica, o aumento do salário mínimo." Os elogios não foram em vão. Em seu discurso, logo depois, Lula voltou a dizer que tinha se enganado ao criticar, no governo Sarney, a construção da ferrovia Norte-Sul e citou o programa do leite, criado pelo ex-presidente, como um dos "maiores programas de combate à desnutrição" que o País já teve.
As cerca de 1,5 mil pessoas que esperavam o presidente, numcalor de 35 graus, foram ao pátio da ferrovia Norte-Sul entusiasmadas com a possibilidade de ver o presidente. Mas o transporte para a área, um pouco afastada da cidade, foi garantido pelo governo do Estado. Propagandas nas rádios convidavam os moradores da região para o evento, garantindo que haveria ônibus de graça.
Depois de mais de quatro horas debaixo de toldos brancos que protegiam do sol, mas não do calor, a população que se animou a ver o presidente ganhou um incentivo a mais: comida. No final do evento, o narrador da cerimônia avisou, pelo alto-falante, que todos os presentes ganhariam marmitex. No caminhão em que funcionários do governo estadual faziam a distribuição, uma fila enorme logo se formou. Nas embalagens, arroz, feijão, farinha e frango.

Presos na Operação Sanguessuga estão livres

Por: Tribuna da Bahia

BRASÍLIA - Os desembargadores da 3ª Turma do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região decidiram ontem soltar todos os presos na Operação Sanguessuga, que investiga compras superfaturadas de ambulâncias. Além disso, os desembargadores também devem transferir ao Supremo Tribunal Federal (STF) inquéritos referentes ao caso que tramitam na 2ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso.
A decisão foi tomada durante julgamento do pedido de habeas corpus do ex-deputado Carlos Rodrigues, preso na operação. Agora, o STF fará triagem sobre quem responderá em foro privilegiado e definirá se alguém deve voltar à cadeia. Os desembargadores concluíram que o juiz em Mato Grosso não era competente para conduzir o processo, uma vez que há a suspeita de envolvimento de parlamentares - que só podem ser investigados pelo Supremo.
Nova CPI
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pretende trabalhar contra a criação da CPI da Operação Sanguessuga. Ele se reunirá nesta semana com o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e com lideranças para falar sobre o desgaste que nova comissão pode ocasionar. Para o presidente do Senado, há grandes chances de a CPI se esvaziar devido às eleições. Publicamente, Renan declara que "vai conferir as assinaturas, verificar se há fato determinado, se há preenchimento dos pressupostos constitucionais e decidir o que fazer".
O pedido de CPI, liderado pelos deputados Raul Jungman (PPS-PE) e Fernando Gabeira (PV-RJ), já tem o número exigido de assinaturas, que podem ser retiradas até a leitura do requerimento de instalação. Na Câmara, a comissão de sindicância que apura envolvimento de deputados na fraude apresenta hoje relatório que define nova lista de investigados. Podem ser 30, não 16, os parlamentares suspeitos.

Preso trabalha há 19 anos no Senado

Por: Tribuna da Imprensa

BRASÍLIA - Apontado como um dos cabeças da quadrilha desmantelada pela Operação Castores, o assessor parlamentar José Roberto Paquier atua há pelo menos 19 anos em funções estratégicas do Senado, sempre vinculado ao PMDB e serviu a dois outros gabinetes até ser cedido pelo partido ao senador Valdir Raupp (RO), nos últimos três anos. Na legislatura anterior, ele foi um dos assessores mais próximos do senador Carlos Bezerra (PMDB-MT), que presidiu a poderosa Comissão de Orçamento do Congresso.
Durante a operação, a Polícia Federal esbarrou, sem querer, em outro assessor parlamentar, que a partir de hoje passa a ser investigado como suspeito de integrar a quadrilha. Amaury Martins, assessor do deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), foi flagrado no Aeroporto "Afonso Pena", em Curitiba, recebendo uma mala do líder da quadrilha, Laércio Pedroso, no momento em que os policiais se preparavam para prendê-lo. Laércio foi detido e a mala, apreendida.
Como não havia mandado de prisão contra Amaury, o assessor de Hauly foi ouvido e liberado, mas hoje será intimado a prestar depoimento como suspeito. As investigações indicam Paquier como peça-chave do esquema de corrupção do setor elétrico brasileiro.
Mas a PF não levantou qualquer indício de que parlamentares como Raupp, cujos nomes apareceram nas investigações, tenham ligação com a quadrilha, segundo ressalvou o delegado Fernando Franceschini, encarregado do inquérito. Ele explicou que os nomes de vários parlamentares surgiram em diálogos telefônicos interceptados ou em outras diligências, mas não foram investigados porque têm foro privilegiado.
A PF enviou os nomes para que os presidentes da Câmara e do Senado decidam sobre eventual aprofundamento das investigações. Em nota, Raupp se disse surpreso com a prisão do assessor e com a invasão do seu gabinete por policiais que cumpriam mandado de busca e apreensão do computador e de documentos na mesa de Paquier.

Delúbio diz em CPI que tinha chefes

Por : Tribuna da Imprensa

Ex-tesoureiro diz que alimentava caixa 2 com "procuração política" do PT
Em depoimento à CPI dos Bingos, Delúbio se negou a fornecer os nomes dos chefes
BRASÍLIA - Mesmo empenhado em proteger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro José Dirceu durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares afirmou que não atuava sozinho, pois tinha aval superior para as operações financeiras com que alimentava o caixa 2 do partido. "Eu tinha uma procuração política da direção do partido", disse Delúbio.
"De quem? Do presidente Lula, do José Dirceu?", perguntou o presidente da CPI, senador Efraim Moraes (PFL-PB). "O senhor tem um documento? Uma ata que diga isso?", insistiu o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Delúbio disse: "Não. Não há ata nenhuma. Eu tinha uma autorização política."
Na avaliação de Efraim, apesar de Delúbio ter-se mostrado escorregadio e muito atento - ao contrário das três outras vezes em que depôs nas CPIs dos Correios e do Mensalão, quando parecia sonolento -, ele acabou por deixar escapar que tinha chefes. "Está claro que fazia tudo a mando de alguém. Sabemos que eram ou Lula ou José Dirceu", disse o senador. A questão é que Delúbio não disse quem eram seus chefes.
O depoimento do ex-tesoureiro durou cerca de quatro horas e meia. Delúbio negou ter tentado achacar entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões do banqueiro Daniel Dantas em troca do fim dos embaraços ao Grupo Opportunity: "Nunca pedi nem recebi nada do senhor Daniel Dantas." Admitiu, no entanto, que a pedido do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza teve uma reunião com Carlos Rodemburg, sócio do Opportunity. "Ele queria saber por que o PT não gostava do Opportunity. Eu respondi que nessa questão de negócio cada um tem a sua forma de agir", disse Delúbio.
O ex-tesoureiro voltou a insistir que o dinheiro do caixa 2 do PT veio de empréstimos de Marcos Valério e não da cobrança de propina de empresas ou de operações dos fundos de pensão. Disse que somente os diretórios petistas do Acre, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Piauí não receberam dinheiro pelo valerioduto. Afirmou ainda que os partidos aliados o procuravam para pedir dinheiro. Ao todo, segundo ele, para o PT foram entregues cerca de R$ 30 milhões e para os partidos aliados, R$ 15 milhões.
O comitê financeiro da campanha do presidente Lula, segundo Delúbio, era formado por ele, pelo então presidente do PT José Dirceu, pelo ex-presidente do PL Valdemar Costa Neto e pelos presidentes do PCdoB e do PCB. Os novos aliados, como o PSB, o PTB e o PP apareceram durante a campanha para o segundo turno.
Em todas as oportunidades que teve, Delúbio negou que a campanha de Lula tivesse recebido dinheiro de quem quer que seja. Só admitiu o fato quando não teve jeito de negar. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) insinuou que a Companhia Vale do Rio Doce fez uma grande doação ao PT logo depois de um encontro do ex-ministro José Dirceu com Marcos Valério, quando foi discutido o futuro do nióbio. Sem ter como negar a doação da Vale, porque ela está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Delúbio disse que ela e outras empresas deram dinheiro ao PT, como também o fizeram a outros partidos.
O ex-tesoureiro negou ainda conhecimento de que empresas de bingo de São Paulo e do Rio de Janeiro tenham doado, por Estado, R$ 1 milhão para a campanha de Lula, em 2002. Afirmou que não conheceu o advogado Rogério Buratti, que afirmou, na própria CPI dos Bingos, ter havido a doação dos bingueiros. Também a respeito das denúncias de Buratti, disse que não é verdade que tenha recebido dinheiro doado às prefeituras de Ribeirão Preto e de Santo André, municípios administrados pelo PT e que, de acordo com denúncias do advogado, cobrariam propina de prestadores de serviços.
Por duas vezes, Delúbio se recusou a responder ao líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), se era ou se é amigo do presidente Lula. O senador Jefferson Péres (PDT-AM) pediu a palavra e repetiu a pergunta, agora acrescentando que Delúbio se recusava a falar qualquer coisa a respeito da amizade dele com Lula. Delúbio respondeu, de novo, de forma dúbia.
"Sou um admirador do presidente Lula. Já o admirava antes de ele ser presidente. Agora, com seu governo, passei a admirá-lo muito mais, principalmente pelo que ele está fazendo pelos mais necessitados. Se, quando deixar o governo, quiser minha amizade, aqui estou."
Em todo seu depoimento, Delúbio preservou não só o presidente Lula, mas também outros petistas, como José Dirceu. Os senadores quiseram saber por que o presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, pagou uma conta de R$ 29 mil do presidente Lula junto ao PT. Delúbio disse que na campanha de 2002 Okamotto era o administrador do Diretório Nacional do PT. E, quando Lula venceu a eleição, passou a ser o seu procurador, justamente para resolver questões trabalhistas do recém-eleito.
"Desde 1990 Lula era assalariado do PT e, com a eleição, teria de deixar os quadros profissionais do partido. Foi encontrada uma dívida de R$ 29 mil, que Lula contestou. Eu a cobrei, porque essa era minha função. E o TSE exigia que a contabilidade fosse fechada. Então, Okamotto a pagou."

