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domingo, março 06, 2022

Como a mesma propaganda contra a Ucrânia pode ser tão eficiente entre petistas e bolsonaristas?




No mesmo dia da invasão, os porta-vozes do governo na imprensa plantaram a tese de que Putin estava fazendo cumprir um referendo que garantia a anexação de partes do território e evitando uma catástrofe nuclear, provocada pela expansão da Otan. 

Por Leonardo Coutinho 

No mesmo dia em que os coturnos russos começaram a marchar sobre o solo ucraniano, o Brasil sofreu um bombardeio. De desinformação. Logo nas primeiras horas, vieram os memes que inundaram as mensagens de WhatsApp e depois coalharam o Twitter e o Facebook. Alguns deles chamam a atenção. Um vídeo comparava as campanhas por alistamento na Rússia e nos Estados Unidos. Enquanto os soldados de Putin são mostrados como máquinas mortíferas, os americanos são representados em um desenho animado com uma soldado, filha de um casal de lésbicas.

Qual é o impacto da mensagem? De imediato é “explicar” por que o Ocidente se enfraqueceu. Mas a mensagem traz outro significado. Diz para a base de direita e conservadora que, além de militarmente inferiores, suas sociedades também foram subjugadas em seus valores pelo globalismo dos Estados Unidos e da Europa. E vejam só, China, Rússia e, por que não?, o Irã são as garantias da salvação da moral e dos bons costumes.

Outro vídeo compara Vladimir Putin a Joe Biden. Enquanto o russo puxava ferro, o americano quase rola escada abaixo, em uma cena viral na qual ele tropeça várias vezes quando subia no Air Force 1. A mesma safra de memes trouxe um Putin superpoderoso em comparação com o presidente Volodymyr Zelensky, que é tratado como um humorista inapto que levou a Ucrânia a ser invadida.

Parece uma série de bobagens, mas na noite do primeiro dia de invasão, a base do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, já recebia mastigadinha as análises relativizando a invasão.

Enquanto isso, o berrante petista era tocado pelos seus políticos e operadores na imprensa para fazer exatamente o mesmo que o bolsonarismo. Mas com o indefectível ingrediente “antifascista”. Segundo eles, as hostilidades russas são na realidade um esforço de “desnazificação”. Um discurso que segue ipsis litteris o roteiro de Moscou.

Mas como a mesma propaganda pode ser tão eficiente entre petistas e bolsonaristas?

A resposta não é simples. Passa por muitos caminhos, mas não pode ser encontrada sem um conceito militar: as operações psicológicas. Que vem a ser isso? Copiando a explicação mais básica que está em verbete de enciclopédia, é o emprego de um conjunto de técnicas de propaganda que tem como objetivo dar suporte às ações de guerra, sejam elas convencionais ou não. Às vezes, elas são usadas para afetar a autoestima do adversário. Em muitos casos, elas servem para distorcer a realidade e pavimentar ações ou até mesmo antecipar conquistas. E parece ser o que está acontecendo no Brasil.

A reação dos petistas e assemelhados é um pouco mais fácil de ser entendida. Eles são o que são. Antiamericanos por natureza, aceitam qualquer lorota que coloque a culpa nos Estados Unidos. “Biden quis invadir”, “a Otan ameaçou a paz”, “ameaçado, Putin está no direito de reagir”, alguém duvida que seja preciso muito esforço para isso colar? O líder do PSOL, Guilherme Boulos, sugeriu que “o mais importante é não cair na narrativa”, para, justamente, reproduzir a narrativa russa, exibindo ideias que não vão além de uma compostagem do mesmo discurso do intervencionismo americano que se arrasta por mais de seis décadas, combinado com o briefing do Kremlin.

Boulos não está só. A fila de Putinlovers parece não ter fim. Mas mais que amor pelo invasor, há um desprezo pelos invadidos. Talvez, por isso, tem sido tão cômodo comparar os ucranianos aos nazistas. Fica mais fácil e palatável torcer para que eles sejam derrotados.

Mas e o bolsonarismo? Os seguidores de Jair Bolsonaro viraram a chave mesmo antes da viagem do presidente, ainda em janeiro, quando ele cravou que Putin é um conservador em resposta a um cidadão que checou com a fonte primária algo que ele já vinha recebendo via meme.

Bolsonaro havia acabado de voltar da Rússia e sua base estava em êxtase com a história da mesinha versus o mesão entre Putin e outros líderes, entre eles Emmanuel Macron. Um tipo de coisa que só tem valor para gente carente ou ressentida, que vibra com a mínima manifestação de carinho ou respeito. Mesmo se tratando de encenação.

Os corações bateram ainda mais forte depois que o ex-ministro Ricardo Salles lançou a campanha por um Nobel da Paz para Bolsonaro. Um negócio tão sem propósito que deveria ter se encerrado na traquinagem. Mas acabou virando meme, verdade, desmentido e checagem. Como se não bastasse tanto desperdício de energia, a Jovem Pan resolveu ser termômetro do delírio e fez uma enquete com a pergunta: “O presidente Jair Bolsonaro consegue evitar a guerra entre Rússia e Ucrânia?”. A crença no heroísmo do presidente saiu vitoriosa.

Mas a guerra chegou. Como assim? Em reação ao bullying da imprensa e das redes, os bolsonaristas não titubearam. Abraçaram a propaganda russa para dizer que se trata de algo maior. É a salvação da moral e dos bons costumes. Afinal, e nossas crianças? A explicação veio de bandeja e passou a ser replicada bovinamente. Putin se viu acuado e está “protegendo os ucranianos”. Lembram-se do Boulos? Qualquer semelhança não é mera coincidência.

