Pedro do Coutto
O ex-presidente Jair Bolsonaro, generais e assessores que tiveram cargos de destaque durante o seu governo optaram por ficar em silêncio durante depoimentos prestados na Polícia Federal nesta quinta-feira sobre a participação nas articulações de um golpe de Estado, que apesar da coordenação a partir de de janeiro, felizmente não se concretizou.
Eles respondem, na verdade, a uma tentativa frustrada de ação contra as instituições democráticas. A atitude apresenta características de um desafio e uma demonstração de desrespeito, pois afinal de contas se não tivessem participação da qual são apontados, estariam dispostos a rebates tais acusações.
EVASIVOS – Os investigadores da Polícia Federal, conforme relatado pela jornalista Bela Megale, O Globo, não ficaram satisfeitos com os interrogatórios dos investigados que decidiram falar no inquérito que apura a tentativa de um golpe de Estado. A avaliação dos agentes e delegados é que, aqueles que responderam às perguntas, mentiram, buscaram se justificar e não contribuíram em nada na investigação.
Nesta lista estão o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o ex-ministro Anderson Torres. O primeiro falou por cerca de três horas e o segundo, por cerca de cinco horas. Os depoimentos de ambos foram descritos como “evasivos” e “sem dados a acrescentar”. Outro ponto destacado é que este era um momento que poderia ter sido usado para os alvos se defenderem, mas eles “perderam a oportunidade”. Dos 23 intimados para o interrogatório desta quinta-feira, sete falaram.
SILÊNCIO – Além de Bolsonaro, ficaram em silêncio militares de alta patente, como os generais Paulo Sérgio Nogueira, Walter Braga Netto e Augusto Heleno. O silêncio no caso confirma a participação dos convocados pela PF na tentativa de golpe. Um desafio para as instituições legítimas do país.
Um lance foi jogado no tabuleiro político do país. Trata-se de uma questão bastante sensível, mas o silêncio somou ingredientes, pois afinal de contas quem não tinha participação apontada se defenderia normalmente pela negativa. O silêncio aponta a posição oposta. A materialidade ocorre da própria posição assumida pelos que são acusados de tramar um golpe de Estado.