Carlos Newton
Durante anos e anos, desde a gestão de Fernando Henrique Cardoso, criticava-se a política de fixar os mais elevados juros reais do planeta, sem que as autoridades monetárias tomassem providências. A desculpa era sempre a mesma – os juros tinham de ser mantidos altos, para forçar a inflação a cair. Foi uma política verdadeira criminosa, que deixou claro a influência que os grandes beneficiários – os banqueiros – sempre exerceram sobre os sucessivos governos.
Devido a essa política verdadeiramente suicida, conseguiu-se inviabilizar o crescimento do país subdesenvolvido que tinha – e ainda tem – o maior potencial de desenvolvimento, com as mais extensas terras agricultáveis, maior volume de água doce, ricas reservas minerais, grande mercado interno, indústria diversificada e autossuficiência em petróleo e geração de energia.
UM GRANDE FEITO – Neste início de 2020, a economia ainda está em estagnação, mas já se pode comemorar um grande feito do governo – a queda da taxa de juros, depois de décadas de uma política verdadeiramente irresponsável, atribuída aos monetaristas do tipo Paulo Guedes.
Embora a inflação tenha sido contida, o resultado colateral dos juros excessivos foi arrasador, criando a dívida pública impagável e consagrando o “rentismo”, expressão criada por Karl Marx e Friedrich Engels para denominar um fenômeno que ainda nem existia naquela época (cerca de 170 anos atrás) – o capitalismo sem risco, que rende juros sem criar empresas e abrir empregos, explorando apenas o capital pelo capital.
Agora, com a mão firme de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central e maior revelação da economia brasileira, porque quem sai aos seus não degenera, o rentismo está quase acabando, embora os juros ainda sejam positivos, de 4,25% para uma inflação de 2,69% no IPCA.
MERCADO ENLOUQUECEU – Com os juros em queda, os rentistas foram sendo levados à loucura. Primeiro, correram para a Bolsa de Valores, que teve a maior valorização de todos os tempos. Economicamente, porém, tornou-se um castelo de cartas, sem maior sustentação. Impulsionado pelos rentistas, o índice Bovespa rapidamente dobrou, como se todas as sociedades anônimas brasileiras estivessem dando sucessivos saltos de produtividade – e em todos os setores. Por isso, o crescimento foi apenas uma bolha, como se diz atualmente.
De repente, o sonho da Bolsa acabou, diria John Lennon. E os rentistas agora correram para o dólar. Com a alta, os exportadores brasileiros vivem momentos de grande felicidade, enquanto os importadores entram em desespero.
Mas tudo tem limite, o dólar não vai continuar subindo sem parar. Nesse tipo de “aplicação”, uns ganham e outros perdem, é igual à corrida de cavalos.
A GRANDE LIÇÃO – Mas que lição vamos tirar de tudo isso? Bem, o próximo sonho será o mercado imobiliário, que já começou a se recuperar. Mas não é tão simples assim, torna-se necessário existir cada vez mais compradores.
A grande lição é que chegará um dia em que os rentistas terão de novamente se transformar em capitalistas à moda antiga. É melhor aplicar em algum empreendimento real e criar uma empresa, seja comércio, indústria ou serviços. do que deixar o dinheiro ser corroído nos bancos, porque os juros negativos não tardam a bater em nossa porta, se deixarem Roberto Campos Neto fazer o trabalho dele, sossegado.
Com isso, o Brasil voltará rapidamente a crescer, abrindo empregos e diminuindo a desigualdade social, como num passe de mágica. Você não acredita? Então continue colocando dinheiro na bolha da Bolsa, invista em dólares ou compre imóveis e depois tente alugá-los, para não entrar no prejuízo pagando condomínio e IPTU.
###
P.S. – O mais incrível é que tudo isso pode acontecer sem Bolsonaro e Guedes fazerem nada. Basta que não atrapalhem. É curioso. A vida tem dessas coisas. (C.N.)
P.S. – O mais incrível é que tudo isso pode acontecer sem Bolsonaro e Guedes fazerem nada. Basta que não atrapalhem. É curioso. A vida tem dessas coisas. (C.N.)