No mesmo dia da invasão, os porta-vozes do governo na imprensa plantaram a tese de que Putin estava fazendo cumprir um referendo que garantia a anexação de partes do território e evitando uma catástrofe nuclear, provocada pela expansão da Otan. Pois as vítimas são as culpadas. Depois de alguns memes e um pouco de contorcionismo, Putin virou o defensor do mundo, contra a expansão do comunismo e globalismo. Salles, o pai da tese do Nobel, protagonizou a cena mais grotesca em defesa de Putin. Ele disse que Rússia e China são o novo exemplo.

Pois é. Putin, um autocrata que ajudou a soltar o Lula, sustenta o regime de Nicolás Maduro, da tal Venezuela que tanto assusta (com razão) parcela importante dos brasileiros e que ameaça o mundo com armas nucleares, virou o farol do mundo.

A penetração da mensagem russa é tão profunda que conquistou até o presidente. Desde a sua coletiva de imprensa, nos primeiros dias de invasão, Bolsonaro só reproduz desinformação russa.

E desinformação não é sinônimo de fake. Não pode ser lida e entendida pela dualidade verdade versus mentira.

As engrenagens de desinformação russas vêm do período soviético. Nem foram criadas por eles, mas foram muito bem aprimoradas para compensar a desvantagem que tinham em relação ao poder econômico do Ocidente, em uma guerra em que eles aprenderam a usar o que o Ocidente tem de melhor contra o próprio Ocidente. Entre várias coisas, o livre fluxo de informação.

Plantar versões favoráveis a eles virou uma arma de guerra aprimorada pelo tempo. E como isso é feito? Aproveitando-se das fraturas. É verdade que Joe Biden é um presidente cambaleante? Sim. É verdade que os Estados Unidos estão bem perdidos na sua política externa? Sim. É verdade que a Europa enche o saco com uma agenda ambiental arrogante e cheia de equívocos e exageros que não levam em consideração a mitigação da pobreza? Sim.

Então, o que Putin faz? Pega ponto por ponto, trabalha para reforçá-los e se vende como remédio. A Fox News mediu um fenômeno bizarro, que é resultado dessa estratégia de explorar os sentimentos dos radicais. Entre os republicanos, 92% têm visão negativa de Biden, enquanto 81% têm opiniões desfavoráveis a Putin. Entre os democratas, 87% são contrários a Donald Trump, enquanto 85% estão contra as ações de Putin ou o que ele representa.

Nada mostra mais como os russos entraram na cabeça de Bolsonaro que o texto apócrifo que ele disparou em seus grupos de WhatsApp. Tratado equivocadamente como uma obra do pensamento olavista, o texto é na verdade um resumo completo eficiente do que Putin sabe que a base e o presidente querem ouvir e dizer. Enfiou no meio uns elogios para si, seus aliados China e Irã, e por tabela turbinou as falsidades algum “Jafar”, que orbita o gabinete presidencial, conta para o presidente sobre a tal ajuda da Rússia para manter a soberania da Amazônia, por exemplo, ou sobre o conservadorismo de Putin. Ao que parece, mais que um post cheio de delírios, é um ato de rendição.

Gazeta do Povo (PR)

9º dia de guerra é marcado por incêndio em usina nuclear




Maior usina da Europa pegou fogo após ataques na cidade de Zaporíjia, o que gerou pânico devido a um possível desastre nuclear. Putin assinou lei que intensifica a censura na Rússia, e Otan prevê dias mais difíceis.

O nono dia da invasão russa em território ucraniano, nesta sexta-feira (04/03), começou com um incêndio que causou pânico na Ucrânia, na Europa e no mundo devido à possibilidade de um desastre nuclear. A maior usina nuclear do continente, localizada na cidade de Zaporíjia, no sudeste da Ucrânia, pegou fogo após ser alvo de bombardeios russos.

O incêndio começou entre 3h e 4h no horário local e foi controlado em torno de duas horas e meia depois. Não houve vítimas.

No Twitter, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, escreveu: "Se explodir, será dez vezes maior que Chernobyl! Os russos devem imediatamente para os ataques, permitir [o trabalho dos] bombeiros, estabelecer uma zona de segurança."

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Mariano Grossi, afirmou que não houve liberação de radiação após o incêndio.

A usina de Zaporíjia gera 25% da eletricidade da Ucrânia. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, pediu que Moscou pare com o que chamou de "terrorismo nuclear".

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou com Zelenski sobre o incêndio. A conversa foi informada pela Casa Branca em uma série de tuítes. Segundo as postagens, Biden "se uniu ao presidente Zelenski para pedir à Rússia" que interrompesse suas atividades militares no local e permitisse que os bombeiros e equipes de emergência pudessem acessar a área.

A secretária de Energia dos EUA, Jennifer Granholm, disse que conversou com seu homólogo ucraniano e que os reatores da usina de Zaporíjia são protegidos por "estruturas robustas de contenção" e foram "desligados com segurança".

Pela manhã, autoridades ucranianas confirmaram que forças russas assumiram o controle da usina nuclear: "Funcionários operacionais estão monitorando a condição das unidades de energia", afirmaram autoridades regionais nas redes sociais, acrescentando que a prioridade era garantir que as operações prosseguissem de acordo com os requisitos de segurança.

As autoridades informaram ainda que nenhum vazamento de radiação foi detectado após as chamas. "Alterações na situação da radiação não foram registradas."

Já no fim da manhã, em um pronunciamento, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, pediu aos russos que protestem contra a ocupação da usina.

"Povo russo, eu apelo a vocês, como isso é possível? Afinal, lutamos juntos em 1986 contra a catástrofe de Chernobyl", destacou Zelenski.

O embaixador da Rússia nas Nações Unidas, Vassily Nebenzia, negou que as forças russas tenham bombardeado a usina nuclear.