"Infelizmente, o PC Farias seria só aprendiz"

Por: Tribuna da Imprensa

SÃO PAULO - Altivo Ovando Júnior, de 45 anos, avalia que o esquema de corrupção nas administrações municipais do PT é muito mais organizado e grave que o de Paulo César Farias, o PC, tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor (1990-1992). Assassinado a tiros em junho de 1996, PC tornou-se um símbolo da corrupção no País. "Eu digo que, infelizmente, o PC Farias seria só aprendiz em meio a essa indústria de arrecadar dinheiro que o PT montou", comparou o ex-secretário de Habitação de Mauá, na Grande São Paulo.
Ovando Júnior confirmou as declarações prestadas em fevereiro ao Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaerco), braço do Ministério Público Estadual que investiga a corrupção e desvio de recursos públicos. "Não lembro a data exata, mas prestei vários depoimentos em Santo André", afirmou.
Ele ressaltou ter presenciado conversas do então presidente nacional do PT, José Dirceu, com o prefeito Oswaldo Dias (PT), de quem foi secretário da Habitação entre 1997 e 2001. Ele retomou recentemente a secretaria em Mauá, agora sob a gestão do prefeito Leonel Damo (PV). Antes, relembra, trabalhou como superintendente de Projetos Viários de Marta Suplicy em São Paulo por seis meses. "Eu deixei os dois cargos por problemas dessa natureza, de institucionalização da corrupção", defendeu-se.
PERGUNTA - O ex-ministro José Dirceu esteve no gabinete do ex-prefeito de Mauá Oswaldo Dias, no período em que o sr. foi secretário?
ALTIVO OVANDO JÚNIOR - Ele foi várias vezes ao gabinete do prefeito. Teve vários encontros, era comum ele comparecer lá.
O sr. presenciou essas conversas? Ele falava sobre arrecadação de dinheiro para o PT?
Ele comentava abertamente que era obrigatório ter esquema de arrecadação de dinheiro, que todo município petista participava. Os esquemas de arrecadação eram obrigatórios em todas as cidades.
E envolvia o quê? Contratos de ônibus, de lixo?
Eu não gerenciava, nunca gerenciei. Mas com lixo e construtoras era em todas as prefeituras. Era aberto, todo mundo sabia que envolvia construtoras, contratos de lixo, essas coisas. Hoje isso está público, todo mundo conhece. Mas eles sempre fizeram, sempre existiu essa indústria de arrecadar dinheiro, infelizmente.
O sr. já trabalhou para a ex-prefeita Marta Suplicy?
Trabalhei por seis meses como superintendente de Projetos Viários da Prefeitura de São Paulo. Eu deixei o cargo pelo mesmo motivo pelo qual larguei a Secretaria de Habitação de Mauá: por problemas dessa natureza, de institucionalização da corrupção.
Por que deixou os dois empregos?
Deixei quando vieram e me enquadraram: "Ou você faz ou está fora." Saí na hora. Hoje todo mundo sabe dessa indústria de corrupção montada pelo PT. Mas ela já estava institucionalizada havia muito tempo.
E essa cobrança era pública, feita abertamente?
Digo que, infelizmente, o PC Farias seria só aprendiz em meio a essa indústria de arrecadar dinheiro que o PT montou. Infelizmente, o PC seria só aprendiz.
Além de secretário, o sr. é professor?
Sim. Sou professor de direito na UniABC. Sou formado em arquitetura e em direito. Tenho escritório de advocacia, mas não exerço, pois é proibido por eu estar ocupando cargo público.
Para advogado, MP foi desleal
SÃO PAULO - O criminalista José Luiz de Oliveira Lima, que defende o ex-ministro José Dirceu, reagiu com veemência à divulgação do depoimento de Altivo Ovando Júnior. Segundo Oliveira Lima, os promotores "não agiram com lealdade processual, não agiram com ética". O advogado sustenta que os promotores não revelaram a existência e o teor da nova prova contra seu cliente, agora enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF). "Esconderam provas da defesa", afirmou o advogado. "Isso é ilegal, isso lembra os procedimentos feitos na época da ditadura."
Oliveira Lima afirmou que pretende entrar com uma representação na Corregedoria do Ministério Público contra o promotor Amaro Thomé Filho, que teria entregue, por duas vezes, a um de seus assistentes, cópias do procedimento administrativo criminal 01/06 - instaurado para investigar Dirceu logo que a Câmara cassou seu mandato. Segundo o criminalista, as peças entregues pela promotoria não continham cópia do depoimento de Ovando Júnior.
"Os promotores informaram que o que havia nos autos era aquilo", disse Oliveira Lima. Para ele, a atitude dos promotores de Santo André demonstra "o desespero da acusação, que desprovida de provas, circunstâncias e indícios concretos usa dessa estratégia para defender seu ponto de vista".
O advogado avalia que "esta prova mágica do Ministério Público na verdade não é prova nenhuma porque é mais um depoimento isolado e não tem nenhuma relação com o fato de Santo André".
Os promotores de Justiça argumentaram ao ministro Eros Grau que "há robusta prova nova que justifica minuciosa investigação da conduta de Dirceu". Eles pediram ao ministro do Supremo que rejeite reclamação da defesa do deputado cassado e autorize "o desenvolvimento natural da investigação do MP".

Dirceu sabia de propina, diz ex-secretário

Por: Tribuna da Imprensa

SÃO PAULO - O Ministério Público Estadual revelou ontem, ao Supremo Tribunal Federal (STF), o nome de uma nova testemunha que pode reforçar as suspeitas de envolvimento do deputado cassado e ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) com o suposto esquema de propinas na administração Celso Daniel (PT), prefeito de Santo André seqüestrado e morto em janeiro de 2002.
Altivo Ovando Júnior, ex-secretário de Habitação de Mauá, na Grande São Paulo, declarou aos promotores criminais que investigam fraudes na administração de Celso Daniel que Dirceu sabia da corrupção.
"O então presidente do PT, José Dirceu, também tinha conhecimento da arrecadação de propina em Santo André, como relatava em reuniões no gabinete do prefeito", afirmou Ovando Júnior, referindo-se a Osvaldo Dias (PT), prefeito de Mauá entre 1997 e 2001. "O Dirceu falava abertamente, sem constrangimento algum", confirmou.
O caso Santo André é uma história intrincada de corrupção que levou à execução do prefeito petista, segundo conclusão da promotoria criminal. O Ministério Público argumenta que "uma quadrilha organizada estável" tomou conta de setores da administração Celso Daniel para extorquir empresários. O dinheiro do esquema seria usado para abastecer campanhas eleitorais do PT.
Quatro meses depois do assassinato de Daniel, o irmão mais velho dele, João Francisco, denunciou ao Ministério Público ter ouvido de Gilberto Carvalho, hoje assessor especial do presidente Lula, que parte do dinheiro da propina era levado para Dirceu, então presidente do PT. À CPI dos Bingos, outro irmão do prefeito morto, Bruno Daniel, confirmou tudo.
O depoimento de Altivo Ovando Júnior foi tomado em fevereiro pelo Ministério Público, mas só agora os promotores de Santo André o divulgaram por meio de cópia que enviaram ao ministro Eros Grau, do STF. Há duas semanas, Grau concedeu liminar para a defesa de Dirceu, proibindo a promotoria de investigar o ex-presidente do PT. O ministro advertiu que a corte máxima da Justiça já havia barrado a apuração - em 2002, o ministro Nelson Jobim arquivou um pedido do MP para rastrear os passos de Dirceu no caso Santo André.
Provas novas
Inconformados com o veto, os promotores encaminharam ao STF documento de 22 páginas apresentando o que definem como "provas novas" que, para eles, justificam a investigação contra Dirceu. A meta dos promotores é convencer Eros Grau a revogar sua própria decisão. "A impunidade não pode imperar em nossa pátria."
O trunfo maior dos promotores é o relato de Ovando Júnior. "Este depoimento é mais uma entre tantas provas novas que justificam a investigação", sustentam os promotores, para quem as revelações de Ovando Júnior reforçam a suspeita de que Dirceu teria institucionalizado o esquema de arrecadação de propinas entre as prefeituras do PT.
"A simples ciência do esquema, por quem tem a função de zelar pela lisura da atuação daquela agremiação política, demonstra comprometimento de José Dirceu com a arrecadação de propina", escreveram . "No mínimo, esta nova circunstância enseja rigorosa apuração dos fatos. Estamos simplesmente no exercício regular da atividade estatal de apuração de ilícitos."
Três promotores subscrevem o ofício 139/06 ao Supremo - Amaro Thomé Filho, Roberto Wider e Adriana Ribeiro Soares de Morais. Eles são especialistas em inquéritos sobre corrupção e improbidade. Estão convencidos de que Dirceu tinha ligação com o desvio de verbas públicas de Santo André. "José Dirceu, que se auto-intitulava paradigma da ética e da probidade, hoje figura como denunciado porque seria o idealizador e principal articulador de um mega esquema de corrupção, que teve como um dos laboratórios, justamente, a cidade de Santo André", escreveram os promotores no ofício ao ministro Eros Grau.

