Mônica Bergamo
Folha
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A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP), coautora do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), avalia que o insulto do presidente Jair Bolsonaro à repórter da Folha Patrícia Campos Mello foi “um ato de inegável grosseria” e que “todo ser humano pode se esforçar para melhorar”.
“Seria prudente o presidente se policiar e seus auxiliares não o instigarem. Essas situações não ajudam ninguém. Por mais que ele tenha sido eleito com esse estilo, todo ser humano pode se esforçar para melhorar”, afirma Janaina. Para ela, porém, a fala de Bolsonaro “não parece suficiente para um impeachment”.
CRÍTICAS – Eleita com recorde de votos pelo PSL, partido que elegeu o presidente, Janaina foi umas das principais apoiadoras de Bolsonaro durante a campanha, mas tem feito críticas pontuais à sua administração desde então.
“Ele tem esse jeitão, não se policia, reitera na prática das grosserias”, disse ela em entrevista à BBC News Brasil. A deputada, no entanto, afirma que não vê ofensa de Bolsonaro à jornalista Patrícia Campos Mello como ataque à imprensa, mas como “algo pontual”.
ALVO – Janaina Paschoal também já foi alvo de ataques nas redes sociais, tanto por ser a autora do pedido de impeachment de Dilma quanto por criticar Bolsonaro em 2019.
“Eu não gosto desse discurso meio vitimista do machismo. Eu sou atacada por me manifestar livre e claramente e por não me submeter a ninguém. Não descarto que haja uma indignação maior por eu ser mulher. Mas creio que o que incomoda mais é a independência. Na luta entre gangues, apanha mais quem anda sozinho.”
“CARONA” – Diversos apoiadores de Bolsonaro têm acusado a deputada de “ter pego carona” na popularidade de Bolsonaro e agora abandoná-lo. “Ontem (segunda-feira), fiz uma postagem crítica ao bolsonarismo e apanhei o dia todo. Eles não entendem que não nos ajudam a ajudar”, diz a deputada. No Twitter, ela disse que quem a acusa de traidora “ou não tem memória, ou tem problema de cognição”.
“Na convenção do PSL, eu disse, olhando nos olhos do então candidato à Presidência, ser fiel ao Brasil e não a ele pessoalmente. Disse que o apoiaria em razão de, naquele momento, ele ser o único com condições de vencer o PT. Se os bolsonaristas fossem inteligentes, não atacariam quem apoiou e apoia o presidente deles.”
“FURO” – Na manhã desta terça-feira, dia 18, Bolsonaro insultou a jornalista Patrícia Campos Mello com insinuação sexual. “Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim [risos dele e dos demais]”, disse o presidente, em entrevista diante de um grupo de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada.
A declaração do presidente foi uma referência ao depoimento de um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, dado na semana passada à CPMI das Fake News no Congresso.
O depoimento à comissão foi de Hans River do Rio Nascimento, que trabalhou para a Yacows, empresa especializada em marketing digital, durante a campanha eleitoral de 2018.
FRAUDE – Em dezembro daquele ano, reportagem da Folha, baseada em documentos da Justiça do Trabalho e em relatos do depoente Hans, mostrou que uma rede de empresas, entre elas a Yacows, recorreu ao uso fraudulento de nome e CPFs de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.
Já na CPMI, diante de deputados e senadores, ele deu informações falsas e insultou Patrícia, uma das autoras de reportagem sobre o uso fraudulento de nomes e CPFs para permitir o disparo de mensagens.