"Essas declarações são simplesmente falsas", afirmou Nebenzia ao Conselho de Segurança da ONU. "Tudo isso faz parte de uma campanha sem precedentes de mentiras e desinformação contra a Rússia."

Zelenski: "A Europa precisa acordar"

Após o ataque e a tomada russa da usina de Zaporíjia, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse que "a Europa precisa acordar". A afirmação foi feita em um vídeo no Telegram.

"Estou me dirigindo a todos os ucranianos, a todos os europeus e a todos que conhecem a palavra Chernobyl", disse o líder ucraniano. "Dezenas de milhares tiveram que ser retirados do local, e a Rússia quer repetir isso – e já está repetindo –, mas [de maneira] seis vezes maior."

Zelenski acrescentou que a Ucrânia tem 15 reatores nucleares e que "se houver uma explosão, é o fim para todo mundo". "Não deixem a Europa morrer em uma catástrofe nuclear", concluiu.

Também nesta sexta-feira, a embaixada da Ucrânia em Berlim solicitou ao governo alemão o fornecimento de tanques e navios de guerra para Kiev enfrentar a invasão russa.

Em nota, o órgão afirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, iniciou uma "guerra de aniquilação" contra a Ucrânia.

Na noite de sexta, durante protestos em várias cidades europeias, como Frankfurt, Paris e Praga, Zelenski apareceu em um vídeo e mandou uma mensagem para os manifestantes.

No vídeo, ele diz que "se a Ucrânia cair, todos cairão. Não fiquem em silêncio, tomem as ruas, apoiem a Ucrânia".

'Assinatura da nova lei fez com que diversos veículos de comunicação decidissem suspender seus trabalhos na Rússia'

Rússia aprova nova lei contra "fake news" sobre guerra

O parlamento russo aprovou uma lei que vai impor penas que de até 15 anos de prisão para quem disseminar "informações falsas" sobre a guerra na Ucrânia.

Emendas também foram aprovadas para multar ou prender quem reivindique sanções contra a Rússia.

Qualquer pessoa que utilizar os termos "guerra" ou "invasão" em relação à incursão russa em solo ucraniano pode ser condenada a até 15 anos de prisão. Conforme o Kremlin, o que está ocorrendo na Ucrânia é uma "operação militar especial".

Ao abrir a sessão, o presidente do parlamento, Vyacheslav Volodin, criticou as mídias sociais estrangeiras depois que o Facebook ficou brevemente inacessível na Rússia nesta sexta-feira.

"Todas essas empresas de TI, começando com o Instagram e terminando com as outras, estão sediadas nos Estados Unidos da América. É claro que são usadas como armas. Elas carregam ódio e mentiras. Precisamos nos opor a isso", declarou Volodin.

As ações contra mídias sociais mantêm a linha de restrições já impostas também a veículos de comunicação, como a britânica BBC, a americana Voice of America, a rádio Free Europe/Radio Liberty – que tem sede em Praga, na República Tcheca, mas é financiada pelo governo dos EUA –, o website Meduza, da Letônia, além da Deutsche Welle.

Conforme Vyacheslav Volodin, porta-voz da câmara baixa do parlamento russo, a medida "vai forçar aqueles que mentem e fazem declarações que geram descrédito a nossas forças armadas a sofrer punições severas. Quero que todos compreendam, e que a sociedade compreenda, que estamos fazendo isso para proteger nossos soldados e oficiais, e para proteger a verdade", afirmou Volodin.

'Para Stoltenberg, não é possível, para a Otan, implementar uma zona de exclusão no espaço aéreo ucraniano'

Otan diz que "pior ainda está por vir"

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou nesta sexta-feira que "os próximos dias serão provavelmente piores, com mais mortes, mais sofrimento e mais destruição, enquanto as Forças Armadas russas trazem armamentos ainda mais pesados e continuam os ataques em todo o país".

Ele também disse que a aliança militar do Atlântico Norte não imporá uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, mesmo depois de pedidos do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.

"O único jeito de implementar uma zona de exclusão aérea é enviar caças da Otan para o espaço aéreo ucraniano, e impor a medida por meio da derrubada de aviões russos", explicou, após uma reunião de emergência com os ministros do Exterior dos Estados-membros.

Kiev havia pedido a medida para ajudar a impedir os bombardeios a várias cidades ucranianas.

"Se fizéssemos isso, acabaríamos com algo que poderia levar a uma guerra total na Europa, com o envolvimento de mais países e com muito mais sofrimento humano. Esta é a razão pela qual tomamos essa dolorosa decisão", concluiu Stoltenberg.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, criticou a Otan pela recusa em impor a zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, uma medida que Kiev vem solicitando há dias para impedir o avanço da Rússia no país.

ONU vai investigar violações aos direitos humanos

O Conselho de Direitos Humanos da ONU, o principal órgão jurídico da entidade, aprovou por ampla maioria a criação de um painel de três especialistas que vão supervisionar possíveis violações aos direitos humanos na Ucrânia, em meio à invasão russa.

A resolução, proposta por diversas nações ocidentais e outras que criticaram a intervenção militar de Moscou, foi aprovada por 32 votos a 2, com 13 abstenções. Somente Rússia e Eritreia votaram contra. O Brasil apoiou a resolução, e a China foi um dos países que se abstiveram.

O resultado serve como evidência da ampliação do isolamento internacional da Rússia. As decisões do Conselho não têm efeito jurídico vinculativo, mas enviam mensagens políticas importantes e podem resultar na abertura de inquéritos.

Deutsche Welle

A guerra das ideologias e a ideologia da guerra




Putin diz que invadiu a Ucrânia para a “desnazificar”. Os ucranianos comparam Putin a Hitler. Não será certamente ideológica a razão da guerra. 

