Após um longo processo de indefinição, o nome do deputado federal José Carlos Aleluia (DEM) foi escolhido ontem pelas lideranças do DEM e PSDB para disputar o Senado ao lado do candidato José Ronaldo (DEM), na chapa encabeçada pelos candidatos Paulo Souto e Nilo Coelho.
A decisão saiu após uma reunião de cúpula das legendas, que não poderiam perder tempo após ACM Júnior ter declarado publicamente que não iria aceitar o convite para disputar a reeleição.
Aleluia revelou que aguardava por uma resolução nacional para que pudesse entrar de vez na disputa. Isto porque, o nome do parlamentar baiano foi cogitado para ocupar a vaga de vice na chapa do presidenciável tucano José Serra. “Agora já está tudo resolvido, sou candidato ao Senado”, confirmou o deputado democrata.
Para o postulante ao Palácio de Ondina, Paulo Souto, a solução “foi perfeita”. “Dificilmente os baianos vão ver uma dupla tão competente quanto esta”, defendeu o ex-governador.
Já o cientista político da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Paulo Fábio Dantas, pensa que Aleluia é uma tentativa do DEM de amenizar a desistência de ACM Junior do embate. “A escolha traz densidade para a chapa, no entanto, ele (Aleluia) troca uma posição confortável para uma disputa complicadíssima”, analisa.
De fato, Aleluia concorre com nomes fortes para as duas vagas de oito anos no Senado Federal. Na coligação liderada pelo PMDB os candidatos são César Borges (PR) e o vice-prefeito de Salvador, Edvaldo Brito (PTB).
Do lado dos petistas, os postulantes Walter Pinheiro (PT) e Lídice da Mata (PSB), embora derrotados na última eleição para prefeitura da capital, são considerados nomes fortes por especialistas políticos.
“Aleluia tem a experiência de vários mandatos como deputado federal. Ele fez muito pelo estado”, defendeu Souto. O candidato ao Senado, por sua vez, disse que foi um dos principais responsáveis por trazer a fábrica da Ford para a Bahia e que pretende utilizar a bandeira da geração de emprego como uma das principais diretrizes de seu mandato, caso seja eleito.
Adiamento não prejudica
Na avaliação de Paulo Souto, a demora na escolha do candidato não trouxe prejuízos para a disputa. Afinal, segundo ele, todos aguardavam a decisão de ACM Júnior, já que, como atual senador da sigla, teria direito prioritário à vaga. “Entendemos as razões de Júnior e buscamos, de imediato, uma solução”, garante Souto, complementando que, assim como na eleição anterior, quando ACM foi eleito, Júnior também será o suplente, desta vez de Aleluia.
Para o novo postulante ao Senado, não houve atrasos na escolha. Ele acredita que as especulações envolvendo seu nome para vice de Serra acabaram sendo positivas. Opinião, inclusive, compartilhada por Souto. “Isto mostra a capacidade dele (Aleluia) e nos trouxe vantagens”, defendeu. O ex-governador também não revelou maiores preocupações com as pesquisas recentes em que a presidenciável Dilma Rousseff (PT) aparece com cinco pontos percentuais à frente do candidato tucano.
Segundo Paulo Fábio Dantas, esta configuração pode ser a saída para Paulo Souto não perder eleitorado ‘carlista’ para Geddel. Entretanto, Souto diz não estar preocupado com isso. “Estamos focados nos nossos objetivos. A partir do próximo mês o governo não pode mais fazer propaganda e isto vai equilibrar as coisas” sentenciou o candidato.
ACM Jr. desiste da reeleição
A despeito de todas as pressões exercidas nos últimos meses por lideranças do DEM e PSDB, inclusive do candidato José Serra, o senador ACM Júnior decidiu não se candidatar à reeleição. Júnior enviou nota à imprensa ontem alegando que os compromissos pessoais, principalmente os empresariais, determinaram a desistência.
À Tribuna da Bahia, o parlamentar afirmou que nunca escondeu a dificuldade em conciliar a vida política com as atribuições empresárias da família.
Já para o cientista político Paulo Fábio Dantas, a recusa do senador não é pessoal e sim política. “Esta decisão deixa claro que esta ala dos Democratas, de ACM Júnior e ACM Neto, não vai se engajar totalmente na campanha de Paulo Souto”, avalia Dantas.
O senador democrata nega a interpretação e diz que vai trabalhar para eleger os candidatos da coligação de seu partido. “Vou participar de todos os eventos da legenda para pedir votos para os nossos”, confirma Júnior.
Segundo Dantas, a configuração atual da chapa majoritária do DEM/PSDB não tem força para ganhar eleição, ao menos, para o Senado.
“A decisão praticamente tira eles da disputa para o parlamento”, diz o analista. Para ele, os maiores beneficiados com a saída de ACM Júnior são os candidatos ao Senado César Borges (PR) e o postulante ao Palácio de Ondina, Geddel Vieira Lima (PMDB).
“É uma sinalização de que pode haver uma aproximação entre este segmento do DEM e o PMDB, principalmente, no interior da Bahia”, defende o especialista.
Outro cenário descrito nos bastidores acena para uma estratégia de ACM Neto para ser beneficiado politicamente e ascender como liderança do Democratas e herdeiro do avô ACM. Dantas acredita que uma eventual derrota de Paulo Souto nesta eleição retira, virtualmente, o ex-governador do cenário político do estado.
Nestas circunstâncias, ACM Neto pode se firmar como opção viável para assumir o legado familiar. “Isto se Geddel não for mais rápido”, conclui o cientista político da UFBA.
Contudo, Neto rechaça a última hipótese. Tanto ele como o pai (ACM Jr.) defendem que a preocupação atual de ambos é com os negócios da família.
Mas, desde o inicio das especulações sobre a candidatura de Júnior, soam nos bastidores informações sobre a intervenção do primeiro contra a reeleição do pai. O posicionamento do deputado federal para esta postura teria sido motivado por um acordo com César Borges.
Neste caso, a costura teria sido realizada para que o republicano fechasse com Geddel e não com Wagner, já que a fidelidade partidária impedia o ex-governador a participar da chapa de Paulo Souto. Entretanto, Neto nega veementemente esta informação.
“Isso nunca existiu. A partir do momento em que o senador César Borges optou por apoiar a candidatura do deputado Geddel Vieira Lima (PMDB) ao governo da Bahia, nós decidimos nosso próprio caminho” disse ACM Neto. (LFL)
Fonte: Tribuna da Bahia