MEMÓRIA HISTÓRICA DA FUNDAÇÃO HANSEN BAHIA.
Salvador, 19 de abril de 2023.
Cartas na Mesa.
Por Fábio Costa Pinto*.
Neste artigo, trago verdade, memória e tristeza, vida e obra do maior artista plástico, xilogravurista do mundo, museu de um só artista, que amou a Bahia e escolheu Cachoeira e São Felix para doar sua obra, viver e morre.
Nascido em 19 de abril de 1915, em Hamburgo, Alemanha Ocidental, de nome Karl Heinz Hansen.
Foi marinheiro, escultor, poeta, escritor, cineasta, pintor e xilógrafo, o qual se dedicou especificamente. Participou da última guerra mundial denunciando-a no seu famoso “DRAMA DO CALVÁRIO”. Cansado de tudo e de todos, com suas ideias progressistas, sempre lutando pelo bem-estar do homem, saiu da Alemanha e veio conhecer o Brasil, chegando em São Paulo em 1950.
Morou alguns anos em São Paulo, teve seu primeiro emprego na Companhia Melhoramentos de São Paulo, como decorador, em 15 de julho de 1950. Fez várias séries de xilogravuras. No ano de 1955, saiu da Companhia de Melhoramentos de São Paulo e foi conhecer a Bahia. Tinha 37 anos na época. Conhecendo a Bahia, Bahia que lhe encantou vivendo alguns anos, naturalizou-se brasileiro e adotou a Bahia como seu nome.
Viveu intensamente no Pelourinho, sentindo de perto a intimidade das prostitutas que ali viviam, para retratá-las nas suas matrizes. Retratas também seus problemas, suas dificuldades, sua miséria.
No ano de 1957, a livraria Progresso Editora, lança seu livro “Flor de São Miguel” dedicado ao bar do mesmo nome que ele frequentava diariamente. A apresentação é de Jorge Amado.
Já nesta época, Jorge Amado reconhece, de logo, o valor de Hansen para a Bahia. Não demorou muito, veio outro livro “Ladeira da Misericórdia”, outros como “Santa Bahia”, “Portas e Janelas”, “Via Crucis no Pelourinho”, “Ulisses chegando a Bahia”, etc.
Depois de 10 anos vividos na Bahia, em 1962, volta a Alemanha e organiza um ateliê em Tittnoning no Castelo de Caça dos arcebispos de São Salzburgo construído em 1234.
Hansen volta a Bahia em 1965. Traz consigo sua aluna alemã Ilse Carolina Stromaier, jovem camponesa, bem mais moderna do que ele e que a amava muito. Vai morar em Piatã, bairro de Salvador, orla marítima, onde aprende as primeiras palavras em português com os pescadores.
Em 1975, descobre Cachoeira e São Félix levado por sua ex-aluna Noelice Costa Pinto e seu amigo José Mário Peixoto Costa Pinto. Cidades que parecem Salvador, quando a conheceu. Resolveu morar em São Félix e doar toda a sua obra artística para a Bahia por testamento, para que se fizesse uma fundação com o seu nome.
No dia 19 de abril de 1976, dia do seu aniversário, no Touring Clube de Brasília, Hansen faz a doação para as autoridades federais olharem para Cachoeira que tanto precisava ser soerguida.
Em vista de tão grandioso gesto, a prefeitura municipal de Cachoeira, através do seu prefeito, Dr Edson Ivo de Santana, médico, doa uma casa para que fosse instalada a Fundação Hansen Bahia. No dia 31 de julho do mesmo ano, foi constituída a Fundação Hansen Bahia durante o encerramento do I Festival de Inverno da Cachoeira, coordenado por — Noelice Costa Pinto — artista plástica, então assessora cultural daquela prefeitura, com ajuda da FUNARTE/MEC e galeria de arte Amanda Costa Pinto, que iniciou todo o movimento cultural naquela cidade do Recôncavo baiano.
