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terça-feira, maio 03, 2022

Abraji lança primeira edição de relatório sobre ataques contra jornalistas no Brasil

Para marcar este 7 de abril, Dia do Jornalista, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) lança a primeira edição do relatório de monitoramento de ataques a jornalistas no Brasil, focado em 2021. O documento, que apresenta dados e análises gerais sobre episódios de violência contra jornalistas, comunicadores e meios de comunicação no país, é produto de um acompanhamento anual de restrições à liberdade de imprensa feito pela Abraji  nove anos. Desde 2019, o monitoramento passou a integrar a rede latino-americana Voces Del Sur, ganhando ajustes metodológicos e alcance continental, sendo publicado anualmente no Relatório Sombra regional.

Lançado em uma data importante para a imprensa brasileira, o relatório mostra que há pouco a ser celebrado: somente em 2021, foram registrados 453 ataques contra comunicadores e meios de comunicação. Em 69% dos casos, a agressão foi provocada por agentes estatais. O presidente Jair Bolsonaro (PL), sozinho, atacou a imprensa 89 vezes no último ano, ou seja, sozinho representa 19,64% do total de ataques. Somando isso aos ataques de seus ministros, assessores e filhos com mandatos eletivos, chega-se a 55% dos ataques totais. Quando apoiadores e manifestantes em eventos favoráveis ao presidente são incluídos na soma, o número chega a 271 – 60% dos registros totais.

Além de denunciar a participação de agentes políticos no quadro de violações à liberdade de imprensa, o relatório revela a piora desse cenário ao longo dos anos. Entre 2020 e 2021, por exemplo, os casos de agressão aumentaram 23,4%. De 2019 até os dias de hoje, esse aumento chega a 248,5%.

Assim como nos anos anteriores, os discursos estigmatizantes, que são agressões verbais que buscam desmoralizar o trabalho jornalístico, foram identificados como a principal forma de ataque, presentes em 74,6% dos alertas de 2021. Com frequência, essas agressões ganham contornos de violência sistemática nas redes sociais, iniciadas por figuras políticas e perpetradas por internautas. Não à toa, 62,5% dos casos tiveram origem ou repercussão na internet.

A segunda categoria de agressões mais recorrente no monitoramento foi a chamada “ataques e agressões”, que agrega ameaças, agressões físicas, destruição de equipamentos, entre outros, e representa 19% dos casos totais. Em seguida, há processos e sentenças judiciais (4,2%), restrições na internet, como hackeamentos e negação de serviços (2,6%), restrições de acesso à informação (2,4%) e uso abusivo do poder estatal (0,6%). Coberturas políticas e de temáticas relacionadas à pandemia de covid-19 estiveram fortemente relacionadas aos episódios de violência, principalmente quando as vítimas eram mulheres e profissionais LGBTQIA+.

O recorte de gênero foi um diferencial da pesquisa em 2021. A Abraji identificou 45 (9,9%) episódios em que os ataques foram realizados com base na identidade de gênero, sexualidade ou orientação sexual de jornalistas e comunicadores. Paralelamente ao acompanhamento de agressões gerais à imprensa e a seus profissionais, a Abraji realizou um monitoramento de violência de gênero contra jornalistas. O relatório desse projeto, que contou com o financiamento da UNESCO, foi lançado em 8 de março e está disponível on-line. Os dados sumarizados também podem ser encontrados na plataforma do projeto, em constante atualização.

Além de oferecer um panorama dos ataques contra jornalistas no Brasil, o relatório da Abraji também traz recomendações para lidar com o problema. As sugestões são direcionadas ao poder público, meios de comunicação, plataformas digitais e aos próprios profissionais, reunindo informações de segurança, orientações para políticas públicas, indicações de medidas institucionais e organizacionais e um apelo à necessidade de responsabilização dos agressores, especialmente quando são atores ligados ao Estado.

Sobre o monitoramento

Desde 2013, a Abraji acompanha e se manifesta a respeito das agressões sofridas por jornalistas e meios de comunicação em sua função de informar a sociedade. Esse trabalho contínuo ganhou uma nova configuração em 2019, quando a entidade passou a integrar a rede Voces Del Sur que reúne 14 organizações da sociedade civil e realiza o monitoramento de violações da liberdade de imprensa a partir de uma metodologia que acompanha os avanços dos países da América Latina em direção ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 16.10.1 da Agenda 2030 da ONU. Todos os resultados, inclusive os do Brasil, são documentados no Relatório Sombra publicado anualmente pela rede. Em 2021, a Abraji disponibiliza, pela primeira vez, seus achados em um relatório próprio.
 

Acesse o relatório completo


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