terça-feira, maio 23, 2006

Dupla insossa, inodora e incolor

Por: Carlos Chagas (Tribuna da Imprensa)

BRASÍLIA - Se faltava, não falta mais. Fala-se de argumentos em favor da substituição da candidatura de Geraldo Alckmin à presidência. Esperava-se que ao menos o seu companheiro de chapa, indicado pelo PFL, pudesse contrabalançar o estilo do candidato. Nada contra a estratégia de Alckmin, de rejeitar apresentar-se como salvador da pátria, mas apenas como um funcionário público competente, dedicado a administrar o governo mais ou menos como um cidadão administra a própria casa. Talvez fosse essa a estratégia para recuperar o País, envolto até hoje pela frustração de falsos e demagogos super-homens.
O problema é que se tornava imprescindível contrabalançar a imagem amena de Alckmin com um vice agressivo, crítico, veemente, dos que não perdem oportunidade de denunciar adversários, empenhado em deixá-los na defensiva. O PFL, no entanto, preferiu indicar o senador José Jorge, espécie de alter-ego de Alckmin. A solução natural seria a escolha do também senador José Agripino, líder da bancada, de reconhecida atuação explosiva e contundente.
O resultado aí está: uma dupla insossa, inodora e incolor. Inatacável em termos de honestidade e de competência administrativa, mas incapaz de empolgar o eleitorado. De bater de frente com o governo que pretendem suceder. Alckmin e Jorge parecem sem condições de encher um palanque, quanto mais uma praça...
Apesar de todas as negativas, a tese da substituição parece estar pegando. No caso, a substituição dos dois. Agora, por quem, ninguém sabe...
Impunidade
Coube ao senador Pedro Simon o diagnóstico mais perfeito até agora apresentado sobre a crise verificada em São Paulo. Falando da tribuna do Senado, o representante do Rio Grande do Sul definiu o terror criado pelo crime organizado como um dos esquemas mais completos de organização e de ação política acontecidos no País. Algo que nada fica a dever às antigas estruturas da máfia italiana, felizmente agora reduzida a frangalhos. Tudo por conta da impunidade que grassa na sociedade brasileira.
Reprimir o crime com violência, investir em educação, reequipar o aparelho policial, essas podem constituir-se em soluções para combater a marginalidade, mas de nada adiantarão, segundo Simon, se continuarem impunes os verdadeiros responsáveis pela desmoralização do poder público e a desagregação da sociedade. Enquanto aqueles que roubam galinhas vão para a cadeia, e roubam por estado de necessidade, aqueles que roubam muito mais continuam passeando sua impunidade. Assim, nada se resolverá.
Indagou o senador como podem, um delegado ou um juiz do interior, ousar prender ladrões de colarinho branco, em suas regiões, se o STF aceita, mas engaveta pedido do procurador geral para processar o presidente do Banco Central, por formação de quadrilha e remessa de dinheiro para o exterior? Simon sugeriu um mutirão para buscar soluções. Deveriam reunir-se todas as semanas os presidentes do Supremo Tribunal Federal, do Senado, da Câmara, do Tribunal de Contas da União, mais representantes do presidente, como o chefe da Casa Civil, o ministro da Justiça e outros.
Fazer como se fez na Itália, onde, para acabar com a máfia, desenvolveu-se a "operação mãos limpas", responsável pela prisão de quatro ex-primeiros-ministros, mais de cem deputados e presidentes de grandes empresas. Vindo o exemplo de cima, a ação chegará aos patamares inferiores e o crime organizado se desmantela. Caso contrário, pior.
Candidato?
Apelou o senador Simon em termos dramáticos aos dirigentes do PMDB para que revejam a decisão de não apresentar candidato à presidência. Em suas palavras, o PMDB acaba, se for para a eleição sem candidato. A maioria dos eleitos cairá fora. O partido irá para o fundo do poço. "Estamos nas últimas horas, querem até anular a próxima convenção e deixar definida a decisão fatal de não disputar o Planalto. Responderão pelo futuro os responsáveis por essa omissão" - disse.
O primeiro passo seria o partido estabelecer um programa de recuperação nacional, definindo-se logo depois o melhor candidato em condições de cumpri-lo. Existem, no PMDB, setores que concordam com Simon, alguns sugerindo que seja candidato. Indagado, concluiu: "E você acha que eles me aceitariam?..." É possível que a idéia possa progredir.

Dignidade nacional mobiliza só 60 em BH

Por: DENISE MOTTA (O Tempo - MG)

Os caras-pintadas, pelo menos os de Minas Gerais, já não são mais os mesmos. Por baixo das tintas verde e amarela nos rostos, sinais do tempo. Exemplo disso são as aposentadas Marina Flores, 70, e Maria Giselda Silva, 65.
Ontem elas se destacavam no meio do tímido grupo de mineiros que participou, na praça Sete, do Dia da Dignidade Nacional, movimento que mobilizou milhares de pessoas em mais de 20 cidades do Brasil, em passeatas simultâneas.
O grupo de manifestantes em Belo Horizonte, cerca de 60 pessoas, subiu no pirulito da praça Sete, e, vestidos de preto, com as faces pintadas, cantou o Hino Nacional diversas vezes, chamando a atenção de quem passava pelo local. Marina conta que sempre foi engajada politicamente e que continuará lutando, sempre, por um país melhor.
"Eu, que passei pela ditadura militar, hoje percebo que a democracia não existe mais. O país está uma baderna, a roubalheira, generalizada", lamenta, emendando que o jovem atualmente se sente desmotivado para lutar por seus ideais porque, entre outras coisas, não tem incentivo dos pais.
Mas não é só a falta de engajamento político por parte dos jovens que leva Marina à indignação. Mineira, ela reclama da falta de liderança política do Estado no cenário nacional. "Antigamente tínhamos políticos honestos e preocupados com o bem-estar da população. Hoje está tudo corrompido", opina.
Maria Giselda, assim como Marina, representa a nova classe de cidadãos indignados que vão às ruas, com os rostos pintados de verde e amarelo, para dizer basta à corrupção.
Também sempre engajada politicamente ao longo de seus 65 anos, ela faz uma dura análise da atual situação política do Brasil. "Vivemos numa escravidão. Somos escravos da pobreza, da desigualdade. É preciso mudar as leis para termos um país mais justo", diz ela.
Baixa adesão
O organizador do Dia da Dignidade Nacional em Belo Horizonte, Eduardo Augusto Souza, lamenta que apenas 60 pessoas tenham participado da passeata na capital mineira, que teve início por volta das 15h de ontem e terminou duas horas depois na praça da Liberdade.
"Todo grande movimento começa assim, com poucas pessoas. Da próxima vez, reuniremos mais pessoas", afirmou. Estudante de informática, ele conta que decidiu tomar frente do Dia da Dignidade Nacional em Belo Horizonte depois de saber da existência do Reforma Brasil, movimento apartidário de São Paulo.
Anarquistas
Na contramão da realidade de jovens mineiros alienados com a política nacional, a estudante do 1º ano do ensino médio, Cecília Reis Aquino, 16, esteve ontem na praça Sete, mesmo tendo ficado sabendo da manifestação horas antes.
"Infelizmente o jovem, hoje, é mais preocupado com bebidas e festas. Hoje, dia de futebol, eles não dão importância a um movimento como esse. Em ano de Copa do Mundo, todo mundo veste a camisa da seleção, mas depois guarda o patriotismo na gaveta. Isso me deixa triste, mas também me motiva a mobilizar meus amigos em próximas passeatas", diz ela.
Outros presentes na praça Sete ontem era um grupo de anarquistas, cerca de 15, que se mobilizou por meio da Internet. "Quem tem poder, tem poder para fazer corrupção, somos a favor de um país sem corrupção, apesar do anarquismo pregar ideais libertários e próximos ao socialismo", disse Otávio Vieira, 22.
A divulgação do encontro foi feita por email e pelo Orkut (comunidade de relacionamentos na Internet). Quase 300 pessoas integram a comunidade no Orkut feita por integrantes do "Dia da Dignidade Nacional", em Belo Horizonte.
O movimento partiu de São Paulo - de uma organização não governamental chamada Reforma Brasil - e caiu nas graças dos mineiros em setembro do ano passado. Na comunidade de São Paulo participam cerca de 3.000 pessoas.
Já a do Rio tem perto de 2.000 membros. Desde que teve início, em maio do ano passado, a crise política despertou reações de internautas. Quase 60 mil pessoas integram a comunidade no Orkut "Eu quero meu mensalão".
Na apresentação para angariar membros, a comunidade diz: "Para você que achou ridículo o aumento salarial de 0,01% do servidor federal e está cansado de ver seus rendimentos acabarem antes do final do mês. Junte-se a nós, lute por um digno mensalão de R$ 30 mil."
A comunidade "Fora Lula 2006" é uma das mais cheias: tem quase 110 mil membros, enquanto a "Lula Presidente 2006" tem pouco mais de 30 mil integrantes. "Odeio PT" reúne aproximadamente 93 mil pessoas, ao passo que a comunidade oficial do PT tem pouco mais de 12 mil membros.