Em 1978, no dia 19 de abril, foi inaugurado o Museu Hansen Bahia, com Hansen bastante doente. No dia 30 de maio, parte Hansen Bahia para São Paulo. Foi operado no dia 13 de junho e não resistindo morreu de um edema pulmonar, uremia-câncer de bexiga, às 16 horas do dia 14 de junho, sendo sepultado no crematório M. em São Paulo.
A Fundação Hansen Bahia é uma entidade cultural, pessoa jurídica de direito privado e patrimônio próprio nos termos da lei civil, sem fins lucrativos e reconhecida de utilidade pública pela Câmara de Vereadores do Município de Cachoeira, no dia 27 de outubro de 1981, cujo projeto de lei tem o número 03/81. Era a integração, a partir daí, com a comunidade do Recôncavo.
— Registrado no Cartório de Registro de Imóveis e Hipotecas, Títulos e Documentos e Pessoas Jurídicas da Comarca de Cachoeira, livro n.º 02 de Registro Geral, mat. sob n.º 562 reg.1, em 29 de setembro de 1978, referente aquisição do predio n.º 12 na Praça Manoel Vitorino. Adquirida pela Fundação Hansen Bahia, doado pela Prefeitura Municipal de Cachoeira, representada pelo Dr. Edson Rubem Ivo de Santana na qualidade de chefe do executivo Municipal (prefeito), conforme escritura pública de constituição da Fundação Hansen Bahia lavrada em 31/07/1976 em tabelionato no livro 9 fls 148/154v.
Relatos da professora Noelice Costa Pinto.
“Conheci Hansen Bahia no curso livre de xilogravura que ele dava no ICBA — (Instituto Cultural Brasil Alemanha), tendo me incentivado a continuar na Escola de Belas Artes, onde estudei com ele próprio, Oscar Caetano da Silva e outros mestres”.
“Hansen Bahia residia em Amaralina com sua ex mulher, de quem se separou na Alemanha e conheceu a Ilse, casando-se com ela, sua terceira mulher e verdadeiro amor. Ela com 19 anos mais moça do que ele. Foi por meio de Edio Gantois que Ilse comprou dois lotes juntos em Jaguaripe, Salvador, chamado de “Jardim Gantois”, na orla marítima, deste construiram uma casa”.
Hansen Bahia fez mais de 200 exposições em vários continentes, convidado por Reis e Príncipes, Presidentes e Primeiro Ministros. Com obras em museus do mundo e painéis pelo Brasil. Expondo permanente, Hansen se correspondia com artistas de várias partes do mundo.
Em São Felix, cidade do Recôncavo baiano, 115 km da capital Salvador, sua casa, vivia cheia de gente pobre e trabalhadora, onde ele e sua mulher Ilse, chegaram a alimentar 100 pessoas por semana.
Hansen foi para São Paulo, sem dinheiro, somente com Cr$ 50.000,00 (cinquenta mil cruzeiros) à época, dados pelo Dr Roberto Santos, então governador da Bahia, foi operar e morreu. Ilse, de luto, traz as cinzas do artista.
— “Faço questão de contar isso para repartir com a sociedade baiana esta tragédia, porque os “sábios burocratas” são profundamente insensíveis. Para eles, tudo. A ideia não é deles, nada feito. “isso é cultura”, seja esquerda festiva e “sábia”, seja direita perversa e mentirosa, incompetente”. Desabafa Noelice, hoje com 85 anos.
Certa feita, Hansen muito doente chama Noelice e diz: “Noelice, eu vou operar em São Paulo e volto. Eu quero meu Museu”. Noelice corre até Cachoeira e chama o prefeito, que foi até a Fazenda Santa Barbara, sua casa em São Felix, cidade visinha, separada por uma ponte histórica, com o nome do Dom Pedro II. Lá rodeado do povo e de amigos, deitado numa rede e sua Ilse ao seu lado. Passado um tempo, assim que vários foram embora, Hansen vai ao banheiro, de lá grita de dor. De portas abertas e aos berros, -“Ariston, eu estou morrendo, urinando sangue, veja. Eu quero meu museu”. Aristom Mascarenhas era o prefeito da cidade de Cacheira, nesta época.
