Tribuna da Imprensa Livre
Antônio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido na História do Brasil como Antônio Conselheiro, que se autodenominava "o peregrino", foi um líder religioso brasileiro. (Wikipédia)Por José Macedo –
Neste artigo, faço breves comentários sobre Canudos, de Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro, sobre “Os Sertões”, livro de Euclides da Cunha, engenheiro de formação militar e positivista.
“O sertanejo é antes de tudo um forte. A mistura de raças mui diversa é, na maioria dos casos, prejudicial. Ante a conclusão do evolucionismo, ainda quando reaja sobre o produto o influxo de uma raça superior, despontam vivíssimos estigmas da inferior. A mestiçagem extremada é um retrocesso”. (em “Os Sertões”, de Euclides da Cunha).
No livro “Os Sertões” encontramos esses e outros textos reveladores do darwinismo social, enfatizdos no determinismo, como também, em afirmações sobre “a mistura das três raças, branca, negra e silvícola, surgindo a raça inferior”, diz.
O racismo, cientificismo e o evolucionismo, bem como a seleção natural estão presentes em seu livro. Assim, faço lembrar Charles Darwin, os médicos legistas, Cesare Lombroso e Nina Rodrigues, presentes em sua obra literária.
Suas convicções são fortes e explícitas, em comparação com as encontradas em Monteiro Lobato, na democracia racial de Gilberto Freyre e outros.
Contudo, Euclides, de formação militar e positivista, permanece imune à crítica.
Na segunda parte do célebre livro, estudo de o “Homem”, o escritor Euclides da Cunha mostra-se seguidor do evolucionismo, o racismo resta imbricado em seu pensamento e crenças.
“Da união das raças, branca, negra e silvícola, surge o retrocesso civilizatório”, diz.
No 05 de outubro último, a guerra de Canudos completou 127 anos, quando o exército brasileiro massacrou, assassinou entre 20 a 25.000 brasileiros, indefesos e pobres, que queriam, tão-só, um pedaço de terra, trabalhar, produzir e sustentar sua família.
Assim, foi uma guerra fratricida, motivada pelo domínio, conflito, concentração e uso da terra.
O coflito foi despropocional, em função dos recursos disponíveis; de um lado povo pobre, os sem terra; do outro, os latifundiários e a igreja, estes, com o fracasso administrarivo e financeiro da República (Estado) em crise, que necessitava de apoio político.
A cobrança de impostos pressionava, penalisava e revoltava a população empobrecida, mas não explica o conflito, por si só.
Ao final, o exército brasileiro venceu os conselheristas, após envolver 15 estados brasileiros, na quarta expedição, mobilizando forças militares, vultosos recursos, até, recrutando mercenários.
Essa guerra foi uma vergonha, manchou a imagem do exército brasileiro e da igreja.
No meu sentir, a guerra de Canudos define-se como genocídio e a maior injustiça cometida contra os excluídos, sertanejos, pobres e esquecidos, desde a monarquia.
O sertão possuia bolsões de mão de obra ociosa, querendo trabalhar, mas explorada pelos donos da terra, os latifundiários, não olvidando dos 350 anos da Escravidão.
A vontade das elites e do exército é a de esquecer esse deplorável episódio, cuja vitória foi banhada de sangue de patrícios e de irmãos inocentes.
Os sertanejos indefesos, queriam um pedaço de terra, defendiam o direito a uma vida digna, trabalhar e viver em paz com suas familias.
São 127 anos de quase silêncio e sem respostas suficientes, diante das carências do sertanejo.
Esquecer da guerra de Canudos parece uma obsessão e uma palavra de ordem, exemplo disso está nas escolas, que escondem dos alunos relevantes fatos de nossa história.
O padre Ibiapina, que abandonou a magistratura e a advocacia, ordemou-se padre, foi missionário que se juntou aos pobres, inspirado na igreja católica primitiva (das Catacumbas), da “República de Platão e da Utopia de Thomas Morus, influenciou Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro, fundador e organizador da comunidade, Arraial de Canudos.
Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro, era culto e religioso, foi professor de latim, de português e de matemática, exerceu, também, a advocacia, como rábula (leigo ou provisionado). Ao contrário das versôes oficiais e maldosas.
Portando, a presença do Estado, a aplicação e acesso da “Justiça” com imparcialidade eram direitos para poucos.
A classe privilégiada usufruindo das benesses do Estado formou o “Coronelismo”, gênese donos da terra, sa concentração de renda e do poder político.
As mentiras em face do Conselheiro motivavam sua prisão e tentativa de interná-li como louco. Não provaram a suposta loucura; tampouco, a imputação de assassinatos.
O aprofundamento da crise teve início na guerra do Paraguai, década de 1860, posteriormente, a Abolição da Escravidão (1888).
Os escravos libertos, que não se subordinam a seus, até então senhores, seguiram pelas estradas, famintos, muitos caíram no cangaço e no crime.
Então Canudos, às margens do Rio Vaza- Barris, em uma fazenda improdutiva e abandonada, oferecia condicôes geográficas para a instauração da comunidade, imaginada por Conselheiro.
Ali, chegou o Conselheiro com seus seguidores, criou uma comunidade agrícola e religiosa, com rapidez, desde 1893, com os primeiros residentes.
Em três (3) anos, o Arraial de Canudos era o segundo núcleo (podemos dizer cidade) populacional do Estado, (cerca de 25.000 a 35.000 pessoa). .
Eles prosperaram, não existia fome, não existia violência.
As crianças eram educadas, tendo Conselheiro, o líder maior, providenciado professora para as crianças.
A comunidade conselherista começou a incomodar a igreja, que monopolizava os ensinamentos religiosos, começou a incomodar, também, os donos da terra, o latifúndio que perdia a mão de obra, semi-escrava. O passo seguinte foi o de pedir a intervenção do arcebispo e do governador.
Mas, Conselheiro não desistiu.
A compra de uma madeira, na cidade de Juazeiro e não entregue, foi o aparente estopim do conflito, guerra e massacre, a matança, o genocídio dssa comunidade sertaneja que bravamente, resistiu, por 11 meses, tombando, em 05 de outubro de 1897, há 127 anos.
O juiz de direito da Comarca de Juazeiro, Dr. Arlindo Leoni, eŕa um antigo desafeto do Conselheiro, tendo influenciado o governo baiano na primeira expedição e, rechaçada em Uauá, no encontro com os conselheiristas, a caminho de Juazeiro.
O livro “Os Sertões” é dividido em três partes, a Terra, o Homem e a luta numa sequência que explica o evolucionismo e determinismo, bases do pensamento de Euclides.
“As condições geográficas, a união de raças, branca, indígena e negra gerando assim o homem inferior e refratário à civilização”. escreveu Euclides.
A Canudos original do Conselheiro e de seus seguidores, os conselheiristas, está submersa, certamente, intencional..
A construção da barragem, o açude de Cocorobó, submergiu a Velha Canudos, um desejo do exército brasileiro, uma ideia surgida no Estado Novo. Sua construção foi iniciada, em 1951 e, concluida, em 1969.
A ditadura militar, de 1964, construiu o açude, de nome Cocorobó em tempo célere, considerando a grandiosidade da obra.
Contribuo escrevendo, para que a desgraça, com aparência de Justiça, as mentiras e as versões falsas nâo prosperem.
Assim, ponho-me vigilante com relação aos falsos messias que gritam pelo nome de Deus e da democracia, bestas destruidoras dos direitos basilares da democracia, dos pobres, que precisam de trabalho, clamam por uma Reforma Agrária, por um pedaço de terra, como reivindicavam os conselheiristas, no final do século XIX, hoje, no século XX! nosso bravo MST.
A Reforma Agrária é imprescindível para a paz no campo, para sairmos, definitivamente, do Mapa da Fome e eliminação da abissal concentração de renda, antítese da democracia.
JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.