Não à corrupção

Por: Carlos Alberto Di Franco (Estado de Minas)

O recrudescimento da crise brasileira, com cenas próprias da pior delinqüência - flagrantes policiais de situações constrangedoras, depoimentos cinicamente falsos (emblemático o show protagonizado pelo ex-secretário do PT Sílvio Pereira na CPI dos Bingos) e o gritante silêncio do presidente da República -, conduz, inevitavelmente, a uma conclusão: as instituições estão submetidas a uma estratégia programada de desmoralização. A mentira, o cinismo e a impunidade, devidamente condimentados com o tempero do populismo, dão um caldo antidemocrático.
Recentemente, ao encerrar o seu 13º encontro nacional, o Partido dos Trabalhadores (PT) aprovou um documento constrangedor. Os petistas decidiram que o escândalo do mensalão não deve ser investigado no âmbito do partido este ano, mas só em 2007. A agremiação da "ética na política", preocupada com as conveniências eleitorais, mandou às favas quaisquer escrúpulos éticos. Mas o cinismo foi mais longe. Por aclamação, decidiu-se autorizar o partido a fazer "alianças com partidos que integram a base de apoio do governo, bem como com partidos que não integram a base", excluindo apenas o PSDB e PFL. Resumo da ópera: o PT do presidente Lula está renovando os contratos com o PTB de Roberto Jefferson, o PL de Waldemar da Costa Neto, o PP de José Janene, e, se possível, com o PMDB de José Borba. É de se esperar o lançamento do mensalão 2.
Por isso, não foi de estranhar o discurso de Marco Aurélio Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), ao assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Perplexos, percebemos, na simples comparação entre o discurso oficial e as notícias jornalísticas, que o Brasil se tornou um país do faz-de-conta. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam - o que lhes daria uma carta de alforria prévia para continuar agindo como se nada de mau tivessem feito." O desabafo do ministro foi premonitório. Afinal, José Dirceu, "o chefe da quadrilha", segundo escreveu o procurador-geral da República, Antônio de Souza, na denúncia em que acusou a antiga cúpula do partido do presidente da República de ter-se convertido numa "organização criminosa", é, de fato, o articulador da reeleição de Lula. O procurador-geral, homem sério e nomeado pelo próprio Lula, falou o que todos sabiam: foi instalada uma rede criminosa no coração do Estado brasileiro.
Para encerrar a lambança com chave de ouro, caro leitor, os petistas querem eleger novamente os parlamentares e líderes partidários envolvidos na crise do mensalão. Em sondagens feitas por vários diretórios municipais de São Paulo na prévia para decidir o candidato a governador, os filiados do PT indicaram, entre os preferidos a uma vaga na Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, Professor Luizinho, José Mentor (que escaparam da cassação) e o ex-presidente do PT José Genoíno. O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que deixou o governo sob a acusação de ser o responsável pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, foi o líder absoluto na prévia petista em seu reduto eleitoral, Ribeirão Preto. O presidente estadual (SP) do PT, Paulo Frateschi, disse que a direção partidária vê a participação desses personagens na eleição como uma necessidade política: "Vamos pedir para irem a luta e enfrentar as dificuldades". Vale tudo. O fim (o poder) justifica quaisquer meios.
As massas miseráveis, reféns do populismo interesseiro, da desinformação e da insensibilidade de certa elite, só serão acordadas se a classe média, fiel da balança de qualquer democracia, decidir dar um basta à vilania que tomou conta do núcleo do poder. O Brasil, caro leitor, pode sair desse pântano para um patamar civilizado. Mas para que isso aconteça, com a urgência que se impõe, é preciso que os culpados sejam punidos. Mesmo que se trate do presidente da República.
Carlos Alberto Di Franco, Doutor em comunicação e professor de ética em São Paulo

Não à corrupção

Por: Carlos Alberto Di Franco (Estado de São Paulo)

O recrudescimento da crise brasileira, com cenas próprias da pior delinqüência - flagrantes policiais de situações constrangedoras, depoimentos cinicamente falsos (emblemático o show protagonizado pelo ex-secretário do PT na CPI dos Bingos) e o gritante silêncio do presidente da República -, conduz, inevitavelmente, a uma conclusão: as instituições estão submetidas a uma estratégia programada de desmoralização. A mentira, o cinismo e a impunidade, devidamente condimentadas com o tempero do populismo, dão um caldo antidemocrático.
Recentemente, ao encerrar o seu 13º Encontro Nacional, o Partido dos Trabalhadores (PT) aprovou um documento constrangedor. Os petistas decidiram que o escândalo do mensalão não deve ser investigado no âmbito do partido neste ano, só em 2007. A agremiação da "ética na política", preocupada com as conveniências eleitorais, mandou às favas quaisquer escrúpulos éticos. Mas o cinismo foi mais longe. Por aclamação, decidiu-se autorizar o partido a fazer "alianças com partidos que integram a base de apoio do governo, bem como com partidos que não integram a base", excluindo apenas o PSDB e o PFL. Resumo da ópera: o PT do presidente Lula está renovando os contratos com o PTB de Roberto Jefferson, o PL de Valdemar Costa Neto, o PP de José Janene e, se possível, com o PMDB de José Borba. É de esperar o lançamento do mensalão 2.
Por isso, não foi de estranhar o discurso do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Perplexos, percebemos, na simples comparação entre o discurso oficial e as notícias jornalísticas, que o Brasil se tornou um país do faz-de-conta. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam - o que lhes daria uma carta de alforria prévia para continuar agindo como se nada de mau tivessem feito." O desabafo do ministro foi premonitório. Afinal, José Dirceu, "o chefe da quadrilha" - segundo escreveu o procurador-geral da República na denúncia em que acusou a antiga cúpula do partido do presidente da República de se ter convertido numa "organização criminosa" -, é, de fato, o articulador da reeleição de Lula. O procurador-geral, homem sério e nomeado pelo próprio Lula, falou o que todos sabiam: foi instalada uma rede criminosa no coração do Estado brasileiro.
Para encerrar a lambança com chave de ouro, caro leitor, os petistas querem eleger novamente os parlamentares e líderes partidários envolvidos na crise do mensalão. Em sondagens feitas por vários diretórios municipais de São Paulo na prévia para decidir o candidato a governador, os filiados do PT indicaram, entre os preferidos a uma vaga na Câmara, João Paulo Cunha, Professor Luizinho, José Mentor (que escaparam da cassação) e o ex-presidente do PT José Genoino. O ex-ministro Antonio Palocci, que deixou o governo sob a acusação de ser o responsável pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, foi o líder absoluto na prévia petista em seu reduto eleitoral, Ribeirão Preto. O presidente estadual do PT, Paulo Frateschi, disse que a direção partidária vê a participação desses personagens na eleição como uma necessidade política. "Vamos pedir para irem à luta e enfrentarem as dificuldades." Vale tudo. O fim (o poder) justifica quaisquer meios.
E o Poder Legislativo, caro leitor? A pizzaria do Congresso tem tido muita demanda. Afinal, as absolvições de parlamentares apanhados com a boca na botija começam com samba no plenário e terminam em festa animada com um bom chopinho. É triste, mas é assim. Ao invés de se empenhar para esclarecer as suspeitas levantadas contra dezenas de deputados envolvidos no esquema de compra superfaturada de ambulâncias com recursos do Orçamento da União, a Câmara reagiu à Operação Sanguessuga com ataques aos responsáveis pelas investigações. Depois de limitar a apuração interna a 16 dos 62 parlamentares citados pela Polícia Federal, líderes partidários não querem mais aceitar as listas de suspeitos por ela preparadas. Agora cobram explicações da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça. As instituições estão, de fato, profundamente abaladas.
Uma democracia, no entanto, se constrói na adversidade. O Brasil, felizmente, ainda conta com um Ministério Público atuante, um Judiciário, não obstante decepções pontuais, bastante razoável (a politização do STF, por exemplo, começa a arrefecer graças à retidão da maioria dos seus integrantes e à competência da presidente Ellen Gracie) e uma imprensa que não se dobra às pressões do poder. É preciso, no entanto, que a sociedade, sobretudo a classe média, mais informada e educada, assuma o seu papel no combate à corrupção. Não tem sentido que os partidos continuem protegendo a imagem do presidente da República. Afinal, quem merece blindagem contra a corrupção é o Brasil e seu povo ordeiro e sacrificado.
As massas miseráveis, reféns do populismo interesseiro, da desinformação e da insensibilidade de certa elite, só serão acordadas se a classe média, fiel da balança de qualquer democracia, decidir dar um basta à vilania que tomou conta do núcleo do poder. Chegou a hora de a sociedade civil mostrar sua cara e sua força. É preciso, finalmente, cobrar a reforma política. Todos sabem disso. Há décadas. O atual modelo é a principal causa da corrupção. Quando falta transparência, sobram sombras.
O Brasil, caro leitor, pode sair deste pântano para um patamar civilizado. Mas, para que isso aconteça, com a urgência que se impõe, é preciso que os culpados sejam punidos. Mesmo que se trate do presidente da República.
Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco - Consultoria em Estratégia de Mídia

