Parece maldição da República. Começou sem efetivo e sem vice, um marechal nomeado “chefe do Governo Provisório”, o que se repetiu em 1930, quando o que se prometia era uma “revolução-revolucionária”, que não aconteceu.
(Em 1964, Castelo Branco enganou Juscelino, se reuniu com ele, garantiu mentirosamente, como era do seu estilo, hábito e costume: “Presidente, se eu assumir como PROVISÓRIO, não posso garantir a eleição de 1965, e o senhor, desde já, é o grande favorito”).
JK foi ingênuo, mas na verdade, o que o poderia fazer? Quando pediu aos seus amigos do PSD e PTB para votarem no general golpista, surpresa total. Mas depois compreenderam que não havia o que fazer, como duvidar da palavra de um general-marechal, que dizia, “só quero manter a estabilidade do país”.
Para garantir a própria palavra, (perdão, falta de palavra) Castelo ali mesmo, (junto de JK, Amaral Peixoto, Negrão de Lima) convidou José Maria Alckmin para vice-presidente. Mas logo meses depois cassava e mandava prender Juscelino, numa das traições mais vergonhosas da História de República.
Logo na IMPLANTAÇÃO (e não PROMULGAÇÃO, como insistem alguns) a República começou golpeada. Nos EUA, a República, depois da Constituinte de 1787/1788, elegeu o presidente pelo voto direto. Aqui só fomos eleger o presidente e o vice, 1 ano, 3 meses e 8 dias depois da República, e assim mesmo pelo voto indireto, que é a negação do povo.
Depois de derrubar Deodoro, o vice Floriano ficou 3 anos no cargo, violentando a Constituição. A de 1891 determinava: “Vagando o cargo de presidente até a METADE DO MANDATO, o vice assume e promove eleição direta dentro de 60 dias”. Floriano assumiu, ficou 3 anos e zombou de todos. (Ironizando, gozando e obrigando Rui Barbosa a se exilar).
Depois se firmou o hábito de indicar um presidente, (sem concorrentes) de um estado GRANDE e o vice de um estado PEQUENO. (O primeiro vice foi da Bahia, o que pode se repetir agora).
Logo depois assumiu o presidente de Minas com o vice do Estado do Rio, Nilo Peçanha. O que modificou a História da República. Grande inimigo de Rui Barbosa, o vice empossado fez tudo para derrubar o grande brasileiro.
Os vices continuaram assumindo, quase num número igual aos efetivos. Até chegarmos a Sarney, que assumiu o mandato inteiro de Tancredo. E agora, 25 anos DEPOIS DA SORTE HISTÓRICA, quase aos 80 anos, Sarney queria novamente o cargo, seria o BIVICE da República. Felizmente não conseguiu.
Depois do mandato inteiro ocupado por Sarney, veio Collor, o primeiro presidente eleito pelo voto direto depois do golpe de 1964. Que não exerceria nem a metade do mandato. Seguindo o substituto de Collor, surgiu a reeeleição, comprada por FHC a 500 mil por cabeça.
Agora temos uma eleição tão tumultuada quanto tantas outras, e a controvérsia e a contradição dos dois lados: vice aleatórios, sem representar coisa alguma. Temer foi a primeira inutilidade, que segundo se diz há muitos anos, “está a uma batida de coração da Presidência”. Mesmo diante dessa realidade, consagram essa inutilidade.
E do outro lado, Serra não consegue indicar ninguém. Obcecado pela indicação de Aécio, o ex-governador de São Paulo não percebeu que o ex-governador de Minas não aceitaria ser vice de UM CANDIDATO QUE NÃO VAI GANHAR.
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PS – Desligado de Aécio e “honrando” o compromisso com o DEM, (que iria ser representado por Arruda), Serra praticamente se fixou no deputado José Carlos Aleluia. Da Bahia, do DEM e corretíssimo, foi muito bem recebido.
PS2 – Mas surgiu o corporativismo para favorecer Sergio Guerra, Já tendo anunciado que não tentaria a reeleição ao Senado por falta de votos, se contentando com um lugar de deputado, veio a grande surpresa.
PS3 – O próprio presidente do PSDB, que anunciou, “não tenho votos para me reeleger”, foi apresentado como CANDIDATO A VICE DE SERRA. Torpedeava todos os acordos e mostrava publicamente a vocação suicida da candidatura Serra.
PS4 – Ainda não está torpedeado o candidato da Bahia nem convalidado o nome de Pernambuco. Mas só a dúvida, demonstra toda a incerteza e indecisão do PSDB.
PS5 – Só para mostrar a indisposição dos presidentes em relação aos vices, um exemplo dos EUA. Ronald Reagan sofreu um atentado gravíssimo, teve que ser operado.
PS6 – Quando os médicos se preparavam, chegou o procurador-geral da República: “Presidente, como o senhor tem que tomar anestesia geral, precisa passar o cargo ao vice”. (Bush pai, que estava presente).
PS7 – Reagan perguntou aos médicos: “Posso ser operado sem anestesia geral?”. Depois de 20 minutos, os médicos garantiram, “pode”. Reagan foi operado. É a maldição dos vices.