Por Jaime Nogueira Pinto (foto)

Putin, profusamente caricaturado como Hitler, usa como principal justificação ideológica para as suas “operações militares” na Ucrânia a “desmilitarização” e “desnazificação” do país, enquanto o seu ministro da Defesa convoca para Agosto “o primeiro congresso antifascista do mundo”, a realizar em Moscovo, para “unir os esforços da comunidade internacional na luta contra a ideologia do nazismo”. Por cá, o Partido Comunista Português, que endossa as raízes do conflito para o imperialismo americano, condena o líder russo, não pelas suas “desnazificantes operações militares” em Estado alheio, mas pelo facto de o actual inquilino do Kremlin criticar o “grande Lenine”, acusando-o de ter inventado a moderna Ucrânia independente.

Reductio ad Hitlerum

É sintomático que o nacionalista autoritário Putin, ao procurar uma narrativa legitimadora para uma guerra decorrente de razões securitárias, de Realpolitik, não resista ao Reductio ad Hitlerum ou Reduction ad Nazium dos dirigentes ucranianos.

Quem cunhou a expressão em 1951 foi Leo Strauss, um original pensador conservador nascido na Alemanha, judeu emigrado e naturalizado americano por causa de Hitler. Para Strauss, havia que evitar a falácia de substituir o reductio ad absurdum por um então cada vez mais frequente reductio ad hitlerum, que remetia uma opinião, qualquer que fosse, para o inapelável reino do inadmissível e do indiscutível pelo simples facto de ter sido partilhada por Hitler. Strauss sabia bem de quem falava e do que falava; hoje, mesmo para quem não sabe de quem fala ou do que fala, os “maus” de qualquer fita são, por inerência, “hitlerianos” – até para poderem corresponder à encarnação do mal absoluto que o maniqueísmo das guerras exige. Só sendo hitlerianos, nazis ou fascistas, podem isentar-se da raça humana e passar a ser Unmensch (como outrora os judeus para Hitler), logo, legitimamente elimináveis. Talvez por isso, no actual conflito, os contendores de um e de outro lado se acusem mutuamente de nazismo, fascismo e hitlerismo.

Assim, Putin que, como “o mau” desta fita tem vindo a ser insistentemente comparado com Hitler, devolve a acusação às milícias ucranianas mais radicais, como o chamado Batalhão Azov, símbolo supremo da nazificação de uma Ucrânia que urge “desnazificar”. De facto, e como que corroborando a tese de Putin, Cora Engelbrecht, em “Far-right militias in Europe plan to confront Russian forces” (New York Times 25-02-20202), cita o site Intelligence Group para noticiar que o Batalhão Azov convidou voluntários estrangeiros para se juntarem às forças ucranianas no combate aos invasores russos, e que líderes dessas milícias de extrema-direita, em França e na Finlândia, fizeram apelos à mobilização dos seus simpatizantes.

Entretanto, os principais partidos europeus da direita nacionalista, como o Rassemblement Nacional, de Marine Le Pen, e o Vox de Santiago Abascal, mostram-se críticos de Putin, com Giorgia Meloni, dos Fratelli d’Italia, a solidarizar-se inequivocamente com o Ocidente e a Ucrânia na conferência conservadora de Miami. E o mesmo fizeram quase todos os conservadores “iliberais”, encabeçados pela “iliberal” Polónia, de portas e braços abertos aos refugiados.

Talvez por isso o presidente Zelensky, no seu apelo internacionalista a voluntários para defender a Ucrânia, evite linhas vermelhas ideológicas. Ao contrário, os organizadores da manifestação pró-Ucrânia em Lisboa convidaram o Partido Comunista Português, que votou contra a Ucrânia no Parlamento Europeu, e o Bloco de Esquerda, que se absteve, e não convidaram o CHEGA, que apoiou Kiev. Ou seja, como estava decidido que era Putin o nazi-fascista, convocavam-se os anti-fascistas do costume.

Ideologia e realidade

Todo este delirante folclore ideológico vem lembrar-nos, não só que todas as guerras precisam de bons e de maus – e de maus que sejam a própria encarnação do mal –, mas também que o centro do conflito aqui não é ideológico mas nacional e geopolítico. A Rússia sentiu-se ameaçada por uma Ucrânia que podia servir de base a um ataque “ocidental” ao seu Heartland; e a Ucrânia, incomodada pelos russos e russófilos do Donbass, que não tem tratado exemplarmente, pagou as custas do “medo” russo. E para melhor justificar a ajuda das democracias euroamericanas, proclamou a sua luta pela independência como uma luta “pela liberdade e pela democracia”. A leste, e para confundir mais ainda os alinhamentos ideológicos, os governos “iliberais” que, no passado, sofreram às mãos da Rússia e a têm por perto, juntaram-se à cruzada das democracias liberais euroamericanas, que os têm ostracizado na batalha das ideias.

É curioso como, apesar das profecias dos Fukuyama e Hariri, a nação, as fronteiras, as identidades continuam a ser a razão primeira e principal das lealdades e dos conflitos, mais do que as indispensáveis narrativas de cobertura que, de ambos os lados, distinguem os partidários do bem dos partidários do mal, como quem distingue os iluminados dos bárbaros, os fiéis dos infiéis os humanos dos sub-humanos. Talvez para os globalistas mais eufóricos identidades e fronteiras sejam águas passadas, mas a verdade é que, se a natureza humana não muda muito, a natureza dos Estados e dos povos também é capaz de não ser muito diferente. Assim, não será tanto porque evoluímos e nos tornámos mais pacíficos, racionais, tolerantes e inclusivos que hoje deixámos de recorrer mais à guerra, mas porque, muito prosaicamente, não queremos que NOS caia em cima uma super-Hiroxima. Da mesma maneira, ninguém no “Ocidente” parece importar-se muito com os povos da Ásia, da África e do Médio Oriente, vítimas de guerras e invasões de europeus, russos e americanos – talvez por estarem longe e não fazerem parte da “civilização liberal e democrática”.