STF nega liminar e Delúbio Soares terá que depor para CPI

Por: FolhaNews

O Supremo Tribunal Federal (STF) indeferiu nesta segunda-feira liminar em habeas corpus impetrada pela defesa do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Com isso, Delúbio terá que comparecer para prestar depoimento amanhã, a partir das 11h, na CPI dos Bingos. O ex-tesoureiro, um dos pivôs do escândalo do "mensalão", deve falar sobre o suposto pagamento de R$ 1 milhão por empresários de bingos à campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O relatório final da CPI dos Bingos deve apontar indícios que comprovariam essa doação. Em troca, os bingueiros seriam beneficiados com o envio ao Congresso Nacional de um projeto do governo que iria regulamentar o funcionamento do setor. Durante as investigações, a CPI teria identificado, conforme o esboço do relatório final, diversas coincidências que apontariam para a veracidade da acusação feita pelo advogado Rogério Tadeu Buratti de que o dinheiro dos bingueiros chegou à campanha do presidente com a participação do ex-ministro Antonio Palocci. Dentre essas coincidências estariam, por exemplo, telefonemas trocados pelos envolvidos nas datas da negociação. Os integrantes da comissão devem aproveitar para questionar Delúbio sobre o suposto pedido de milhões de dólares para a campanha do PT ao banqueiro Daniel Dantas. Em troca, de acordo com Dantas, o governo evitaria embaraços para o Banco Opportunity. Outro assunto a ser levantado trata da entrevista do ex-petista Silvio Pereira ao jornal "O Globo". Na ocasião, Silvinho disse que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza pretendia arrecadar R$ 1 bilhão até o final do governo e que Delúbio não tomava sozinho as decisões financeiras do PT. CPI dos Bingos O empresário Roberto Carlos Kurzweil, apontado como intermediador da doação, deverá ser indiciado por crime de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal no relatório final da CPI. Ele teria entregue o dinheiro dos bingueiros ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. O relatório da CPI reservará um capítulo para tratar do suposto pagamento da dívida de R$ 29,4 mil do presidente Lula pelo presidente do Sebrae, Paulo Okamotto. Também nesse caso, a comissão ficou impedida de analisar as contas bancárias e os dados fiscais do investigado. Por esse motivo, a investigação sobre o caso não será conclusiva e deve ser solicitado o aprofundamento das apurações pelo Ministério Público. Até onde a CPI investigou, Okamotto apareceria no relatório final apontado como um "tesoureiro para questões particulares do presidente Lula", de acordo com um técnico responsável pelo documento.

FHC critica políticos que querem ´tirar casquinha com tragédia´

Por: Eduardo Kattah (Estadão)
FHC reafirmou que não fez críticas à atuação do governo de São Paulo no enfrentamento da crise de segurança, alegando que houve "uma má informação"
BELO HORIZONTE - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou nesta segunda-feira os "maus políticos" que "querem utilizar uma tragédia para tirar casquinha". Ao ser questionado se a crise na segurança pública paulista virou uma disputa política, um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter publicamente prestado solidariedade ao governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), dando mais oxigênio ao mal-estar entre pefelistas e tucanos, FHC negou, de sua parte, qualquer gesto nesse sentido. E disse que só o presidente é quem poderia falar sobre sua intenção.
Mas, na seqüência, quando indagado se a onda de violência terá impacto na candidatura do presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, ele deu o recado: "O impacto pela pesquisa foi para todo mundo. Tanto faz o governador Alckmin, o atual Lembo, o futuro, o presidente Lula ou quem seja. O povo não pensa dessa maneira. Isso é só quando alguns maus políticos querem utilizar uma tragédia para tirar casquinha da política. Isso não é bom", afirmou Fernando Henrique, após se encontrar com o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), no Palácio das Mangabeiras.
FHC reafirmou que não fez críticas à atuação do governo de São Paulo no enfrentamento da crise de segurança, alegando que houve "uma má informação". O ex-presidente pregou que é necessário a união de todas as esferas de governo para que a questão seja resolvida e negou que tenha faltado solidariedade dos tucanos a Lembo no auge dos ataques atribuídos ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
Nos últimos dias, em entrevistas, o governador paulista alfinetou Alckmin e o ex-prefeito José Serra (PSDB), sugerindo que eles teriam se omitido e o abandonado no momento mais crucial da crise. Ele ainda reclamou de FHC, que em tese criticou a suposta negociação com a facção criminosa. "Se ele tivesse ouvido tudo que eu disse em Nova Iorque, diria que eu expressei solidariedade às vítimas, à polícia de São Paulo. Falaram, ´ah, mas está havendo uma negociação´. Eu disse: ´não acredito. Se houver é tática´", explicou o ex-presidente. "Eu acho até que nessa hora devemos resolver solidariamente a questão. Pensar na segurança da população. E o governador (Cláudio Lembo) está fazendo isso e nós temos de apoiar".
Educação
Fernando Henrique observou que o combate à criminalidade hoje é um tema difícil, que ganhou novo foco com a globalização. E aproveitou para criticar a tese repetida por Lula, de que a violência tem origem na carência histórica de investimentos na educação.
"Infelizmente, o presidente Lula disse que isso é uma questão de escolaridade. Não é. Porque se fosse assim, no passado, quando a escolaridade era mais baixa, teríamos mais crimes", disse. "É preciso melhorar o desempenho de todos nós, das polícias, dos governos. Enfim, é um problema que não dá para você minimizado e muito menos politizado".

