Carlos Chagas
Vamos supor, só para especular, que Dilma Rousseff vença as eleições de outubro. Será tudo festa, entre os companheiros, a maior parte do empresariado, metade da classe média e, em especial, a totalidade dos assistidos pelos planos de auxílio social. O então ex-presidente Lula, mesmo se quisesse, não poderia afastar-se. Constituiria um pólo de aglutinação da massa e das elites, sempre prontas, ambas, a apelar para ele quando inevitáveis crises assaltassem o governo da sucessora. Não adianta imaginar Dilma Rousseff tomada de pruridos de independência, porque mesmo quando verificados, seriam logo superados pela natureza das coisas. Ainda que não pretendesse, o Lula seria mais do que condômino, pois controlador do poder.
No reverso da medalha, caso José Serra se torne presidente da República, a mesma equação se desenvolveria em torno de Luiz Inácio da Silva. Para ele se voltariam os reclamos diante das inevitáveis dificuldades enfrentadas pelo novo governo, assim como as esperanças de que pudessem repetir-se os tempos sob seu comando, tanto faz se versão ilusória ou realidade.
Em suma, qualquer que venha a ser o resultado das eleições de outubro, o Lula permanecerá no centro das expectativas nacionais. É por essas e outras que, de maneira sutil, começa a germinar nos centros decisórios do país um perigoso raciocínio: por que não planejar a permanência do presidente por tempo senão indefinido, ao menos prolongado?
Pode parecer brincadeira, perdeu-se o tempo e a oportunidade dessa alternativa truculenta, mas é ela que ressurge quando faltam poucos meses para as eleições. Os governistas, diante da hipótese da derrota de Dilma. Os oposicionistas, cientes de que a eleição de Serra os tornará dependentes da liderança do Lula. Trata-se da sombra do passado encobrindo as perspectivas do futuro. Um horror, é evidente, um óbvio retrocesso, sem dúvidas, mas um perigo que ressurge.
Nada muda no Congresso
Foram-se os tempos em que o PT imaginou poder tornar-se o maior partido nacional, em número de deputados e senadores. As eleições de 2002 deram aos companheiros essa ilusão, mas 2006 os fez cair na realidade e, este ano, virá a comprovação: o PMDB permanecerá com o controle da Câmara e do Senado.
Sendo assim, tanto faz para o maior partido nacional o resultado das eleições presidenciais de outubro. Nem Dilma Rousseff nem José Serra conseguirão governar sem ele. É evidente que pela falta de um programa de governo, de uma ideologia ou de uma doutrina capazes de definir os rumos da nação, o PMDB mais parece um corpo insosso, amorfo e inodoro que ocupa os espaços institucionais do país. Depois de ser o ariete responsável pela volta à democracia, transformou-se num conglomerado de interesses menores, até conflitantes, empenhados apenas em usufruir das benesses do poder. É pena, mas nada vai mudar em termos parlamentares, ou seja, o atraso continuará até que algum outro valor apareça e substitua a esperança fracassada um dia expressa pelo PT.
Fonte: Tribuna da Imprensa