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domingo, dezembro 17, 2023

Pra que serve o jornalismo?

 Bom dia, 

Quem lê tanta notícia? 


Giulia da Agência Pública aliados@apublica.org


Toda vez que ouço Caetano Veloso cantando essa frase em "Alegria, Alegria" me vem um sentimento ambíguo. Eu adoro a música e tudo que ela representa na história do nosso país e da MPB. 

Mas, como jornalista, dá uma certa dor no coração perceber que muitas vezes nossas reportagens não alcançam tanta gente – seja porque tocam em temas sensíveis e difíceis de encarar, seja porque elas são complicadas e às vezes longas, seja porque muita gente tá cansada ou não tem tempo de acompanhar tanta notícia mesmo. Se você já deixou de ler uma reportagem da Pública por esse motivo, a gente entende que não é pessoal, tá? É a vida. 

Em compensação, às vezes as reportagens da Pública são lidas pela pessoa certa na hora certa. Quando isso acontece, sentimos que nosso jornalismo cumpriu a sua função primordial de informar o leitor, e ainda foi além: serviu para cobrar o poder público. E aí a mágica acontece: é como se uma reportagem ganhasse super poderes para realmente mudar a realidade. 

Vou te dar um exemplo. Durante a COP28, Conferência do Clima da ONU que acabou essa semana em Dubai, o Brasil ganhou o nada honroso prêmio "Fóssil do Dia" por ter se juntado à Opep+ em meio à cúpula que tenta conter o aquecimento global. O prêmio, dado pela Climate Action Network, é tradicional nas COPs e usado para expor os países que mais estão atravancando as negociações em relação à crise climática. Para justificar a premiação, foi usada uma reportagem da Pública que explica que se o Brasil explorar todo o petróleo previsto na Margem Equatorial, as emissões de gases de efeito estufa provenientes de sua queima anulariam os ganhos obtidos com a redução do desmatamento da Amazônia.

Outro exemplo: duas respostas negativas a pedidos de Lei de Acesso à Informação (LAI) feitos pela Pública “venceram” o irônico Prêmio Cadeado de Chumbo 2023, dado a órgãos públicos que descumprem a LAI. Um deles foi o pedido feito pelo repórter Rafael Oliveira solicitando quais documentos sobre a EBC foram enviados ao governo Lula na transição da gestão anterior. Foi como "passa ou repassa": a EBC negou e repassou o pedido ao Ministério das Comunicações, que repassou o pedido à Secretaria de Comunicação, que mandou de volta para o Ministério. Recorremos à Controladoria Geral da União (CGU), que deu ganho de causa à Pública, mas já era tarde demais. 

O outro Cadeado de Ouro foi dado ao Ministério da Justiça e da Segurança Pública (MJSP) de Flávio Dino, que se recusou a nos dar uma lista com os temas dos relatórios de inteligência elaborados pela Secretaria de Operações Integradas (SEOPI) do MJSP durante o governo Bolsonaro. Nesse caso, também recorremos à CGU, que inicialmente nos deu uma decisão favorável, mas depois voltou atrás e mandou o MJSP não entregar nada para a Agência Pública. Inacreditável, né?

Aliás, uma curiosidade: mesmo com os pedidos de LAI negados, insistimos na investigação e a série de reportagens "Caixa Preta do Bolsonaro", do qual os dois pedidos de LAI faziam parte, foi apontada como uma das melhores reportagens investigativas do ano pela Global Investigative Journalism Network (GIJN)

Os dois "prêmios às avessas" de 2023 mostram que o jornalismo da Pública muitas vezes é usado para exigir que o poder público faça seu trabalho com transparência e coerência. Eles são motivo de vergonha para quem recebe, claro, mas são uma vitória para o jornalismo de interesse público. 

Em 2024, queremos fazer ainda mais reportagens que coloquem o poder público contra a parede. E a gente só consegue investigar sem medo e com liberdade graças às doações mensais de milhares de pessoas como você. Queremos seguir investigando, é pra isso que estamos aqui. Você pode vir junto com a gente nessa missão e se tornar nosso Aliado. Vamos? 

 
EU VOU! POR QUE NÃO?
Um abraço,

Giulia Afiune
Editora de Audiências da Agência Pública

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