MP dá 72 horas para a divulgação da lista dos mortos

Por: Estadão

A Polícia de São Paulo tem 72 horas para divulgar a lista integral com o nome dos 109 mortos em confrontos com policiais desde a noite de sexta-feira, dia 12, segundo determinou portaria do Ministério Público Estadual
Filipe Araújo/AE
Parente de uma das 12 vítimas não identificadas faz vigília em frente ao IML

Áudios
Entrevista de Pedro Giberti à Eldorado AM
SÃO PAULO - A Polícia de São Paulo tem 72 horas para divulgar a lista integral com o nome dos 109 mortos em confrontos com policiais desde a noite de sexta-feira, dia 12, segundo determinou portaria do Ministério Público Estadual. O Instituto Médico Legal também foi requisitado a apresentar, em cinco dias, os laudos periciais relativos a estas mortes.
O pedido, feito nesta segunda-feira, 22, pelo Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial, tem o objetivo de apurar eventuais abusos de poder das polícias Civil e Militar, no controle da onda de violência "desencadeada por criminosos integrantes do Primeiro Comando da Capital", segundo o texto da portaria.
O MP deu um prazo de três dias para que o Delegado Geral da Polícia envie cópias dos boletins de ocorrência sobre as 109 mortes, assim como a lista com os nomes das vítimas. A polícia terá ainda cinco dias para enviar cópias das Portarias de instauração de inquérito sobre as ocorrências.
O Comandante Geral da Polícia Militar terá 72 horas para enviar cópias dos talões de ocorrência sobre as mortes, bem como a lista de mortos. O MP deu cinco dias para que a PM apresente cópias das portarias de instauração de inquéritos policiais militares relativos aos fatos.
Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, foram registrados 229 ataques, que deixaram 109 pessoas mortas, além de 41 policiais e agentes penitenciários, e quatro civis. Somando-se a este número os 18 mortos em rebeliões em presídios paulistas, a crise na segurança deixou, ao todo, pelo menos 172 mortos.
Até o momento, não foram reveladas as identidades das vítimas dos confrontos. Na semana passada, em meio a boatos de que entre os mortos haveria inocentes, o governador Claudio Lembo prometeu que, em breve, a lista seria revelada.
Nesta manhã, em entrevista à Rádio Eldorado AM, o subdefensor Pedro Giberti, da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, disse que, se entre os mortos pela polícia houver alguma inocente, as famílias serão procuradas e indenizadas. Permanecem no IML da capital, sem que possam ser reclamados pelas famílias, os corpos ainda não identificados de 12 das 109 pessoas mortas pela polícia

Oposição se irrita com críticas

Por: Tribuna da Imprensa

BRASÍLIA - A oposição se irritou com as queixas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a Lei Eleitoral. Ontem, Lula lamentou que o dinheiro fique "mofando" nos cofres federais por causa da proibição das transferências de recursos a estados e municípios a partir de 30 de junho. O líder da minoria no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), protestou contra as reclamações públicas de Lula contra a legislação que trata os repasses de verbas como cooptação.
Ele não tem dúvidas de que é o presidente quem está usando a Lei eleitoral para justificar o que não foi feito por incompetência administrativa, especialmente agora, quando às vésperas das eleições. "Mas não convence", adverte o líder, para quem a execução orçamentária tem sido "uma lástima" e isto não se deve apenas a determinação do governo de produzir um superávit nas contas públicas. "Um dos graves problemas desse governo é a humilhação por que passam vários ministérios de devolver dinheiro ao Tesouro por incapacidade gastá-lo, executando o orçamento", critica Dias.
"É inacreditável que Lula tenha a coragem de falar com tamanho cinismo, quando temos provas evidentes de um novo 'valerioduto' no Ministério das Cidades, onde já há um escândalo de R$ 1 bilhão para a 'compra' de prefeituras", disse o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).
ACM afirmou que além de continuar "liberando recursos escandalosamente", o governo ainda está pedindo a aprovação de créditos em valores maiores do que os repasses previstos no Orçamento para estados e municípios. "Vou denunciar o ministério das Cidades, que Lula deu ao PP do ministro do Severino (Cavalcanti, ex-presidente da Câmara)", disse ACM, revelando-se disposto a encaminhar sua denúncia ao Tribunal de Contas da União (TCU) e ao Tribunal Superior Eleitoral TSE.
Ele está especialmente irritado por conta de um pedido de crédito extraordinário de R$ 878 milhões ao Ministério das Cidades, aprovado pela Câmara na última quarta-feira, depois de passar pelo crivo dos senadores. ACM faz uma varredura nos projetos do ministério e estranhou o fato de o valor dos projetos em municípios diversos ser sempre o mesmo: R$ 292 mil.
"Ainda estou conferindo documentos e já encontrei projetos diferentes para 27 cidades, envolvendo esta mesma quantia. Devem ser projetos de fachada", suspeita ACM. Ele garante estar convencido de que os repasses federais estão sendo usados para tentar cooptar prefeitos de partidos da oposição.

Vannuchi, Genro... exibições explícitas de oportunismo

Por: Rui Nogueira (Primeira Leitura)


Instalou-se em parte da mídia e do debate parlamentar aquilo que alguns jornalistas e políticos já apelidaram de um “empurra-empurra entre PSDB e PT” sobre a crise da segurança pública em São Paulo – em todo país, a rigor. Trata-se de mais uma vitória do princípio petista do empate cínico sobre o signo do já manjado “somos todos iguais”. Reduzir o bom debate a um “empurra-empurra” torna tudo mais fácil, mais rasteiro.
Essa linha de raciocínio evita que se apresentem os números, os orçamentos, que se detalhem as responsabilidades circunstâncias e as responsabilidades estruturais. Abre-se, assim, uma planície para o cinismo sem limites liderado pelo presidente da República, secundado pelo ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) e suplantado pela ignorância indômita do secretário Paulo de Tarso Vannuchi, dos Direitos Humanos.
Entusiasmado com a prosa destrambelhada do governador Cláudio Lembo (PFL), aquela que responsabiliza o descaso social da “elite branca” pela violência em São Paulo, Vannuchi chafurdou no lamaçal pensante corrente e deu a contribuição dele à baixaria sociológica reinante. Ele disse, na Folha de S.Paulo desta segunda-feira, que o elitismo brasileiro “tem suas raízes no nosso passado colonial escravista” e revelou preocupação com “toda a simbologia que há no episódio Daslu”. Assim, do quase nada, eis a Daslu no debate!
O ministro Vannuchi podia ter parado por ali, assim, como quem cria uma situação apenas provocadora, apenas propositalmente maldosa. Que nada! Ele “sociologou” em cima, querendo demonstrar a solidez do pensamento, e mandou ver sobre as lojas Daslu, em São Paulo, exibindo toda a desqualificação mental possível: “Primeiro, aquele monumento faraônico de exaltação de um luxo que funciona como uma espécie de insulto aos miseráveis que vivem do lado e a presença do ex-governador [Geraldo Alckmin] em festas da Daslu. Em seguida, o envolvimento da Daslu em práticas que estão ainda em investigação, mas com fortes indícios de graves sonegações fiscais. Isso é o retrato de uma certa elite brasileira”.
Esse homem, mestre em ciência política pela USP, amigo de Lula, ex-presidente do Instituto Cidadania (um dos braços financeiros do petismo travestido de ONG social), ex-assessor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo (SP) e secretário-executivo do comitê central da campanha de Lula à Presidência, em 2002, é secretário com status de ministro da República Federativa do Brasil. Ele é mestre em ciência política, mas não se dispõe a fazer um raciocínio, tão ligeiro quanto o da Daslu, sobre o exemplo edificante do metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, condestável da ética nacional, no Planalto, a exaltação à faraônica corrupção patrocinada pelo mensalão e o insulto que a “quadrilha” petista perpetrou no poder.
A intimidade de Alckmin com a Daslu é tão republicana que a empresária foi investigada e responde, dentro da lei, ao que o Estado de Direito quiser saber dela. É da vida democrática, que estabelece as regras do direito de acusação e de defesa. Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT que acendia charutos na boca de Lula, nunca teve suas propriedades invadidas pela PF atrás das provas do relacionamento criminoso entre o PT, Marcos Valério e companhia. Tudo azeitado, como diria o mestre Vannuchi, em “fortes indícios” de corrupção institucional sem-par na história do país.
Genro: outra perdiçãoDescompostura institucional foi notada, no sábado passado, pelo editorial da mesma Folha de S.Paulo, intitulado Palanques de Sangue, sobre as declarações recentes do ministro Tarso Genro em torno da crise paulista. O jornal foi ao ponto, com palavras que não admitem mais rodeios: “Uma das mais lamentáveis exibições de oportunismo eleitoral sobre o sofrimento e o sangue alheios”. O editorial disse ser natural que o “tema da segurança pública [entre] na lista de principais discussões nas campanhas eleitorais neste ano”, e acrescentou onde Genro se situou nesse debate. Eis alguns trechos do editorial, que destaquei em nota na edição do fim de semana, mas transcrevo aqui novamente:“Irresponsável” – “Nada justifica a partidarização irresponsável da selvageria promovida pelo PCC, desrespeitando o luto de familiares dos agentes da lei covardemente assassinados, perdendo de vista que o crime organizado é inimigo comum de todos os políticos comprometidos com o Estado de Direito”.
“Oportunismo eleitoral” – “Das mais lamentáveis exibições de oportunismo eleitoral sobre o sofrimento e o sangue alheios foram algumas frases do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. Na quarta, o petista atacou o governo paulista, dizendo que preferiu ‘negociar com criminosos’ a aceitar ajuda federal para debelar a crise”.
Esperteza – “Nem se mencione o fato de Genro esconjurar ‘negociações com criminosos’ pouco depois de 11 petistas ou ex-petistas terem sido denunciados criminalmente pelo mensalão. Frise-se que o ministro apenas revelou sua indignação num momento preciso: após o Datafolha ter mostrado que a maioria dos paulistanos gostaria do apoio de tropas federais”.
“Tese oca” – “Negociação com o PCC, naquele contexto explosivo, terá sido escandalosa se o poder público ofereceu vantagens fora da lei aos líderes dos motins. Do contrário, tratou-se de atitude de bom senso para poupar vidas (...). Essa dúvida, entre uma negociação ilegal e uma ação legítima, dado o contexto, somente o Ministério Público e a Justiça podem tirar, após exame cuidadoso dos fatos. Não caberia a Genro prejulgar, quanto mais quando era o momento de demonstrar união. Mas o autor da tese oca da ‘refundação do PT’ preferiu perfilar-se no time dos muitos políticos que não souberam ler a crise paulista.”
O que mais dizer?!
[ruinogueira@primeiraleitura.com.br]

