Carlos Newton
As Forças Armadas são como as religiões hindus do Oriente e também se dividem em castas. Para o presidente Jair Bolsonaro é eleitoralmente importante que conte com o apoio das classes militares inferiores, e ele trabalha incessantemente essa meta. Porém, como não estamos em ano eleitoral, hoje o fundamental é ter o respaldo dos oficiais superiores da ativa, aqueles que comandam as tropas.
Na situação caótica e surreal em que o país se encontra, para o presidente o que importa mesmo é o apoio do Alto-Comando das Forças Armadas e de cada uma das Armas, especialmente o Exército, cujo Alto-Comando funciona como instrumento não-declarado de poder.
SURGE UM COMPLICADOR – Com o fracasso no combate à pandemia, a linha política extravagante, a diplomacia submissa aos EUA e as atitudes nada republicanas do presidente da República, que incluem a guerra aberta contra a imprensa, o Alto Comando recolheu os flapes e jamais deu demonstrações de apoio a Jair Bolsonaro.
E agora a situação se complicou, devido à inconveniente, inoportuna e mal explicada compra de uma mansão pelo senador Flávio Bolsonaro no Lago Sul, região mais valorizada de Brasília foi uma espécie de gota d’água que decepcionou não somente todos os Altos-Comandos militares, mas também grande número de adoradores de Bolsonaro, que tentam transformar em qualidades os múltiplos defeitos do mito.
DESFAÇATEZ DO 01 – Os oficiais-superiores ficaram incomodados com a desfaçatez do filho 01 do presidente, que é acusado de prevaricação, lavagem de dinheiro e associação criminosa, com fartas provas, mas vem escapando da Justiça mediante uso de tecnicalidades processuais, sem a menor condição de comprovar sua inocência.
Ao invés de ficar quieto no seu canto, Flávio Bolsonaro exibiu uma imaturidade que mais parece um caso patológico de afronta à Justiça e à sociedade.
O pior foi quando souberam que o presidente tinha conhecimento e concordara com a compra da mansão, com escritura definitiva, apesar de nem ter ido feito o pagamento inicial pactuado, vejam como esse negócio fede a quilômetros de distância.
APOIO IMPOSSÍVEL – Para os militares de verdade, que se preocupam com os destinos da nação, está cada vez difícil apoio o tresloucado capitão e seus conselheiros terraplanistas.
Eles sabem que o dia 15 se aproxima, quando estarão concluídos os inquéritos sobre fake news e atos antidemocráticos, cujas investigações chegaram ao gabinete do ódio, que funciona no terceiro andar do Planalto, junto às salas do presidente da República.
Os chefes militares da nação, podemos ter certeza, lembram o slogan do almirante Francisco Barroso e esperam que o ministro Alexandre de Moraes tenha a coragem suficiente para pedir a abertura de processo contra o presidente da República, pois a provas contra ele são abundantes.
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P.S. – Enquanto esperamos o dia 15, que cai numa segunda-feira, la nave va, cada vez mais fellinianamente. (C.N.)