Noelice lembra, que todos os dias saia de Cachoeira e ia a Fazenda Santa Barbara em São Feliz despachar com Hansen. — “Noelice, eu quero assim”. “ Noelice, minha obra é minha vida, estou dando a Canhoeira”. “Esta fazenda também é da Fundação Hansen Bahia”. “Você vai dirigir tudo isso para o povo, ajudar Cachoeira e São Felix”, dizia Hansen.
Noelice sai da reunião arrasada, pela insensatez dos governantes, a não compreensão da importância e grandeza de Hansem. — “eu precisava dar boas notícias. E o museu, pelo menos, ele veria ser inaugurado, mesmo na sede provisória na casa Ana Nery, em Cachoeira”.
Inaugurada o Museu, na sede provisória, Casa Ana Nery em Cachoeira, a Fundação Hansen Bahia passa a funcionar com seus objetivos culturais, artísticos, sociais, ecológicos e turísticos para soerguer e conscientizar cachoeiranos e sanfelistas.
Após a morte de Hansen, Ilse se viu na solidão. Numa tarde, Ilse manda chamar a professora Noelice na Fazenda. Disse Ilse: -“minha mãe, Úrsula e minha irmã Sabina, alemães, querem tomar a Fazenda Santa Barbara”. Ilse comprou de Edvaldo Brandão Correia, então governador da Bahia. Tinha medo, também, da ex mulher de Hansen e seu dois filhos, Irmie e Vitório.
Dias passam e Ilse bebia cada vez mais, fumava muito, tomava remédios e hora em hora ia ver as cinzas de Hansen.
Dia 5 de junho de 1983, ela, Ilse morre.
Às pressas, o caseiro Armando chama Noelice, que residia na Vila de Belém, distrito de Cachoeira, que foi até a Fazenda Santa Barbara, em São Felix. — “Lá, Ilse parecia que me esperava. Sentada ao seu lado, ela nada falava e com lágrimas no rosto, fez um gesto com as mãos como se quisesse dizer que tudo acabou”.
O Suicídio Cultural.
Dia seguinte, a morte de Ilse, na hora do enterro, a ex mulher de Hansen (separada dele na Alemanha por senteça de juiz), juntamente com Irmie e seu companheiro, Vitório e sua companheira, filhos de Hansen, entraram na casa dos Hansens e fizeram um bacanal, um “churrasco de morto”, como chamaram. Dona Arlinda e Armando, caseiros, viram tudo. O consulado alemão Ocidental nada fez. Assim se comportava diante da tamanha crueldade.
Levaram caixotes de gravuras, matrizes, joias, santos, móveis, etc. A claque alemâ ocidental, simplesmente, não respeitaram que tudo aquilo pertencia à Fundação Hansen Bahia, à Bahia e ao Brasil.
Só para terem uma ideia, sairam vendendo o resultado do roubo pelo Brasil e a Europa. Venderam ao Hotel da Bahia, a belíssima fase “ULYSSES”, só que com a assinaturas falsas. — “O trabalho é de Hansen, só que a assinatura não é dele”, relatou Noelice.
O Projeto inicial e a vontade de Hansen.
Aperfeiçoar o homem através da arte e da cultura sempre foi um dos propósitos da Fundação Hansen Bahia, a parte educacional e social, a mais importante.
Em Cachoeira, Museu Hansen Bahia, sala de doações de artistas brasileiros e estrangeiros, biblioteca, sala de exposição, teatro de arena, oficina de arte, literatura de cordel, cursos de arte e pesquisas.
Em São Felix, Memorial, ateliê de Ilse e Hansem Bahia, casa de farinha, olaria, fórno para cerâmica e artesanato, cine teatro, creche e escola profissionalizante.