Má consciência

Por: Renato Andrade (Primeira Leitura)


A legislação eleitoral estabelece alguns mecanismos que visam a impedir que presidentes da República, governadores de Estado e prefeitos em campanha à reeleição façam uso descarado dos recursos públicos em prol de seus interesses políticos particulares. Um desses mecanismos é a proibição de repasse de recursos entre, por exemplo, a União e os Estados e municípios três meses antes das eleições. O presidente Lula acha “lamentável” a proibição determinada pela lei. Lamentável mesmo é o raciocínio do presidente.
A lista das chamadas “condutas vedadas” aos agentes públicos em campanhas eleitorais é razoavelmente extensa. Ainda assim, os abusos são constantes. Veja o que o próprio presidente tem feito. Como a definição das candidaturas acontece oficialmente somente em junho, mês das convenções nacionais partidárias, Lula vai brincando com as brechas deixadas pela lei, fazendo uso do cargo e de toda infra-estrutura garantida pela Presidência da República para fazer campanha sem custos para seu partido. É o processo de convencer o povo com o dinheiro do povo. Fácil, não?
Agora imagine se não fosse vedado ao presidente da República fazer repasses de recursos para Estados e municípios durante os três meses que antecedem as eleições. Dificuldades em ganhar apoio dos políticos e da população do Estado X? Que nada! Temos mais este convênio genial para encher os cofres estaduais de dinheiro e as urnas de outubro com votos de “sim!, mais quatro anos pra ele”, o inquilino do Palácio do Planalto. Seria uma festa!
É importante lembrar: presidentes, governadores e prefeitos não precisam deixar seus cargos para se candidatarem à reeleição, ao contrário do que acontece com ministros, por exemplo.
Lula afirma que a lei atual foi estabelecida como se fosse possível fazer cooptação eleitoral por meio da assinatura de convênios entre a União e os Estados. Mas alguém duvida da existência de políticos com interesse em cooptar ou ser cooptados pelo poder dos recursos públicos? A história brasileira está repleta de exemplos que mostram que há pouco espaço, quase nenhum, para esse tipo de dúvida.
A posição defendida por Lula reflete o pouco apreço do presidente da República pelos instrumentos de garantia mínima de respeito ao uso do dinheiro público. Não é de estranhar. Não houve pudor na montagem e utilização do esquema operado pelo empresário Marcos Valério de Souza por parte das lideranças do PT e do governo federal. Não houve punição para boa parte dos réus confessos do trambique. A Polícia Federal denunciou recentemente outro esquema escandaloso de uso indevido de recursos públicos, mas o Palácio do Planalto resolveu patrocinar o enterro da proposta de investigação dos 283 parlamentares suspeitos de participação no esquema.
Mas Lula poderia ter ficado com a boca fechada. Não faria mal nenhum. O limite entre o exercício das atribuições de um cargo público e o uso descarado da posição para benefício político próprio é tênue. Sua identificação é extremamente difícil. Limitações como a do repasse de recursos três meses antes das eleições são garantias mínimas que a legislação precisa impor. Defender essas garantias é uma obrigação do chefe de Estado. Apesar de querer mais quatro anos na posição, Lula ainda não entendeu algumas das obrigações básicas do cargo.
[renatoandrade@primeiraleitura.com.br]

O elogio da covardia

Por: Liliana Pinheiro (Primeira Leitura)


A seqüência de fatos lembrados no terceiro parágrafo deste texto se destina a refrescar a memória dos leitores quanto à mais nova desordem do nosso poder central, paradoxalmente um poder marginal, tendo como protagonistas o governo e a oposição. Sabendo que jornalistas estão na mira do Planalto, antes que eu tome um processo, aviso que uso marginal no sentido psicológico: aquilo que está na periferia da consciência. Ficou ameno, não? Vivência de ditadura, meus caros. Não há mais censores nos dias que correm. O jogo de palavras, agora, obedece a uma lógica diferente: é preciso escapar dos advogados do poder sem deixar de fazer a crítica que cabe ser feita.
Onde há petistas poderosos, há advogados cinco-estrelas prontos a prestar serviços contra a imprensa. Uns mercenários (no sentido de que trabalham honestamente a soldo, que boba não sou), outros oficiais, com Pasta e caneta na mão. Pasta no sentido de valise — a letra inicial maiúscula, que sugere a palavra Ministério, foi erro de digitação. Escapei de processo? Já volto a novos exercícios de covardia, mas para dar conta também da dos outros, tão vasta que espanta até a esta senhora, ora tão cheia de cuidados e acanhamentos para dar conta dos malfeitos do poder.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, encontrou-se, longe dos olhos da mídia, na última quarta-feira, com um banqueiro investigado pela Polícia Federal por produzir dossiê contra o governo Lula. As informações coletadas por Daniel Dantas, do Opportunity, foram publicadas na edição da semana passada da revista Veja — a fonte foi revelada pela própria publicação. Uma semana depois, a mesma Veja conta, em nova reportagem, do encontro de Dantas com Thomaz Bastos para “celebrar uma trégua”. O governo confirma que ambos se reuniram, mas tenta imprimir ao episódio um caráter republicano: Bastos estaria em “missão institucional”, nas palavras do colega Tarso Genro, escalado para dar à sociedade uma “resposta política” ao episódio.
A oposição se calou, como sempre faz quando existe Daniel Dantas no enredo. O governo nem se deu ao trabalho de catar os pedaços de máscara espalhados por toda a Esplanada dos Ministérios e pelo Palácio do Planalto. A imprensa on-line pegou leve porque, afinal, não havia o declaratório habitual para dar corpo às reportagens. Como escrever sobre o silêncio? No aguardo da cobertura dos jornais, que só chegarão às bancas nesta terça, assumo eu, nesta noite de segunda-feira, o desafio de falar sobre esse imenso nada brasiliense.
Onde está o banqueiro, o clima de Marcola x São Paulo se instala: não se vê vivalma disposta a enfrentá-lo. Nem no governo, que preferiu processar o jornalista de Veja, nem na oposição. Ouviram-se só murmúrios intramuros vindos da Polícia Federal, que estranhou a suposta (outra palavra antiprocesso) negociação de seu chefe, Thomas Bastos, com seu investigado, Daniel Dantas.
A PF destacou um grupo de investigadores responsável pela apuração do caso Kroll, empresa que teria (haja futuro do pretérito para tantos doutores dispostos a nos pegar!) espionado autoridades brasileiras a mando da Brasil Telecom, então comandada por Dantas. A própria Veja lembra que o banqueiro foi denunciado à Justiça Federal por corrupção ativa, quebra ilegal de sigilo telefônico, violação de sigilo bancário e formação de quadrilha. Que missão institucional o ministro teria a cumprir ao conversar com essa personagem que, nos próximos dias, deve prestar depoimento à PF? O segundo capítulo dessa salada diz respeito ao papel que o pefelista Heráclito Fortes teve nesse encontro. Em algumas reportagens já publicadas em veículos de imprensa, Fortes é gentilmente apresentado aos leitores como o “amigo” de Daniel Dantas no Congresso.
Suspeito, e apenas porque esse verbo não dá processo, que Dantas não tenha propriamente amigos. Tem é poder sobre todos os lados políticos dessa República, composta de situação, oposição e advogados. Batalhões de advogados. Ou melhor, tenho uma suposta suspeita, doutores.
Nesta terça, Delúbio Soares estará na CPI dos Bingos. Oposição e governo tentarão nos mostrar valentia, posições radicalizadas, podendo até derivar para uma guerra de projetos e concepções, essa sim verdadeiramente suposta. Estarão confortavelmente diante do peixe pequeno do poder, com seu ar ictíico, palavra que não dá processo porque ninguém sabe mesmo o que vem a ser. São uns covardes, uns poltrões. Mas, se me perguntarem em juízo a quem ofendo, direi sinceramente que os peixes. Os meus andam pesados naquele vaivém inútil, naquela boa vida. Nada para cá, nada para lá. Revoltante!
A Federação Nacional dos Jornalistas, filiada à CUT, não deu um pio sobre o processo que Lula moverá contra o repórter de Veja, Márcio Aith, quando deveria processar Dantas, o autor do dossiê contra o presidente e os homens do presidente. É mais uma forma de covardia. Do presidente ou da Fenaj? Ah, fiz outra construção antiprocesso perfeita, pois, se um me acusar, digo que é outro, e, se outro processar, digo que é um. E se o bicho pegar, mesmo, digo que a covardia é toda minha, como estou afirmando desde o começo do texto, o que será verdade verdadeira.
Advogados custam caro. Pagamos tanto para que eles tenham os deles que ficamos sem nenhum para contratar os nossos.
[liliana@primeiraleitura.com.br]

