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sexta-feira, setembro 02, 2022

O bloqueio de Lula




Não é pela alegação de suposta superioridade moral que se reage a ataques por corrupção, mas com propostas

Por Maria Cristina Fernandes (foto)

Ao longo de duas horas, 23.352 palavras foram pronunciadas no debate da Band. Por 18 vezes apareceu a palavra “fome”, ditas por Ciro Gomes (8), Jair Bolsonaro (5), Felipe d’Ávila (3), Simone Tebet (1) e Soraya Thronicke (1). Luiz Inácio Lula da Silva foi o único a não juntar as quatro letras.

O ex-presidente paralisou ante a exploração do tema da corrupção pelo presidente da República, o mais prolífico no termo, mencionado 39 vezes no debate: Bolsonaro (11), Simone (10), D’Avila (9) e Ciro (4). Lula e Soraya empataram com uma única menção.

A militância e seus próprios correligionários reclamam da lerdeza de Lula. Seja com um “alto lá”, “tenha paciência”, “para com isso” ou “dá licença”, cobra-se uma atitude de superioridade moral do ex-presidente sobre o atual titular do cargo.

Por outro lado, Lula é instruído por seus marqueteiros a não tocar no assunto. No jargão dessa turma, corrupção não é um “preditor” de voto positivo para o ex-presidente, que se beneficia mais da exploração daquilo que melhorou em seu governo.

Como o combate à fome está nesta lista de melhorias e o Lula foi o único a pular o tema, não é um exagero falar de apagão. Petistas costumam dizer que ele é bom de palanque e entrevista mas nunca se deu bem em debates. O que aconteceu no domingo, porém, foi mais do que inadequação de meio e mensagem.

Todo mundo sabia que Bolsonaro vinha com perguntas sobre corrupção. É o que lhe resta para reeditar o antipetismo de 2018. Lula havia sido treinado para responder sobre o tema no “Jornal Nacional”, mas recusou-se a passar por novo treinamento. E a dúvida é se recusou apesar de saber que no debate não haveria reconhecimento da anulação das condenações ou porque o sabia.

Todo o discurso de Lula sobre corrupção é matizado pela defesa moral de um ex-presidente vítima de uma injustiça. O candidato parece querer convencer o eleitor de que a corrupção, já admitida, não voltará a acontecer porque ele é, ao mesmo tempo, autor e avalista da promessa.

Nem o próprio Lula parece estar convencido disso. Tanto que, orador capaz de improvisos de duas horas, precisa de uma colinha para recitar cinco medidas de seu governo.

O eleitor está mais calejado do que nunca. Os que perderam parentes e amigos e enfrentam sequelas físicas e emocionais, tendem a rejeitar o governo de plantão. Os que perderam empregos e viram falir seus negócios, tendem a aprová-lo.

Não será fácil captar este eleitor que sobreviveu à pandemia com apelos morais. O combate à corrupção que lhe interessa é aquele que pode melhorar sua vida. Não basta rebater Bolsonaro da próxima vez que ele mentir sobre o veto ao “orçamento secreto”.

Lula vai remontar a CGU de Jorge Hage? A Controladoria Geral da União, que Lula cita como se todo mundo soubesse o que é, ganhou status de ministério em seu governo e, por oito anos, foi dirigida por Hage.

Prefeito biônico de Salvador pela Arena, deputado constituinte pelo MDB e juiz no Distrito Federal, Hage foi braço direito e sucessor do primeiro ministro da CGU, Waldir Pires, com quem montou o programa de fiscalização das prefeituras. As gestões sorteadas passavam por um pente fino. Seus relatórios, enviados para o Ministério Público Federal e para a Polícia Federal, geravam investigações que rastreavam os caminhos da dinheirama federal nas prefeituras.

A CGU de Hage começou a ser desmontada no governo Dilma Rousseff por pressões do Centrão ao PT. Antes de deixar o órgão, em 2014, Hage foi inflexível nas condições para os acordos de leniência das empreiteiras da Lava-Jato. Hoje a CGU é comandada por um lugar-tenente de Bolsonaro, conivente com os desmandos da gestão federal da pandemia.

O que restou da CGU de Hage permitiu o rastreio de informações que levou ao inédito bloqueio judicial de verbas do orçamento secreto no Maranhão, cujo desvio foi radiografado por Breno Pires na reportagem da Piauí sobre a cidade com 19 extrações dentárias por habitante. Com a retração da CGU, o Tribunal de Contas da União, com todas as suas alas, passou a tomar conta do pedaço.

Os petistas têm dito que uma vitória em 1º turno tornaria um eventual governo Lula menos dependente do Centrão. As negociações com o Congresso, porém, terão que acontecer, seja num 2º turno, seja sob novo governo do PT. E são relatórios como os da CGU que permitiriam ao Executivo retomar o controle sobre recursos destinados aos municípios via Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação ou SUS, por exemplo.

Uma história dessas todo mundo entende, assim como uma proposta de fortalecimento de delegacias da Polícia Federal relevantes para o cumprimento de seu programa de governo.

Nenhum candidato mencionou a palavra “indígena” no debate de domingo e apenas Lula citou a Amazônia - quatro vezes. Nenhuma delas, porém, para dizer como pretende coibir o garimpo ilegal, a grilagem de terras e o desmatamento.

O compromisso com o combate à corrupção não pode se restringir à lista tríplice do MPF. Fortalecer a delegacia da PF contra crimes ambientais, por exemplo, levaria o MPF a correr atrás, dando mais condições de trabalho aos parcos cinco procuradores da República que hoje atuam na área.

Nada disso vai prosperar no PT enquanto o tema continuar a ser guiado pela abordagem moral da corrupção, como defende a extensa banca de advogados que sustenta a candidatura Lula. É a existência de propostas concretas que pode destravar o bloqueio de Lula sobre o tema.

Não foi o primeiro. Em 14 de dezembro de 1989 aconteceu coisa parecida. Era o último debate daquela campanha. O ex-presidente Fernando Collor havia levado para o horário eleitoral gratuito a existência de Lurian, a filha fora do casamento de quem poucos amigos de Lula tinham conhecimento à época.

Seus assessores mais próximos tentaram prepará-lo para a possibilidade de o tema ser levantado por Collor no debate. Ele chegara ao ponto de levar Miriam Cordeiro, a mãe de Lurian, à TV para dizer que fora pressionada a abortar. Lula, porém, resistiu a ser treinado para responder sobre o tema.

Quando o debate começou, todo mundo esperava que Lula virasse a mesa para responder às seguidas investidas de Collor, mas o temor de que o assunto viesse à tona ali o bloqueou. A Globo acabaria por reconhecer ter pesado a mão favoravelmente a Collor na edição seguinte do JN. Já dá para concluir, 33 anos depois, que a edição piorou o que já era ruim. Até porque só faltam 28 dias para o próximo debate.

Nota "Brasil Soberano e Livre": Lula já foi condenado por corrupção por vários juízes diferentes e até em terceira instância judicial. O STF cometeu uma barbaridade jurídica ao cancelar suas penalidades por absurdas filigranas jurídicas. No Brasil pessoas com mais de 70 anos tem os seus prazos processuais reduzidos à metade. Os processos por corrupção que Lula ainda está respondendo estão prescrevendo e sendo arquivados. Não por sua inocência. Os ministros do STF que cancelaram as penalidades de Lula, mas não o inocentaram, foram em sua maioria indicados por Lula ou por Dilma que governaram o Brasil por 14 anos com uma enorme quantidade de casos de corrupção.

Valor Econômico

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