As narrativas ideológicas invocadas por Putin, como a “desnazificação” e a “desmilitarização”, a par da memória do Império soviético cristalizada em certas esquerdas, tinham tudo para fazer do Presidente russo um antifascista e um pacifista de primeira ordem. Mas não. No entanto, quererá isso dizer que a sua conduta é inexplicável ou puramente maléfica? Ou que os defensores da Rússia são partidários do mal absoluto e todos os outros arautos do bem?

Ainda que as “sociedades de informação” se tenham transformado em palcos de histeria colectiva, onde quaisquer argumentos que saiam da bipolarização maniqueísta incomodam, quando não indignam, “o público”, há aqui uma distinção que não pode deixar de fazer-se: explicar as raízes de uma conduta não é defendê-la.

Explicar não é defender

George Kennan, quando escreveu o “Longo Telegrama” para explicar a Rússia e a URSS e os comunistas soviéticos e Estaline ao State Department e depois aos americanos e ao mundo, não estava a ser “russófilo” nem a defender ou justificar Estaline, a Rússia e o Comunismo. Estava a explicá-los. E, graças a ele, a Contenção funcionou. Kennan, que era inteligente, independente e prudente, anteviu, a partir da História, as possíveis consequências trágicas dos entusiasmos clintonianos e neoconservadores. Consequências que desabam agora sobre a Ucrânia.

Os actuais dirigentes do Ocidente, com raras excepções, são políticos profissionais alheios à História. Pior, acham que a História começou quando chegou a televisão e a democracia liberal. Para trás, ficaram tempos de barbárie, de opressão, de guerra, longe da Idade de Ouro que as novas máquinas e até a possibilidade científica de o homem vencer a própria morte vieram inaugurar. A história das “profecias” não cumpridas, como a de Augusto Comte, que previu que a Indústria ia acabar com a Guerra, não os comove especialmente.

A Paz ou a convivência pacífica são bens frágeis e trabalhosos que só se constroem a partir da verdade e da realidade, por mais duras e menos lisonjeiras que sejam. Por isso, se quisermos entender a História numa perspetiva de racionalidade e realismo, temos de partir do princípio de que a auto-preservação é uma regra poderosa, não só dos seres vivos, mas também dos povos, e dos povos que atingiram a comunidade política, o Estado.

A Rússia passou no último século e meio por um processo de ascensão e queda complicado e traumatizante: a derrota na guerra da Crimeia, em que se sentiu atraiçoada pelas nações cristãs, França e Grã-Bretanha, que se aliaram aos turcos contra ela; um processo revolucionário longo seguido do assassínio pela esquerda radical dos reformadores, Alexandre II e Stolipin; uma revolução e uma guerra civil sangrentas. A construção da utopia comunista transformou-a num vasto campo de concentração e num matadouro dos seus próprios filhos. A Ucrânia, então República Socialista, foi das mais barbaramente tratadas pelos Planos Económicos da Central Comunista, que lhe confiscaram as reservas alimentares para exportar e financiar a Industrialização. Foi o Holodomor.

A invasão hitleriana foi mais uma punição para a Rússia. No final, com a conquista e ocupação da Europa Oriental, veio o Império Soviético – que ampliou o seu domínio, capitalizando e explorando a ideologia comunista e esmagando impiedosamente os rebeldes (como os húngaros, em 1956). Se era o comunismo que servia a Rússia ou se era a Rússia que servia o comunismo é uma longa discussão.

De qualquer foram, a Rússia perdeu a Guerra Fria, que só foi fria por causa das armas atómicas dos dois protagonistas – Ocidente/Estados Unidos, Leste/URSS –, o Império desfez-se e seguiram-se 10 anos de profunda humilhação, nos tempos de Yeltsin. Humilhação objectiva ou subjectiva, pouco importa, importa que os russos a sentiram.

Putin, um quadro médio do Império que viu esse Império desfazer-se (e não deve ter gostado) tornou-se há vinte anos o líder supremo da Nova Rússia: melhorou a economia, investiu na renovação das Forças Armadas, e geriu com eficácia os trunfos que tinha – oil and gas e armamento. Usou a força militar na Geórgia, na Síria e na Crimeia cirurgicamente, e teve sucesso. Internamente, fez uma aliança com a Igreja Ortodoxa e, nessa linha da ortodoxia, inscreveu o nome de Deus na Constituição na reforma de 2020 e prosseguiu políticas conservadoras em relação às “causas fracturantes”, em flagrante contraste com as políticas da actual Administração americana. A Rússia é um Estado autoritário cujo Presidente concentrou em si o poder sobre o partido dominante, a Administração Pública, as Forças Armadas, a Comunicação Social. E Putin deixou bem claro aos oligarcas que podem enriquecer e gozar da riqueza mas que não podem defender ou patrocinar políticas alternativas às do Estado.

Dois Impérios

Olhando para Rússia, podemos dizer que estamos perante um “Império infeliz” e detectar nessa “infelicidade” razões, motivos ou raízes para uma percepção de injustiça e ressentimento perante a História e alguma vontade de rectificação. Bem ao contrário, os Estados Unidos foram, desde há mais de um século, um “Império feliz”; uma República imperial, como Roma, um Império invisível mas dominante, com vicissitudes, com altos e baixos, com formas de domínio de soft power, mas com múltiplas intervenções militares quando foi preciso e até quando não foi.