19 de abril, o dia.
Neste mês de aniversário de Hansen Bahia, em justa homenagem, apresento dois discursos (anexos). Um trata-se do discurso da professora Noelice Nascimento Costa Pinto (Testamenteira, fundadora, e sua primeira diretora), aluna e amiga de Hansen e Ilse Hansen. O segundo, do poeta Carlos Capinam, primeiro presidente do conselho da Fundação Hansen Bahia.
Os discursos, foram lidos na Fazenda Santa Barbara, em São Felix, na década de 80, na presença do governador Waldir Pires, secretários de estado, prefeitos, cônsules e da sociedade. Uma multidão se fez presente a visita do governo. Conhecimento e memória da FHB. Viva Hansem Bahia e Ilse Hansen. Viva Noelice e José Mario Costa Pinto. Viva o povo da Cachoeira e de São Felix.
Eu, filho de Noelice e José Mario Costa Pinto, verdadeiros amigos de Hansen e Ilse, convivi e presenciei à belíssima história de vida, a partir de Cachoeira e São Felix, nas décadas de 70 e 80. A confiança de Hansen na nossa família era tamanha que em seu estatuto, clausulas pétreas, tem dois membros da família Costa Pinto como conselho vitalício. Assumir o lugar da minha querida mãe Noelice na cadeira do conselho da Fundação.
Já passaram pela presidência nomes como, José Carlos Capinan, Edivaldo Boa Ventura, Paulo Galdenze, Marcio Meirelles, Albino Rubim, Pola Ribeiro e Dinalva Melo atual presidente. Na diretoria executiva, Noelice Costa Pinto, Vanderlina Rodrigues, Elias Gomes de Sousa, Jomar Lima, e Vanessa Vilas Boas, atual diretora. Hoje, um pouco melhor. Mas, não chega ao projeto original que deveria ser olhado com maior atenção. Esperança será a última. Palavras foram dadas, aguardamos a seriedade desta nova composição, conselho e diretoria.
Entra e ausentar-se diretores e presidentes do conselho, e a luta inicial de Hansen e Ilse, Noelice e José Mario, ainda é um sonho que carrego em nome deles e do povo de Cachoeira e de São Felix. Ver cada vez mais o desenvolvimento social, cultura e educacional das duas cidades heroicas e do Recôncavo baiano. O projeto inicial é a vida deste artista, a construção da Escola Parque transformará essas duas cidades.
Conclamo o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, o Ministro da Casa Civil, Rui Costa, a Ministra da Cultura, Margareth Menezes e o Secretário de Cultura do estado baiano, Bruno Monteiro, para que no dia 25 de junho, vá até a Fundação Hansen Bahia e sinta o amor que Hansen e Ilse tinham por Cachoeira e São Felix. A fundação é privada, a “obra” é do povo.
*Fábio Costa Pinto, Jornalista baiano, membro do conselho deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa — ABI, e conselheiro vitalicio da Fundação Hansen Bahia.
Noelice Costa Pinto*
Senhor Governador do Estado da Bahia.
Nesta casa aconteceu uma tragédia. É bom repetir sinteticamente, pois uma ditadura é o que há de mais terrível neste mundo.
Em 19 de abril de 1976 o Mestre internacional da arte da xilogravura, Hansen Bahia, doa, por testamento e em Brasília, sua obra extraordinária para ajudar as cidades históricas de Cachoeira e São Félix, abandonadas, pobres e sem prestígio estadual e nacional. Em 19 de junho de 1978, às 16 horas, no Hospital Sírio Libanês, morre Hansen Bahia. Deixa sua Ilse Hansen – sempre a Bahia no coração — que, com o tempo, foi induzida ao suicídio cultural pela total falta de sensibilidade e inteligência dos órgãos culturais, patrimoniais e artísticos dos governos passados, ressalvando-se GERALDO MACHADO e EDUARDO SIMAS.