Se eu fosse Daniel Dantas

Por: Reinaldo Azevedo (Primeira Leitura)


Huuummm, se eu fosse Daniel Dantas, como está no título, é claro que levaria uma vida menos preocupada com algumas mesquinharias demasiadamente humanas. Você sabe, não é, leitor?, condomínio, escola das crianças, supermercado, essas bobagens que os mais disciplinados costumamos até pôr num arquivo do Excel para fugir do monstro da inadimplência... Não estou entre aqueles que olham para o banqueiro com inveja. Ao contrário: louvo-lhe o talento, cantado em prosa e verso pelos mercados. O homem é visto assim como um Buffalo Bill da área, ganhando sempre, correndo todos os riscos, sacando antes de seus inimigos.
Eu, o máximo de risco que corro é ler a Suma Teológica ou, antes, o perigosíssimo Erasmo. Vai que, numa hora dessas, eu caia num valo da lógica e nunca mais me levante — não da crença, mas do risco da descrença, que tem de ser permanente em todo homem de fé: ou ela não é para valer. Dantas, não. Seu mundo parece ser bem mais agitado do que isso. Como sempre sei tudo o que não sei — dirigir automóveis ou mexer com eletricidade, por exemplo —, fico exposto apenas a essas ridicularias. No Brasil, certas habilidades tanto enobrecem como empobrecem um homem. Dantas decidiu ser rico e parece ser bom pra chuchu no que faz. Meus sinceros parabéns.
Livre das questões demasiadamente humanas, se eu fosse Dantas, no entanto, não estaria assim tão feliz e me sentiria um tanto marginalizado, como aquele indiozinho do poema I Juca Pirama, de Gonçalves Dias: “Rejeitado da morte na guerra, rejeitado dos homens na paz”. O país é surrealismo puro. Pô, ninguém quer falar com Dantas. Às claras, a gente viu, o governo não quer. Lula preferiu atacar os jornalistas da revista Veja — Márcio Aith e Diogo Mainardi, supõe-se. Seriam “bandidos”. Com Dantas, é visível, ele não quer briga. Ao contrário: mandou o criminalista Márcio Thomaz Bastos numa “missão institucional” (segundo Tarso Genro) para falar com o banqueiro. Institucional? Dantas virou agora um ente do Estado? Instituição?
Digressão dialéticaA casa escolhida foi a do senador Heráclito Fortes (PFL-PI), que vem a ser um dos coordenadores de seu partido na campanha presidencial do tucano Geraldo Alckmin. Ok. Missões institucionais costumam pedir um território neutro: por que não a casa de Heráclito? Seu homônimo mais famoso, o de Éfeso, é considerado o pai original de uma das mais influentes picaretagens da história do pensamento: a dialética.
Dialético, na prática, é tudo aquilo que, não tendo uma explicação segundo os seus próprios termos, apela então à (i)lógica dos contrários para justificar o injustificável. Se tudo sai como NÃO deveria ser, então se diz que é porque existe a dialética.
Um exemplo: rebeliões de presos só ocorrem porque existem os presídios. O preço de trancafiarmos os bandidos, como eles merecem, seria conviver com essa ameaça. O que é útil para a sociedade seria, então, um risco: culpa da dialética! Não ocorre a um maldito dialético que um governo possa ser competente tanto para prender o bandido como para manter a disciplina nos presídios. A dialética é sempre diretamente proporcional à miséria dos países.
É como sarampo e barriga d’água. Brota mais dialética no Haiti, na Bolívia e no Brasil do que na Dinamarca ou na Suécia... Até as revoluções comunistas, filhas da dialética, só atacaram em país pobre. Feito lepra. Marx tinha previsto a primeira na Alemanha; aconteceu na Rússia semifeudal. Nos anos 60 e 70, enquanto a Europa consolidava a social-democracia, sem dialética, a dialética atacava em Cuba e na África. O vírus leninista matou mais do que a gripe espanhola e, infelizmente, não sumiu no ralo histórico, como o outro, no ralo biológico.
Terminou a digressãoJá vou voltando. O governo e Lula não querem briga com Dantas. Ele confessou a Diogo Mainardi que Delúbio Soares lhe pediu US$ 40 milhões e que houve uma “sincronia” entre o desembaraço de demandas suas no governo e a contratação de um advogado amigo de Dirceu, e o criminalista que faz plantão no Ministério da Justiça o chama para um colóquio institucional. Quem sabe tenham debatido a obra de Heráclito, o de Éfeso? Ou teria Bastos, em meio à maior crise de insegurança pública jamais vista no país, se ocupado de discutir a segurança de apenas um homem: a de Lula?
Tanto quanto o governo não quer briga com Dantas — Lula não gosta é de Diogo Mainardi —, a oposição parece não querê-lo como um auxiliar para desvendar os segredos do mensalão e os bastidores da república petista. É visível que ninguém quer tocar no assunto. Sei bem: um homem como o banqueiro, que gosta de se arriscar, que conhece os meandros do mundo dos negócios, que tende a considerar, a exemplo de Heráclito, que o fogo é a origem de tudo e que todas as mercadorias são trocáveis por ouro, não deve padecer de carências afetivas. Não dá a menor bola que não liguem para ele. Acha normal que prefiram esquecê-lo.
Falo por mim. Eu, que já sei ser mentira que o fogo é o elemento essencial da natureza; eu, que não acredito em dialética; eu, que suponho que nem toda mercadoria é a outra forma do ouro, eu sei que me sentiria terrivelmente rejeitado, incapaz de conviver nesse limbo. Se o ministro me chamasse para uma conversa institucional, eu não teria nada a dizer a ele, a não ser recomendar que pegasse o boné e fosse para casa. Por absoluta insuficiência de provas. Explico-me: quero ver alguém provar que Bastos é mesmo o ministro da Justiça. Conceitualmente, não é. Só um desses empiristas empedernidos ainda insistira nessa tese, desde que, claro, desprezadas todas as evidências em contrário.ConcluindoAlém de estar me sentindo rejeitado, se eu fosse Dantas, também botaria as barbas de molho. É muito grande o número de pessoas que gostariam que ele jamais tivesse existido, que determinadas conversas jamais houvessem acontecido, que certos fatos jamais tivessem sido inscritos na história e, talvez, escritos na implacável “memória” de Dantas. Se eu fosse ele, contaria tudo o que sei para me preservar de “conversas institucionais”.Diário do meu crânio O médico tirou hoje os pontos de um dos cortes. Tudo bacana. Sabe, leitor, quando cai a casquinha da ferida, ainda não muito bem cicatrizada, de joelho de criança? Resta um ferimento de um vermelho muito vivo, que não sangra, de aparência algo gelatinosa. Este fica pouco acima do alto da testa, do cocuruto mesmo, quase como um dos estigmas.
A torcida de uns três ou quatro para que tudo fosse à breca não se realizou. Dr. Marcos Stavale fez direito o seu trabalho, coisa rara no Bananão, e a torcida do bem, centenas de vezes maior, ganhou a parada. A parte de trás do crânio ainda exibe uma costura pós-moderna, que finjo ser body art. No caso, meu corpo é suporte da poética da neurocirurgia. Cada ponto é um pé de verso que poderia remeter a uma épica muito antiga.
Essa história toda começou com a galhofa, quando fiz uma ressonância magnética, assumiu tons de elegia, nos dias mais tristes, e agora, homem do meu tempo, já remete a certo lirismo vagabundo, que apela a joelho ralado de criança. Hora dessas volto a uma especulação a que já me dediquei, e outros antes de mim, sobre por que não conseguimos mais ser épicos.
Eis outra preocupação que Dantas e Bastos certamente não têm.
[reinaldo@primeiraleitura.com.br]

Em destaque

"Jeremoabo Lamenta a Perda de Espedito Soares Lima: Um Ícone de Nossa Comunidade"

  6 /05/2024   "Jeremoabo Lamenta a Perda de Espedito Soares Lima: Um Ícone de Nossa Comunidade" Fonte: JV PORTAL / JEREMOABO TV R...

Mais visitadas