Depois da guerra com a Espanha, em 1898, os EUA anexaram Cuba, Porto Rico, as Filipinas, parte das Caraíbas e o Canal do Panamá. Através do “Império invisível” de Hollywood e da Banca mundial, foram hegemónicos, usando a guerra quando necessário, umas vezes bem, outras vezes mal – Coreia, Vietname, Iraque, Afeganistão. Estão agora a preparar-se para enfrentar a China, um poder ascendente, não-democrático, não euroamericano, não-cristão, oficialmente comunista mas, na prática, capitalista de direcção central. No entanto, por várias razões, os EUA estão agora internamente divididos ideologicamente. Entre os promotores da Agenda Woke e similares e os Evangélicos e os partidários do law and order, as tensões são grandes e inconciliáveis.

Nesse sentido, o conflito com a Rússia não podia vir em pior altura: Biden, apesar do silêncio complacente dos media, tem vindo a descer em popularidade, e a pandemia, que, a crer nos mesmos media, teria subitamente acabado com a saída de Donald Trump, continua a fazer estragos. A Administração americana, refém da minoria ideológica radical do Partido Democrático – aparentemente mais preocupada, no sector militar, com a discriminação dos transgender na tropa, do que com o resto –, ainda que tenha muitos académicos e alguns políticos transitados da Administração Obama, não parece especialmente focada no confronto geopolítico.

Perante esta América e o seu “imperialismo feliz” e uma Europa também em progressiva divisão ideológica e radicalização interna, uma Europa no pós-pandemia e a pagar o preço da conversão energética para “salvar o planeta”, a Rússia parece politicamente unida ou, pelo menos, unida a nível institucional.

Frente a frente

Aparentemente, Putin preparou-se para resistir às previsíveis sanções económicas ocidentais e tem o claro apoio da República Popular da China, que segue oficialmente a situação com comunicados confucianos.

Segundo o “South Asia Index”, a Rússia convidou já a República Popular da China para o grande congresso de Agosto, destinado “a combater o fascismo” – além da Índia, da Arábia Saudita, dos Emiratos Árabes, do Paquistão, do Azerbaijão, do Usbequistão e da Etiópia …

De fora do congresso anti-fascista de Putin ficará seguramente o Irão, podendo eventualmente vir a alinhar com a frente ocidental pró liberdade e democracia de Biden – ou assim nos garantiu o Presidente norte-americano no seu discurso do Estado da União do passado dia 1 de Março: “Putin may circle Kyiv with tanks, but he’ll never gain the hearts and souls of the Iranian people.” (sic)

Vivemos tempos incertos e perigosos.

É bom deixar claro que a invasão da Ucrânia pela Rússia é uma agressão condenável, acima de tudo pelo sofrimento causado a milhões de civis, apanhados no meio do conflito. Desencadear uma guerra ao abrigo implícito da chantagem pelo nuclear abre um precedente que pode ter consequências catastróficas.

Tudo indica que a Rússia tentará, nos próximos dias, obter uma vantagem no terreno, nomeadamente a sul, fechando o acesso da Ucrânia ao Mar Negro e mantendo Kiev e Khirkiv sob pressão. Isto vai traduzir-se em mais mortes, mais refugiados, mais destruições urbanas. O Presidente russo sabe também que o tempo correrá, a partir daí, contra ele, com possíveis brechas na sua frente interna – não só a nível popular como da hierarquia partidária e militar.

Zelensky vai tentar, neste período, uma escalada-envolvimento que acabe por comprometer política e militarmente a NATO, mesmo com os riscos de uma guerra nuclear – riscos que, na Europa e nos Estados Unidos, ninguém, governantes ou povo, quer correr.

Observador (PT)

Guerra na Ucrânia: cessar-fogo fracassa, e Rússia segue atacando cidades do país; veja tudo sobre o 10º dia




Guerra tem cessar fogo de cinco horas para retirada de civis de duas cidades

O cessar-fogo anunciado para sábado (5/3), 10º dia da guerra na Ucrânia, fracassou, com ambos os lados se acusando de violar o acordo, enquanto os bombardeios russos continuam em cidades do país.

O Ministério da Defesa da Rússia havia anunciado uma interrupção dos ataques por cinco horas e a abertura de corredores humanitários para a fuga de civis de duas cidades no sudeste da Ucrânia, Mariupol e Volnovakha, a partir das 10h no horário local (4h no horário de Brasília).

No entanto, a Rússia acusou "nacionalistas" ucranianos de quebrar o cessar-fogo. Já o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia culpou a Rússia, acusando o país de seguir com a ofensiva em uma "violação grosseira dos acordos sobre a abertura de corredores humanitários".

"O bombardeio em curso torna impossível a abertura de corredores humanitários para a evacuação segura de civis, a entrega de medicamentos [e] alimentos", tuitou o Ministério das Relações Exteriores.

Apenas 400 pessoas deixaram Volnovakha e assentamentos próximos durante o curto cessar-fogo, segundo autoridades ucranianas. O plano inicial era evacuar mais de 15 mil civis da cidade.

Volnovakha tem apenas 25 mil pessoas e fica localizada no meio do caminho entre Mariupol e Donetsk.

Os moradores de lá disseram ao Guardian que quase todos os prédios foram destruídos ou danificados pelas forças russas.

O deputado local Dmytro Lubinets disse que a luta foi tão intensa que os corpos não foram recolhidos.

O governador regional Pavlo Kyrylenko disse que, "embora tivéssemos a intenção e o transporte necessário para levar muito mais pessoas, tivemos que parar o movimento da coluna porque os russos mais uma vez começaram a bombardear Volnovakha sem piedade, e era muito perigoso se locomover por lá".

A outra evacuação prevista para ocorrer na cidade de Mariupol também foi suspensa.

O vice-prefeito de Mariupol disse que decidiu retirar as pessoas das ruas e interromper a evacuação da cidade, pois a cidade não está segura.

