Publicado em 23 de dezembro de 2024 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
Desde a época em que foi interventor federal na segurança do Rio de Janeiro, em 2018, o general Braga Netto é considerado incompetente e destrambelhado. Não conseguiu enfrentar o crime e agiu com impressionante falta de visão. Quando a intervenção estava para terminar, abrimos aqui na Tribuna da Internet uma forte campanha contra ele, porque tencionava devolver à União vultosa parte da verba que recebera.
Na undécima hora, por sugestão da Tribuna da Internet, o general decidiu comprar coletes e outros equipamentos para os policiais militares. Resultado: a 12 de setembro de 2018, a Polícia Federal realizou uma ação para investigar possível fraude na venda sem licitação dos coletes e de outros bens pela CTU Security LCC, em negociação que fora anulada, porque o governo americano avisou ao Brasil que a empresa estava envolvida no assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moïse.
PRIMO DE VILLAS BÔAS – De início, pensava-se que Braga Netto fosse um destaque no Exército. Mas na verdade era protegido por ser primo do então comandante Eduardo Villas Bôas, que o indicou para ser interventor e depois para compor o governo Jair Bolsonaro.
Quase dois anos depois, já no governo Bolsonaro, o Tribunal de Contas da União (TCU) denunciou irregularidades no uso de 93 milhões de reais para a compra de blindados Lince K2, inadequados para operar nas estreitas ruas das comunidades do Rio, além de gastos com reformas em instalações do Exército e até compras de camarão e bacalhau, ao preço de 212 mil reais.
A conclusão dos auditores do TCU foi de que os desvios de finalidade apontados em seu relatório final feriam a Constituição e configuravam “graves ilegalidades”.
CRÍTICA EQUIVOCADA – Por tudo isso, é um equívoco criticar a Tribuna da Imprensa, dizendo que estamos defendendo Braga Netto, Jair Bolsonaro e outros envolvidos no golpe que não houve.
Aqui defendemos a tese de que todos devem ser investigados, julgados e condenados, mas dentro da lei.
O general Braga Netto é um mau militar e um péssimo civil. Mesmo assim, as leis que o protegem (e que protegem a todos nós, como ensinava Ruy Barbosa) devem ser respeitadas. No entanto, nesta decisão assinada por Alexandre de Moraes não foi citada nenhuma lei que justificasse a prisão preventiva de Braga Netto. E isso é errado, não importa quem esteja sendo investigado.
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P.S. 1 – Para justificar a prisão, Moraes disse que Braga Netto poderia obstruir a investigação, uma tremenda contrafação, porque o inquérito fora oficialmente encerrado 23 dias antes da prisão dele. Ou seja, Braga Netto teria de voltar ao passado para interferir numa investigação já encerrada. E voltar ao passado só acontece em comédias de Hollywood…
P.S. 2 – Aqui na Tribuna, sob o signo da Liberdade, não defendemos A ou B; o que se defende aqui é a democracia, sem a qual não existe liberdade. (C.N.)