Cada dia ILSE ia morrendo. A Fundação Hansen Bahia não passava de um Museu provisório em Cachoeira, mantendo a chama. Comigo e José Mário Peixoto Costa Pinto, ILSE aguentou o que foi possível. Chegou a querer queimar a OBRA HANSEN BAHIA em plena praça da Aclamação como protesto suicida. Impedi este que seria um dramático gesto contra a ditadura, a indignidade, a mentira e a falsidade.
Promessas e mais promessas. Nada. Morre a Fundação Hansen Bahia e quatro casas. Como testamenteira e Diretora Executiva, escolhida por Hansen Bahia em vida, tem sido muito duro, Senhor Governador. Tenho lutado arduamente quase sem ajuda do Estado e dos Municípios. Verdade seja dita, existe o Museu Hansen Bahia, devido o EX-DAC e FUNARTE; mas, Senhor Governador, o Museu encontra-se em uma casa onde nasceu a heroína ANA NERY, de propriedade da Prefeitura, já se deteriorando de tal modo que a Coordenadora Nacional do Museu do Ministério da Cultura Mara Estela ficou horrorizada. Na semana passada, veja só V. Excia. O absurdo, a Embaixatriz da França, no Museu com o Prefeito de Cachoeira e mais a Vice-Diretora da FUNDAÇÃO HANSEN BAHIA, quase tomaram banho tal a quantidade de água que caía pelo telhado.
Ora, precisa-se acabar urgentemente com a restauração da sede própria da FHB, pois a IPHAN já gastou Cz$ 800.000 (oitocentos mil cruzados) e parou a obra em novembro de 1987 por terminar a verba. Fosse outro o Ministro da Cultura que não o excelente CELSO FURTADO, diria que era retaliação. Que outra coisa pensar?
Estou informada pelo Deputado Fernando Santana que conseguiu a primeira parte da verba, não há retaliação por parte do Ministério da Cultura. Esta semana apelei em logo telegrama fonado ao Próprio Presidente Sarney e estou à espera da resposta.
Senhor Estadista Dr. Waldir Pires: A Fundação Hansen Bahia precisa de V. Excia. para implantar, aqui, a Escola Parque do Interior, isto é, o Projeto Hansen Bahia para resgatar a memória de dois amantes do Brasil, da Bahia, de Cachoeira e São Félix. Ilse e Hansen queriam que tido isto que V. Excia. vê hoje fosse para beneficiar o povo pobre e carente de quase tudo.
Para completar, senhor Estadista Waldir Pires, este projeto falta V. Excia. autorizar colocar a placa do seu governo sério e popular e iniciar: a escola profissionalizante de 1º. Grau; o cine-teatro; o posto médico e dentário (já existe casa aqui); as hortas comunitárias; a casa de farinha comunitária completa e eletrificada; e o forno para cerâmica.
Isto, senhor Estadista, não é nada em face dos milhões de dólares que a obra Hansen Bahia vale, a vida de Hansen Bahia, o suicídio de Ilse Hansen.
Segure esta bandeira, pois o Projeto Hansen Bahia é fundamental para o desenvolvimento desta região. E vou além: é a própria democracia que V. Excia. tanto luta desde a juventude. É a educação, a saúde, a alimentação e a cultura do povo.
Obrigada pela honra de ter aceitado o convite que muito deixa a todos, políticos ou não, felizes, pois V. Excia. encara a luta pela união popular em benefício do próprio povo desta terra sagrada da Bahia.
*Noelice Nascimento Costa Pinto, Diretora Executiva da FBH, Testamenteira de Hansen Bahia, Artista Plástica, Conselheira Vitalícia do Conselho FBH, Membro da UFBa.
José
Carlos Capinan*
Companheiros
e Companheiras:
Sou
um poeta. Não sou de fazer discursos.
Tenho
a honra de presidir o Conselho da Fundação Hansen Bahia, na forma
dos seus Estatutos, porque ele “nasceu do amor” como dizia o
próprio Hansen. Amor à Bahia. Amante do cheiro e da gente de pés
descalços nos pelourinhos da vida. Sem sobrenome registrado, é
Bahia.
