Publicado em 3 de maio de 2022 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
O último governo decente que o Brasil teve e deixou saudades foi o de Itamar Franco. Era vice-presidente, o país atravessava uma crise sem fim, iniciada no governo de Ernesto Geisel, com a súbita alta de preços pelo cartel dos produtores de petróleo. As dificuldades atravessaram as gestões seguintes, de João Figueiredo, José Sarney e Fernando Collor.
Quando houve o impeachment, Itamar Franco deu um ultimato ao Congresso. Disse que somente ficaria no governo se houvesse uma união nacional. Caso contrário, renunciaria. E o milagre aconteceu. Até o PCdoB apoiou Itamar, e somente o PT permaneceu na sua postura negativista, seguindo o lema atribuído ao anarquismo mexicano – “Se hay gobierno, soy contra”.
BONS TEMPOS – Itamar Franco fez uma gestão espetacular, que culminou com o Plano Real, lançado em junho de 1994 pelo então ministro da Fazenda, embaixador Rubens Ricúpero, substituído em setembro por Ciro Gomes, que abandonou o governo do Ceará com aprovação recorde nacional (74%), segurou na Fazenda o tranco da mudança da moeda e ficou até o final da gestão de Itamar.
Parece que foi ontem, mas está fazendo 30 anos que isso aconteceu. Foi um governo sem corrupção, podem acreditar. Quando surgiram rumores atingindo o chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, o presidente Itamar demitiu imediatamente o velho amigo e lhe disse: “Saia, prove sua inocência e depois volte para o mesmo cargo, pois vou mandar estender um tapete vermelho para recebê-lo”.
Foi exatamente o que aconteceu. Hargreaves provou ser inocente e reassumiu. Bons tempos. Éramos felizes, mas não sabíamos.
NAÇÃO CORROMPIDA – Trinta anos depois, tempos uma nação corrompida, que vai às urnas para escolher entre o presidente atual, um paramilitar enriquecido ilicitamente com rachadinhas e negócios imobiliários em dinheiro vivo, práticas que se tornaram tradição familiar, e um sindicalista também enriquecido ilicitamente, que comandou o maior esquema de corrupção da História e criou um cargo público de alta remuneração e mordomias exclusivamente para satisfazer a amante.
Esta é a chamada escolha de Sofia que o eleitor brasileiro terá de fazer, caso os partidos da chamada terceira via desprezem o exemplo de Itamar Franco e continuem sem apresentar uma chapa capaz de conduzir um governo de união nacional.
No momento, o óbvio ululante de Nelson Rodrigues nos indica que a candidatura alternativa mais viável é de Ciro Gomes, que conseguiu 12,47% dos votos em 2018 e tem condições reais de quebrar a polarização, especialmente se liderar uma chapa com Simone Tebet ou Eduardo Leite de vice.
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P.S. – Os brasileiros de boa vontade, que compõem a chamada maioria silenciosa, aguardam a definição da terceira via. Se o nome escolhido não for o de Ciro Gomes, o único que mostra ter alguma chance, será uma burrice colossal ou uma conspiração para eleger Lula ou Bolsonaro, dois políticos que já provaram não ter o menor merecimento. E vida que segue, diria João Saldanha. (C.N.)