Serhiy Orlov afirmou à BBC que o cessar-fogo "não durou nem 30 minutos" e que há bombardeios contínuos em Mariupol e ao longo da rota de evacuação acordada, perto da cidade de Orikhiv.

"Não é seguro passar por essa estrada por causa desses conflitos", diz ele.

Orlov acusou as forças russas de "genocídio" e disse que estava "com medo" de pensar no que aconteceria com os moradores agora, já que a cidade não tinha água, aquecimento ou saneamento.

O prefeito de Mariupol disse que as forças russas intensificaram os bombardeios na cidade ucraniana desde então.

Vadym Boychenko afirmou que a cidade portuária está em "um estado de sítio muito, muito difícil".

"O bombardeio implacável de quarteirões residenciais está em andamento, os aviões estão lançando bombas em áreas residenciais", disse ele à agência de notícias AP.

Ele acrescentou que os moradores, incluindo mulheres e crianças, foram atacados enquanto tentavam deixar a cidade.

A cidade portuária vem testemunhando intensos bombardeios há dias, enquanto as tropas russas tentam cortar a Ucrânia dessa ligação marítima estrategicamente importante.

Veja a seguir os principais acontecimentos mais recentes da guerra.

Batalhas continuam em outras cidades da Ucrânia

Fortes bombardeios foram relatados em Irpin - uma cidade nos arredores do noroeste de Kiev.

Um grande número de civis está fugindo por uma travessia improvisada que atravessa um rio, porque a ponte original foi destruída

'Civis estão fugindo por uma travessia improvisada'

Pesados bombardeios atingiram Kharkiv e Sumy, no leste, durante a noite

Os combates pesados a noroeste da capital Kiev, em torno do principal aeroporto Hostomel, continuaram no sábado

As forças russas persistem nas tentativas de cercar Kiev, que, junto com Kharkiv, permanece sob controle ucraniano, apesar do pesado bombardeio

As cenas em Markhalivka após ataques aéreos

Pelo menos seis pessoas - incluindo uma criança - foram mortas em um ataque aéreo russo em uma vila rural na região de Kiev, na sexta-feira , segundo autoridades ucranianas.

Escrevendo no Facebook ontem, a polícia disse que mais dois adultos e mais duas crianças também foram hospitalizados no bombardeio na vila de Markhalivka, a cerca de 10 km dos arredores da capital Kiev.

Essas fotos mostram a devastação no local hoje, quando os moradores começaram a limpar os escombros.

'Quem impor zona de exclusão aérea estará participando do conflito', alerta Putin

O presidente russo, Vladimir Putin, descreveu as sanções impostas por nações ocidentais por sua invasão da Ucrânia como "semelhantes a uma declaração de guerra"."Mas graças a Deus não chegou a isso", acrescentou.Putin também alertou que qualquer tentativa de impor uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia seria vista como participação no conflito armado.

Uma zona de exclusão aérea refere-se a qualquer região do espaço aéreo onde foi estabelecido que certas aeronaves não podem voar.

Em um contexto militar, é decretada para impedir que aeronaves entrem no espaço aéreo proibido, geralmente para evitar ataques ou vigilância de uma região.

A zona de exclusão aérea precisa ser controlada por meios militares. Isso pode significar vigilância, ataques preventivos contra sistemas defensivos ou até mesmo derrubando aeronaves que entram na área restrita.

Uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia significaria que as forças militares — especificamente as forças da aliança militar Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — se envolveriam diretamente com qualquer avião russo avistado nos céus e o atacariam, caso fosse necessário.

Putin disse ainda que não tem planos de declarar lei marcial na Rússia.

Em um encontro com comissários de bordo da empresa aérea russa Aeroflot, que foi alvo de sanções, exibido em rede nacional, o presidente russo disse que a medida só seria tomada em "casos de agressão externa, em áreas definidas de atividade militar".

"Mas não temos essa situação e espero que não tenhamos uma", disse ele.

Houve rumores de que Putin planejava declarar a lei marcial - que é quando a lei civil normal é suspensa ou os militares assumem o controle das funções do governo.

Ele disse que existem outros estados de emergência especiais que podem ser usados no caso de uma "ameaça externa de grande escala" - mas que ele também não tem planos de introduzi-los.

'Otan dá luz verde a mais bombardeios russos', disse presidente ucraniano

O presidente da Ucrânia condenou os líderes dos países da Otan por descartar repetidamente a decretação do fechamento do espaço aéreo do país em meio à invasão da Rússia.

Volodymyr Zelensky fez um discurso na televisão e disse que a comunidade internacional sabia que a agressão russa contra o país provavelmente aumentaria. Ele comparou a recusa da Otan de fechar o espaço aéreo do país com uma "licença a Vladimir Putin para continuar bombardeando cidades".

"Sabendo que novos ataques e baixas são inevitáveis, a Otan decidiu deliberadamente não fechar o céu sobre a Ucrânia", disse ele em um discurso em Kiev. "Hoje a liderança da aliança deu luz verde para mais bombardeios de cidades e vilas ucranianas, recusando-se a fazer uma zona de exclusão aérea."

Mais cedo ainda na sexta-feira, em Bruxelas, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, descreveu a situação na Ucrânia como "horrível", mas disse que as forças aliadas não entrariam na Ucrânia por terra ou ar.

Os países da entidade argumentaram que uma zona de exclusão aérea obrigaria as aeronaves da Otan a disparar contra caças russos, potencialmente provocando uma Terceira Guerra Mundial.

Número de refugiados vai passar 1,5 milhão em breve, diz ONU

O número de refugiados que fogem da guerra na Ucrânia deve ultrapassar em breve 1,5 milhão de pessoas, segundo a agência da ONU para refugiados (Acnur).

"Esta é a crise de refugiados mais acelerada que vimos na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial", disse o chefe do Acnur à agência de notícias Reuters.