Que
gesto lindo dele e de sua Ilse Hansen morta pela insensatez dos
órgãos culturais da ditadura. Doou sua Obra, Doou suas vidas.
Deram-se às comunidades como um todo, onde Cachoeira e São Félix
abraçam-se e reconhecem que o sonho do grande gravador deste século
já está tomando corpo com o Governo Democrático.
É
de capital importância o Projeto Hansen Bahia, o que a nossa querida
Noelice chama muito bem de “Escola Parque do Interior.”
A
mudança é evidente. Do suicídio, do drama dos Hansen Bahia aos
convênios que vão aumentando. Antes quase nada. Agora alguma coisa.
Amanhã tudo.
Realmente,
a Obra Hansen Bahia é fenomenal, inclusive politicamente denuncia os
horrores da guerra nazi-facista como a sua via crucis da Alemanha
que, diga-se, participou do ano santo no Vaticano, em 1975. Hansen
Bahia foi o único artista brasileiro convidado. Antes Hansen Bahia
denunciava os horrores da escravidão quando ilustrou o livro “Navio
Negreiro” de Castro Alves.
Certa
feita Edison Carneiro disse: “Este Navio Negreiro pertence tanto a
Castro Alves quanto a Hansen Bahia”, Hansen, com aquelas gravuras,
ilustra, não os navios de escravos, aqueles que na verdade fizeram o
comércio de negros com a África durante três séculos, mas o
“veleiro brigue”, o navio fantástico com que Castro Alves
procurou despertar os seus contemporâneos contra a infâmia da
escravidão.
MenottI
Del Picchia, em março de 1951, dizia impressionado com o Drama do
Calvário de Hansen Bahia: “Cada vítima de guerra sofreu um
calvário. O de Karl Heinz Hansen foi e será o de milhões de homens
em Hamburgo, Londres, Stalingrado, Lídice e hoje na Coréia tem suas
quatorze estações inexoravelmente fixadas nestas admiráveis e
tremendas xilogravuras que, mais quatorze obras de arte, são
quatorze gritos de angústia e de protestos da própria humanidade
contra os crimes dos homens”.
O
Conselheiro José Mário Costa Pinto costuma dizer: “Conhecendo
Hansen como conhecemos podemos afirmar, sem a menor dúvida, que faz
parte do quadro de humanistas da escola como Lorca, Neruda, Hussel,
Siqueiros, João XXIII, Jorge Amado, Eremburgo e Portinari”.
Apoiar
a Fundação Hansen Bahia deve ser um compromisso de todos nós,
baianos ou não, brasileiros preocupados com os nossos valores
culturais, com as nossas artes e sobretudo com o passado, tão
necessário e tão presente nesta região.
Imagino
o sofrimento de Ilse Hansen Bahia! Vamos resgatar a sua memória da
forma mais realista e honesta; lutar para que a sede própria seja
urgentemente restaurada; lutar para transformar o Projeto Hansen
Bahia na “Escola Parque Interior”. É justíssimo, empreendimento
barato e de alcance notável em todo o recôncavo baiano.
Quero
deixar aqui a minha palavra mais sincera possível para Noelice Costa
Pinto, a quem Hansen Bahia e Ilse Hansen Bahia confiaram. O que ela
tem feito é algo notável e exemplar, sem ganhar um só centavo.
Tenho
a certeza que o Governador, Waldir Pires está vivamente interessado
por tudo que viu.
Em
nome do Conselho Diretor da Fundação Hansen Bahia quero deixar
claro que esta bandeira eu seguro e a Obra Hansen Bahia será salva,
seus móveis e imóveis em benefício do povo.
Obrigado!
*José
Carlos Capinan Poeta, Compositor, Secretário de Cultura do Estado da
Bahia (Governo Democrático de Dr. Waldir Pires)