Cerca de 1,3 milhão de pessoas já fugiram de suas casas desde o início da invasão.

A Polônia teria recebido mais da metade de todos os refugiados até agora, de acordo com o presidente do país.

'Muitas pessoas foram para a principal estação de trem em Kiev para deixar a cidade'

'Número de refugiados cresce rapidamente, diz ONU'

O número também é alto em países como Hungria e Romênia.

Mas nem todos os refugiados estão optando por permanecer nos países em que chegam pela primeira vez.

Na Romênia, por exemplo, das 200 mil pessoas que viajaram para lá nos primeiros oito dias da guerra, 140 mil foram para outros países, deixando cerca de 60 mil na Romênia, segundo o Acnur.

Os países que fazem fronteira com a Ucrânia estão, portanto, atuando como a primeira parada para muitas pessoas que fogem da guerra, enquanto viajam para outros países europeus mais distantes.

Protestos contra a guerra pelo mundo

Milhares de pessoas se reuniram em cidades ao redor do mundo para protestar contra a invasão da Ucrânia pela Rússia.

'Manifestantes saíram às ruas de Bangkok, na Tailândia'

'Em Londres, manifestantes se reuniram na Trafalgar Square'

'Manifestações também estão sendo realizadas em Zagreb, na Croácia'

'Milhares se reuniram em Zurique, na Suíça, para demonstrar solidariedade aos ucranianos'

Mais empresas se retiram da Rússia

As empresas de pagamentos Mastercard e Visa anunciaram que estão suspendendo suas operações na Rússia em protesto contra a invasão da Ucrânia.

Em comunicado, a Mastercard disse que os bancos russos não seriam mais suportados por sua rede e qualquer cartão emitido pela empresa fora do país não funcionaria em comerciantes ou caixas eletrônicos russos.

A empresa disse que ouviu parceiros e tomou sua decisão devido à "natureza sem precedentes do conflito atual e ao ambiente econômico incerto".

Enquanto isso, a Visa disse que trabalharia para encerrar todas as transações no país nos próximos dias, acrescentando que os cartões Visa emitidos por instituições financeiras fora da Rússia também deixariam de funcionar no território do país.

A Zara anunciou que fechará todas as suas 502 lojas na Rússia a partir de domingo (6/3). Sua holding, a Inditex, disse que fará o mesmo com sete outras marcas suas.

A marca de luxo Prada também fechará suas lojas.

A Samsung - o principal vendedor de smartphones na Rússia - suspenderá as remessas para o país "devido aos atuais desenvolvimentos geopolíticos". Não está claro se as lojas da Samsung fecharão.

E a empresa de pagamentos online Paypal também encerrou os serviços na Rússia, condenando a "violenta agressão militar" do país.

Russos assumem controle de maior usina nuclear da Europa

'Ucrânia tem quatro usinas nucleares ativas, incluindo Zaporizhzhia'

Na sexta (4/3), as forças russas atacaram e tomaram o controle da maior usina nuclear da Europa, a usina de Zaporizhzhia, no sudeste da Ucrânia.

O ataque deixou diversos mortos e feridos, gerou incialmente temores de uma catástrofe nuclear e foi profundamente condenado por outras potências internacionais.

Um prédio próximo a um dos seis reatores da usina nuclear foi atingido pela artilharia russa, causando um incêndio que depois foi controlado.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que monitora ameaças nucleares, disse que nenhum dos sistemas de segurança do reator foi atingido e que não houve liberação de material radioativo.

Após a tomada de controle pela Rússia, funcionários da usina foram autorizados pelos invasores a permanecer na unidade e a continuar trabalhando. Eles estão monitorando a planta para garantir que ela esteja operando com segurança e que os níveis de radiação estejam normais.

Esta é a segunda usina nuclear ucraniana a cair nas mãos das tropas russas. Eles também assumiram o controle de Chernobyl — o local do pior desastre nuclear do mundo em 1986 — na semana passada.

Imagens de câmera de segurança mostraram um feixe de luz caindo nos arredores da usina e tiros sendo disparados, além de um edifício de treinamento em chamas.

O presidente da Ucrânia acusou a Rússia de apelar para o "terror nuclear". "Europeus, por favor, acordem!", ele disse. "Digam aos seus políticos que as forças russas estão atirando na usina nuclear na Ucrânia."

Líderes mundiais estão acusando a Rússia de colocar em risco a segurança de um continente inteiro depois que suas forças atacaram a usina nuclear de Zaporizhzhia.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que o ataque "imprudente" da Rússia pode "ameaçar diretamente a segurança de toda a Europa". O presidente dos EUA, Joe Biden, exortou Moscou a interromper suas atividades militares no local, enquanto o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse que os "ataques horríveis" da Rússia "devem cessar imediatamente".Este episódio acontece em meio a alertas das principais autoridades ucranianas sobre um possível colapso nuclear devido a bombardeios russos.

Em linha com a reação do presidente ucraniano, o Ministério das Relações Exteriores do país afirmou que um desastre nuclear em Zaporizhzhia poderia ser pior do que acidentes anteriores em usinas nucleares — como em Chernobyl e Fukushima.

"A Rússia empreendeu conscientemente um ataque armado à usina nuclear, uma ação que violou todos os acordos internacionais dentro da AIEA", diz o comunicado da pasta.O fogo teria sido causado por "contínuo bombardeio inimigo dos edifícios e unidades [da usina]", de acordo com o prefeito Dmytro Orlov, da cidade vizinha Enerhodar.

A Ucrânia tem quatro usinas nucleares ativas, incluindo Zaporizhzhia, que contribui com cerca de um quarto do fornecimento de energia do país e é a maior usina nuclear da Europa.

BBC Brasil

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